Em um mundo com Tesouro Direto, CDB, LCA, LCI, CRA, CRI e toda essa sopa de letrinhas, a concorrência ficou dura para a “vovozinha” dos investimentos conservadores, a caderneta de poupança. Para quem tem dinheiro aplicado na poupança e ainda está sujeito às regras antigas do investimento – que mudaram há pouco mais de sete anos -, o produto está ficando cada vez mais atraente nesse momento de cortes na Selic, a taxa básica de juros.

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A caderneta de poupança “velha” vale para quem mantém o dinheiro aplicado desde antes de 3 de maio de 2012, quando passaram a valer as novas regras de rentabilidade. A mudança entrou em vigor para proteger os demais títulos e fundos, como o Tesouro Direto, todos indexados à Selic.

A poupança até então trilhava caminho próprio, com margem fixa de 0,5% ao mês, acrescida da Taxa Referencial (TR). Após as mudanças, todas as vezes que os juros básicos caíssem abaixo de 8,5% ao ano, o retorno ficaria em 70% da Selic, mais TR.
Para se ter uma ideia do que é ter uma poupança velha na cesta de investimentos, a variação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) em 12 meses foi de 6,19% – só que o investidor precisa pagar ao menos 15% de IR no resgate. Já a caderneta antiga chegou a 6,17% no mesmo período, livres de tributos.

Na comparação com opções de renda fixa, ela paga o equivalente a um CDB com retorno líquido de 120% de CDI. A reportagem pesquisou os CDBs à venda na plataforma do Yubb e não achou nenhuma opção parecida. No site do Tesouro Direto, o IPCA + 2045, rende 6,2% ao ano, mas é preciso descontar 15% de IR no saque.

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“Não existe em lugar nenhum um produto melhor do que a poupança velha nem no mercado nem aqui no banco”, afirma o diretor de investimentos do Itaú Unibanco, Cláudio Sanches. “Quem tem essa poupança, não deve se desfazer desse dinheiro”, afirma.

O Banco Central (BC) não informa quanto de dinheiro está hoje aplicado na poupança velha. Sanches, contudo, estima que a proporção gire em torno de 20%, ou cerca de R$ 165,4 bilhões. O saldo total da poupança hoje é de R$ 827 bilhões.

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Para os especialistas, quem tem esse investimento sabe de seu potencial e não mexe nos recursos. “Aqui no Itaú, dos R$ 125 bilhões administrados da poupança, R$ 20 bilhões são de caderneta velha. São pessoas mais velhas, às vezes com valores altos. Eles não sacam esse dinheiro”, diz Sanches.

O advogado Fábio Hastenteufe, de Venâncio Aires (RS), tem 33 anos e é dono de uma dessas cadernetas antigas. Ele começou a poupança aos 4 anos, como presente dos pais. Sabe que todo e qualquer dinheiro que tirar de lá não terá o mesmo ganho na renda fixa. “Não quero colocar minha mão nesse dinheiro. É uma grande vantagem hoje em dia”, diz.

Caso Hastenteufe tivesse sacado o aplicação para realocar o valor em um CDB de 100% de CDI logo em 2012, hoje teria um retorno acumulado de 84,1% em juros compostos. Com a poupança, essa rentabilidade é de 65,04%.

No entanto, o planejador financeiro José Raymundo de Faria Júnior, da Planejar, diz que isso não vem ao caso. “Daqui pra frente a Selic vai cair mais, pode chegar a 4%, e a diferença da poupança velha para os outros produtos crescerá ainda mais.”

Investimento ‘pop’

Atualmente, a poupança nova, que é a caderneta aberta a todos os investidores atualmente, rende 3,85% ao ano, ou pouco mais do que a inflação, que está na casa dos 3,42% ao ano, segundo o último Boletim Focus do BC. A tendência é de queda constante nesse índice, já que se espera um novo corte da Selic no dia 30 de outubro.

“Como produto, existem atualmente no mercado, opções mais sofisticadas, tão seguras quanto a caderneta, que exigem um investimento inicial pequeno, mas que buscam uma rentabilidade melhor, e possuem liquidez imediata”, afirma a professora de economia da ESPM Paula Sauer.

A professora, no entanto, pondera para a importância da caderneta como porta de entrada para o universo dos investimentos. Segundo a Anbima, 8 entre 10 investidores são adeptos da poupança. “A caderneta, como ‘avó’ dos investimentos, criou em muitos brasileiros o bom hábito de poupar. Em outras palavras: deixar de consumir para guardar dinheiro.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.