Brasília
(AG) – Os institutos de pesquisa de preços comprovam que o fantasma da inflação ainda não deu a trégua que os índices aparentam demonstrar. Examinando atentamente os produtos e serviços que compõem o chamado núcleo da inflação, vê-se que alguns setores insistem em reajustar preços. Ao se retirar as reduções e os aumentos extraordinários de hortigranjeiros, combustíveis e outras tarifas, constata-se que, na verdade, o índice subiu.Daí a dificuldade da população em perceber no dia-a-dia a propagada queda nos preços. Segundo os núcleos calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Fipe, continuam a pressionar os índices artigos de limpeza, produtos de higiene, itens industrializados e transportes públicos urbanos.
Resistência
A resistência desses preços vem sendo mascarada pela queda dos hortigranjeiros e dos combustíveis. Como os preços desses produtos recuaram, cria-se a falsa impressão de que a inflação como um todo estaria debelada.
O economista-chefe do Banco Boreal, Elson Telles, afirma que não há apenas um grupo de vilões, mas uma pressão generalizada em função, principalmente, da alta do dólar até o início deste ano:
“Se o núcleo mostra uma alta, é porque ainda estão disseminadas as pressões inflacionárias”, disse Telles, para quem os núcleos devem ficar entre 0,9% e 1% em maio.
O presidente da Fipe, Heron do Carmo, também aponta o dólar como responsável por essa alta. A Fipe calcula sua metodologia por exclusão: não considera combustíveis e tarifas públicas. Já a FGV retira 40% dos produtos analisados no índice cheio para chegar ao núcleo. Os itens que saem do cálculo são aqueles que tiveram as maiores altas e as quedas mais significativas no período.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é um exemplo. Em abril, ele ficou em 0,97%, contra 1,23% em março. Mas seu núcleo ficou acima do índice cheio: 1,1%, segundo o cálculo da FGV (médias aparadas). Segundo técnicos do governo, esse movimento indica a presença e a disseminação de pressões inflacionárias.
Já pelo método de exclusão, usado pela Fipe (excluindo preços de alimentos e preços administrados e monitorados), o núcleo recuou de 1,13% em março para 0,81% em abril.