Responsável pelo desenho do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) lançado nesta semana pela presidente Dilma Rousseff, o economista-chefe do Ministério do Planejamento, Manoel Pires, defendeu seu plano e disse que o governo criou barreiras de governança para evitar que empresas que não precisem do subsídio para sustentar os trabalhadores se aproveitem do programa para reduzir os custos.

continua após a publicidade

Nessa rede de segurança que foi desenhada no programa, está a exigência que a empresa pague o INSS e o FGTS sobre a parcela do salário que será complementada pelo governo. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Pires defendeu o programa e disse que não há risco para as contas públicas. A seguir os principais pontos da entrevista:

Ajuste fiscal

“O programa está na direção de promover políticas ativas de sustentação do emprego, diz o economista. “O seguro-desemprego, abono salarial, que correspondem a mais de 95% do total de despesas do FAT, são políticas passivas para depois que o trabalhador foi demitido. Começamos a estudar o programa em 2012. Na época, houve algumas questões que não avançaram e, desde então, temos estudado formas de melhorá-lo e viabilizá-lo. É um mecanismo que permite em determinadas circunstâncias uma redução temporária da jornada de trabalho e uma redução dos salários. É um subsídio do governo para que trabalhadores e empresários negociem em acordo coletivo a redução da jornada. Ele permite ajustar o ciclo de produção à queda da demanda.”

continua após a publicidade

Custo do programa

“Quando o governo anunciou o PPE, parecia que todo mundo ia reduzir jornada e que isso ia ter um custo. Na verdade, não é simples a empresa e os trabalhadores fecharem um acordo coletivo para reduzir salário e jornada. Para debater o custo fiscal, é importante ter claro o universo de pessoas que está sendo alvo. O que temos hoje mais parecido com o PPE é o lay-off (licença remunerada em que o trabalhador recebe o seguro-desemprego). Na crise financeira, tivemos 20 mil trabalhadores envolvidos no lay-off. Em 2014, quando a atividade já tinha desacelerado, chegamos a 17 mil. O público-alvo não tende a ser da ordem do seguro-desemprego.”

continua após a publicidade

Para Pires é mais barato “manter o emprego do que pagar o seguro-desemprego”. “E só com o fato de manter o trabalhador empregado, mantemos a arrecadação do INSS. Como estamos reduzindo a jornada, o salário cai para 70% e o governo complementa 15% do total. A empresa continua pagando a contribuição à Previdência. Isso paga o subsídio do governo. A alternativa seria mandar o trabalhador embora e o governo perder essa arrecadação.”

Sobre a preocupação fiscal, o economista responde que “no aspecto geral, a gente economiza”. “Nós estamos passando por um período de ajuste fiscal em que temos de reduzir e revisar as despesas. Isso já está sendo feito.”

Questionado sobre a demora do governo para lançar o programa, Manoel Pires responde que “havia um pouco de insegurança em relação à modelagem e avançamos na questão da governança. Há firmas que têm dificuldades financeiras e seriam propensas a entrarem no PPE. Mas há outras que poderiam entrar sem fazer parte do público-alvo. Criamos um mecanismo de governança para acertar isso. O primeiro é o acordo coletivo. O segundo é a exigência que a empresa pague o INSS e FGTS sobre o complemento que é feito pelo governo. Essa regra faz com que só aquelas empresas que precisam realmente façam a adesão ao programa. Cria uma barreira de entrada para as empresas que não estão passando por dificuldades e que poderiam ter interesse de entrar no programa só para reduzir o custo trabalhista. O rigor de critérios de elegibilidade e justificativa da necessidade das firmas que estamos exigindo, instituição do acordo coletivo que estamos pedindo. Estamos exigindo um plano de recuperação, compromisso de não demitir”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.