Os trabalhadores portuários avulsos do Porto de Santos pretendem continuar a bordo do navio Zhen Hua 10, atracado no Terminal da Embraport, nas proximidades da Ilha Barnabé, até que os representantes da empresa entrem em acordo com os sindicatos e requisitem profissionais junto ao Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), para que as operações de retirada dos equipamentos não sejam feitas exclusivamente pelos trabalhadores chineses, que se encontram na embarcação. O protesto começou na madrugada de segunda-feira (18), quando cerca de 50 portuários invadiram o navio procedente de Xangai, na China.
O cargueiro, que chegou ao terminal santista na sexta-feira, trouxe três portêineres, que são equipamentos utilizados para a remoção de cargas dos navios e 11 transtêineres, que servem para movimentar as cargas já desembarcadas. A previsão era de que o trabalho se estendesse por 22 dias. Em nota distribuída à imprensa, a Embraport informa que os equipamentos serão utilizados em seu terminal que ainda está em obras e que, portanto, não se trata de movimentação de cargas.
De acordo com a empresa, o desembarque e a montagem dos equipamentos deve ser feito pelo fabricante, conforme exigência contratual do fornecedor. A Embraport esclarece ainda que mantém contato com as entidades representantes dos trabalhadores e cumpre rigorosamente a legislação vigente.
Para o presidente do Sindicato dos Estivadores, Rodnei de Oliveira da Silva, “a manifestação nada mais é do que a defesa do mercado de trabalho dos avulsos, que se encontra cada vez mais escasso”. Durante o protesto, os cerca de 60 manifestantes reclamaram da falta de água e de comida e que uma embarcação que trazia gêneros alimentícios para os trabalhadores foi impedida de subir até o navio por um bloqueio feito pela Capitania dos Portos.
Depois de permanecerem toda a madrugada de terça-feira no interior do Zhen Hua, os trabalhadores receberam um galão de água de 20 litros fornecido pela Embraport. “O pessoal bebeu água quente como se estivesse no deserto, porque o calor estava insuportável”, afirmou o vice-presidente do Sindicato dos Operários Portuários, Claudiomiro Machado.
O Zhen Hua 10 partiu de Xangai no dia 13 de dezembro, realizando uma viagem de mais de 20 mil quilômetros, trazendo os equipamentos que serão utilizados no novo terminal, que deve ser entregue ainda neste semestre. Quando estiver funcionando, terá capacidade para movimentar 2 milhões de contêineres e 2 bilhões de litros de produtos líquidos por ano.
Na manhã de segunda-feira, o presidente da Força Sindical e deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT) fez questão participar da ocupação do navio, destacando que a manifestação era um ato de protesto dos trabalhadores, “em defesa do seu mercado de trabalho”, porque eles perceberem que os chineses estavam trabalhando para descarregar os equipamentos, sem a requisição de trabalhadores brasileiros, o que considera ilegal. “Eles vieram trazer os equipamentos e já trouxeram também a mão de obra chinesa, que não tem autorização para trabalhar no Brasil”, denunciou, manifestando-se contrário à Medida Provisória 595, conhecida como MP dos Portos, que propõe alterações nas relações de trabalho nos portos brasileiros.