Pratini: não é difícil achar vírus no vinho.

Rio  – O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, sugeriu ontem que o Brasil reduza importações da Europa na mesma proporção das perdas que deverá sofrer nas exportações de frango para a região. A partir da semana que vem, aumenta de 15% para 75% a tarifa de importação do produto brasileiro, conforme decisão da União Européia. A represália foi sugerida caso a medida não seja revertida. A elevação das tarifas decorreu de uma mudança de classificação do produto, conforme o teor de sal do frango, o que foi considerado como uma “manobra protecionista” pelo ministro. O Brasil exporta cerca de US$ 400 milhões de frangos ao ano apenas para países europeus e já recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a decisão, que pode ser ainda, objeto de negociações diplomáticas, admitiu Moraes.

“Cada vez que o País aumenta sua participação no mercado tem alguma restrição. Faço votos para que a negociação diplomática seja bem sucedida”, disse Moraes, que participou ontem do segundo dia do 22.º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex). Na avaliação do ministro, surpreende que a decisão surja em meio às negociações comerciais em curso justamente entre o Mercosul e a União Européia. Para o diretor-executivo da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, trata-se, na prática, de uma barreira não-tarifária. “Bastou o frango brasileiro conquistar espaço e eles cortam o ?mal? pela raiz”, comentou. O ministro também informou que uma missão técnica brasileira embarcará para a Europa, nos próximos dias, para conhecer os critérios laboratoriais da União Européia. O objetivo é checar se há veracidade nas afirmações de técnicos da UE de que o Brasil estaria enviando produtos para países europeus com antibióticos proibidos.

“Se os critérios laboratoriais deles forem eficientes, podemos até implantar similares no Brasil, mas não queremos ser vítimas de protecionismo sanitário”, ponderou o ministro. “Nós também podemos ser protecionistas, se quiser encontrar um vírus numa rolha de vinho francês, encontro em cinco minutos”, disse Moraes.

Alca

O ministro defendeu avanços nas negociações da Alca, mas ressaltou que devem ser permitidos apenas caso ocorram negociações na agricultura. “Estou terminando o meu mandato e quero reiterar apelos especialmente ao setor privado. Temos que negociar a Alca, colocando a agricultura em primeiro lugar. Se os Estados Unidos não quiserem negociar não tem Alca, mas não podemos definir isso previamente. Mas se não negociarem a agricultura não tem Alca e sem o Brasil o bloco não existe.”

Para este ano, o ministro prevê que o saldo da balança comercial do agronegócio deverá atingir US$ 20 bilhões. Até setembro, o saldo já estava em US$ 14,6 bilhões. E voltou a criticar os que afirmam que as exportações do setor vêm sendo beneficiadas pelo câmbio. “Câmbio não ajuda exportação, mas apenas diminui importação. E com esse ?overshooting? os custos das exportações são elevados e há um efeito interno nocivo da sobrevalorização do dólar, como aumento da inflação”, disse.

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