Supermercados saqueados no Rio de Janeiro, prateleiras vazias, alimentos estragados, pacientes morrendo em hospitais por falta de medicamentos, caminhões em chamas, Brasília sitiada e um golpe de Estado em curso.

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Assim foi a segunda-feira, 28, de acordo com imagens, áudios e mensagens recebidas pelo WhatsApp da dona de casa Lenir de Almeida Marques. “A gente tem medo. Fica o dia inteiro com medo. Quando recebo esse tipo de mensagem, eu repasso para os conhecidos. É preciso estar preparado.”

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Se nas manifestações de 2013 (jornadas de junho) e 2015/2016 (impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff) as pessoas expressavam “indignação” em suas redes sociais ou conversas privadas, o sentimento que parece ganhar protagonismo, com a greve dos caminhoneiros e seus desdobramentos, é bem diferente. O sentimento da vez é “medo”.

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Para o psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Daniel Martins de Barros, o medo ganhou protagonismo porque eventos como estradas bloqueadas e a hipótese de desabastecimento nos mercados mexem com nosso maior temor: o da morte. “O medo é lucrativo. Funciona como um alarme que toca toda vez que nossa sobrevivência corre algum risco. Esse é o caso agora”, disse.

Segundo Martins, o medo faz com que as pessoas tenham respostas irracionais e instintivas. “A civilização é uma casca frágil. O medo é o nosso sinal de alerta. Neste caso, as pessoas estão espalhando notícias falsas, fazendo fila para abastecer seus carros, fazendo fila nos supermercados…”

Nos últimos dias, imagens de saques nos supermercados venezuelanos foram compartilhadas como se estivessem acontecendo no Brasil; cenas das manifestações de junho de 2013 foram usadas como se tivessem sido captadas ontem; e um caminhão incendiado em 2015 transformou-se em exemplo de radicalização dos caminhoneiros ou sabotagem do governo.

A produção desses boatos pode até ter nascido de fontes mal-intencionadas, com interesses específicos em seus desdobramentos políticos. Mas o que faz esse tipo de notícia ganhar corpo nas redes sociais e no WhatsApp é uma verossimilhança com a realidade ou com aquilo que as pessoas imaginam que pode vir a acontecer. “Nesse contexto, tem muito de inocência. As pessoas estão fragilizadas e o País sem confiança. Então, não se dão ao trabalho de checar ou ponderar”, disse Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina.

Essa é a mesma linha de raciocínio do psicólogo Nelson Destro Fragoso (Mackenzie). “Neste momento, a tendência é a exacerbação de uma visão catastrófica. O medo é uma espécie de alavanca motivacional que pode mobilizar ou imobilizar – depende das circunstâncias.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.