A pomba, que para muitos é símbolo de paz, virou sinônimo de desgraça para produtores do Noroeste do Paraná. A ave dizimou lavouras inteiras de girassol e causou um prejuízo estimado em R$ 1,5 milhão. Agora ela se torna uma ameaça para a safra de soja que começa a ser plantada nos próximos dias. Os produtores aguardam uma alternativa dos órgãos ambientais para o controle da praga, pois a caça e abate não são permitidos.
O plantio do girassol foi estimulado na região de Maringá como uma opção de cultura de inverno, resistente a diversidades climáticas e que daria maior rentabilidade à propriedade. As áreas plantadas atingiram 1.197 hectares, sendo que a expectativa era colher cerca de 85 sacas por alqueire. Além da extração do óleo de alta qualidade para o consumo, os produtores iriam investir em um projeto de biocombustível. Porém, o que eles não esperavam era contar com a presença maciça da pomba amargosa (Zenaida auriculata), que foi responsável por um prejuízo médio de 60% do total cultivado.
De acordo com o gerente da área ambiental da Cooperativa Agroindustrial Cocamar, Osvaldo Danhoni, a manifestação da pomba já tinha sido registrada em outras épocas, mas nunca com a intensidade como a que ocorreu agora. Segundo ele, a ave é migratória, e como encontrou alimento farto na região, veio em bando e consumiu até as sementes que foram jogadas depois do início do plantio na tentativa se amenizar os prejuízos. Com a esperança de espantar as pombas, muitos produtores soltavam fogos de artifício ou instalavam sacos plásticos e espantalhos em meio a produção. Alguns até percorreram as lavouras com motos. Mas nada disso resolveu o problema, e pior, pode até ter contribuindo para o aumento da população, já que quando colocadas em situação de estresse, as pombas aumentam a postura de ovos.
Soja
Depois da grande decepção com a safra, alguns produtores afirmam que não voltarão mais a cultivar girassol. É o caso do produtor Jaciro Marins Júnior, que investiu R$ 15 mil em uma área de 12 alqueires e perdeu 99% da produção. ?Em uma área que esperava colher 80 sacas por alqueire, só consegui tirar oito sacas, e mal deu para pagar a colheitadeira?, falou. Ele lamenta que além do girassol cultivado em Maringá, a plantação de sorgo, em Castelo Branco, também foi atacada pelas pombas, que destruíram 60% da produção.
O produtor de Floresta Moacir Orcini achou que o girassol era uma excelente alternativa para a propriedade, mas hoje não sabe como vai saldar a dívida de R$ 12 mil que sobrou da produção cultivada em uma área de seis alqueires. ?O girassol era uma excelente alternativa para o inverno, e eu substituí minha área de milho pela cultura. Agora estou tendo que renegociar as dívidas para poder agüentar na atividade?, disse. Orcini afirmou que ainda não decidiu se irá investir novamente no girassol, mas cobra uma solução para o fim da praga. ?Nós estamos de mãos amarradas, pois não podemos matar por problemas ambientais. Mas queria saber quem vai ressarcir os prejuízos?, ponderou.
A preocupação dos agricultores é que nos próximos dias inicia o plantio da soja – cuja cultura deverá atingir uma área de 350 mil hectares na região. O gerente da Cocamar, Osvaldo Danhoni, ressalta que é preciso encontrar uma alternativa o mais rápido possível, já que o ponto crítico da safra deverá ocorrer até dezembro, quando a soja estará germinando. ?Se houver um ataque nesse ponto, e o agricultor tiver que fazer um replantio, a cultura já começa mal, porque teremos plantas não uniformes?, comentou.
Ibama estuda alternativas para controlar aves
Os produtores acreditam que a solução para reduzir os problemas com o ataque das pombas amargosas seria liberar a captura e abate das aves. A alternativa foi apresentada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que continua analisando a proposta. Essa medida já teria sido adotada em estados como o Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que registraram problemas semelhantes.
No início desta semana representantes dos produtores da região Noroeste estiveram reunidos como o coordenador-geral do Ibama em Brasília, Ricardo Soavinski, que ficou de se manifestar sobre o assunto. ?Nós esperamos que eles apresentem uma alternativa rápida para que o produtor não fique tão susceptível aos prejuízos?, afirmou o presidente do Sindicato Rural de Maringá, José Antônio Borghi. Ele ressaltou que as negociações com o órgão ambiental iniciaram em junho, na fase da colheita do girassol, e até agora não se tem nada definitivo.
Borghi teme que o agricultor tome medidas desastrosas para o meio ambiente. ?O desespero do produtor é com a cultura da soja, que já começa a ser plantada. O Ibama precisa antecipar uma solução para proteger essa que é a principal cultura da região?, comentou. A coordenadora do setor de Fauna do Ibama do Paraná, Cosete Xavier, adiantou que existe um grupo de trabalho – do qual participam órgãos ambientais e universidades – estudando uma medida de controle dessa população. Ela ressalta que alternativas urgentes devem ser implementadas, porém, descartando a morte das aves ou destruição dos ovos. (RO)