Prepare o bolso que o fim de ano vem aí e a alta acumulada pela carne bovina ao longo deste ano (6,8% até setembro) não vai dar refresco durante o período de celebrações e de 13.º salário, forçando a inflação desse e de outros alimentos que reinam nas mesas dos brasileiros. Como para muitos apreciadores dos cortes bovinos, congelar a carne por alguns meses não parece a melhor opção, o jeito é garimpar promoções e endereços de compra onde os preços do produto “fresco” são mais interessantes do que a média ofertada.
E nesse aspecto, a sabedoria popular pode indicar caminhos. No centro da cidade, quase em frente ao maior terminal de ônibus da capital, a Praça Rui Barbosa, as filas habitualmente formadas no Carnes Regina sinalizam alguma vantagem oferecida pelo estabelecimento. E, realmente, o equilíbrio entre qualidade e preço do produto parece justificar as filas formadas. Em média, o quilo dos cortes bovinos é pelo menos R$ 1 abaixo do preço médio praticado. Para se ter uma ideia da política de preços, o quilo da carne moída de primeira foi reajustada nesta semana de R$ 8 para R$ 10. “Mesmo com a arroba do boi vendida pelo produtor acima dos R$ 120, seguramos o preço até agora. E mesmo com a elevação o pessoal segue comprando porque somos competitivos”, explica o proprietário do açougue, Vilmar Agottani.
Ele garante baixo preço todo dia e qualidade graças a forma de conduzir o negócio. “O estabelecimento existe há 60 anos, mas eu adquiri faz 13 anos, graças a minha experiência no atacado. E de lá para cá, o faturamento aumentou em 90% porque enxuguei todos os custos do negócio já que trabalhamos em uma margem bem apertada”.
Um exemplo desse saneamento financeiro está nas opções de pagamento. Ele não aceita cartão de crédito, nem cheque, para eliminar riscos de inadimplência e as taxas cobradas pela operadora do cartão.
No que se refere a qualidade das carnes, o alto consumo garante cortes frescos, pois diariamente a mercadoria é reposta. “Tenho duas câmaras frigoríficas e meus fornecedores reabastecem fora do horário de funcionamento”. São vendidos 3,5 mil quilos por dia sendo que os cortes bovinos representam 55% disso, seguidos por aves e suínos.
Sem perdas
Outra estratégia é comprar o chamado boi casado, que significa adquirir os quartos traseiros, dianteiros e a ponta de agulha. “Não há perdas. Comercializamos todos os cortes, ponta de peito, lombo agulha, etc”. Ele acha que o apetite do consumidor de agora até o final do ano deve sustentar os preços elevados, mas garante que no seu negócio não se trabalha com esse tipo de estratégia. “A arroba da carne já subiu tanto que o produtor não deve elevar mais, fazendo com que não tenhamos mais necessidade de aumento. E, se isso se confirmar, os preços do meu estabelecimento não devem variar mesmo na época das festas”, garante.
Segundo Vilmar, essa forma de administrar o negócio não garante apenas a renda da sua família e de seus funcionários. “Mais da metade das 600 pessoas que passam diariamente aqui compram agradecendo e desejando que Deus sempre nos abençoe em função do nosso preço ser muito mais acessível”.
Se subir mais o povo troca
Entre os especialistas, a escalada de preços da carne tende a se manter em um patamar elevado por conta do consumo, mas não há espaço para grandes surpresas. “A carne bovina subiu 6,80% até setembro, mas se comparamos os últimos 12 meses ela ficou o dobro da inflação registrada no período”, aponta o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (Dieese), Sandro Silva.
“Ou seja, não há mais tanto espaço para subir, porque o consumidor acaba diminuindo o volume e substituindo por frango ou cortes suínos&rd,quo;, avalia o economista.
O médico veterinário do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), Fábio Mezzadri, responsável por acompanhar o setor de carne e leite, também acredita que o valor da carne deve aumentar pouco até o final do ano.
“Com o retorno das exportações para a Rússia e a menor produção de gado por conta da baixa rentabilidade nos últimos anos, houve um enxugamento da oferta para o mercado nacional, que provocou esse aumento de preço. Mas esse patamar não deve ter grandes alterações até o fim do ano”, atesta.
Na ponta do lápis
Experiente em pesquisar e procurar lugares que oferecem melhores preços, a técnica de enfermagem Tânia Martinez Lopes, 42 anos, vem do Boqueirão para o Centro quando quer comprar carne bovina.
“Só assim consigo deixar em R$ 800 o gasto com alimentação para mim, meu marido e dois filhos”, aponta. E apesar dos sustos com os novos preços ela diz que não há como substituir. “Lá em casa, refeição sem carne não é refeição”, comenta.