JUROS

Possível elevação da Selic não garante refresco para inflação

Uma elevação do ritmo de alta da taxa Selic na semana que vem, de 0,5 para 0,75 ponto porcentual, não garantiria necessariamente que as expectativas de inflação sejam revertidas. É o que avalia o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho. Para ele, parte significativa da deterioração das expectativas de inflação é, sobretudo, consequência do contexto atual do cenário internacional.

A influência do que ocorre na economia externa sobre as expectativas de inflação ganha relevância na avaliação de Velho porque, a despeito da introdução pelo Banco Central de medidas macroprudenciais – concentradas em redução de prazos de financiamento e elevação do compulsório – e da elevação da taxa básica de juros em janeiro, os analistas continuam projetando maiores altas de preços. Ele lembra que, além das medidas adotadas pelo Banco Central, o governo anunciou também o corte no orçamento fiscal e nem assim as expectativas de inflação para 2011 e 2012 foram revertidas. Ao contrário, a mediana das expectativas em relação ao IPCA para este ano subiu na última Focus pela 11ª vez consecutiva e já projeta alta de 5,79%. A mediana das previsões para 2012 está em 4,78%.

De acordo com cálculo estatístico feito pelo economista da Prosper, “o diferencial da expectativa de inflação em relação à meta central é o principal componente para o ajuste da taxa básica de juros”. Para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem, ele espera o anúncio de um aumento de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, levando a Selic dos atuais 11,25% ao ano para 11,75% ao ano.

De acordo com Velho, se for sancionada uma alta de 0,75 ponto porcentual – porcentual que é esperado na pesquisa do AE Projeções por três instituições financeiras -, “o mercado poderá comprar a tese de que pelo menos teremos mais uma ou duas reuniões (em abril e junho) em que a Selic aumentaria 0,75 ponto Esse ajuste poderá repercutir de forma mais acentuada na atividade econômica no segundo trimestre, com o custo de elevar a variância do crescimento do PIB trimestral.”

Nesse cenário pesa ainda, segundo Velho, o efeito das preocupações em relação à interrupção ou redução da produção de petróleo por países produtores no Oriente Médio. A pressão se daria na esteira de um desfecho da crise da Líbia desfavorável ao governante líbio, Muamar Kadafi. “Com maior probabilidade de derrota do ditador líbio, os levantes democráticos em outros países árabes seriam intensificados, mantendo as preocupações sobre interrupção ou redução da produção de petróleo e sobre ameaças de instabilidade militar no Oriente Médio. Haveria mais pressão para ajustar o preço da gasolina e, portanto, pressão também sobre as projeções de inflação”, afirma.

O economista explica ainda que a dinâmica recente da inflação brasileira, que possui componentes inerciais vinculados ao ritmo de crescimento do ano passado e elevados índices de preços, reflete também elementos sazonais de reajustes e de choques externos de commodities.

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