A nova política tributária do governo de Donald Trump, somada ao cenário eleitoral incerto no Brasil, tem levado multinacionais americanas a investirem menos no mercado brasileiro. Dados do Banco Central mostram que o fluxo de investimentos dos EUA para o País caiu ao menor patamar em quase duas décadas. A participação das companhias americanas no total de recursos aplicados no Brasil passou de 15,7% no ano passado para 6,6% no primeiro semestre. Essa fatia já foi de 30% em 2005.

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No fim do ano passado, a maior economia do mundo reduziu o Imposto de Renda (IR) das empresas de 35% para 21%. No Brasil, a alíquota se mantém em 34% – a mais alta entre os países do G-20 e do Brics. A média global é de 22,96%, segundo a consultoria EY.

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Um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) avalia que as mudanças nos EUA podem fazer com que empresas americanas repatriem até US$ 1,9 trilhão que estão em outros países.

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As multinacionais americanas sempre lideraram com folga o ranking dos maiores investidores na economia brasileira. Segundo o BC, 22% de todo o estoque de empreendimentos e projetos internacionais no Brasil têm origem nos EUA. São mais de US$ 100 bilhões alocados na economia brasileira, sendo US$ 38 bilhões no setor financeiro, US$ 16 bilhões na indústria de transformação e US$ 5,2 bilhões no comércio de veículos.

No primeiro semestre deste ano, no entanto, quem liderou o ranking de investimentos foi a Holanda, com o dobro de recursos trazidos pelas empresas americanas, que entre janeiro e junho aportaram US$ 1,9 bilhão no Brasil.

“A reforma tributária levou a uma revisão completa das estratégias globais de empresas americanas. O Brasil também é vítima dessa mudança”, diz a presidente executiva da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), Deborah Vieitas.

Além da redução da alíquota de Imposto de Renda, a nova legislação americana também permite que as multinacionais repatriem recursos sem ter de pagar impostos adicionais. Antes da reforma de Trump, uma companhia americana que estava no Brasil pagava 35% de imposto para levar seu lucro de volta para os EUA, o que fazia com que ela acabasse deixando o dinheiro aqui e reinvestisse no País. Agora, a mesma empresa tem isenção para repatriar os dividendos. “Com esse benefício, ela pode levar o dinheiro de volta e investir em outros países”, diz o advogado Christiano Chagas, do escritório Demarest.

Apesar de reconhecer a influência dessas mudanças sobre o fluxo de investimento direto, a presidente da Amcham afirma que as incertezas domésticas também pesaram. “Empresas estão muito cautelosas pelo cenário eleitoral, há preocupação com as reformas e tivemos redução grande das concessões e privatizações”, diz Deborah.

Pesquisa da Amcham perguntou a 130 empresários as razões para a recente queda do investimento direto no Brasil. Entre os ouvidos, 62% mencionaram a incerteza das eleições e um grupo menor, de 34%, mencionou as novas regras tributárias nos EUA.

A redução na alíquota do imposto por Trump, no entanto, tem levado a uma mudança global do fluxo de investimentos. Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que o fluxo de investimento direto pelo mundo caiu 44% no primeiro trimestre de 2018 na comparação com o mesmo período do ano passado. A entidade atribui a queda à mudança dos investimentos de empresas americanas.

Dados da OCDE mostram que o fluxo de investimento direto das multinacionais americanas foi negativo em US$ 145 bilhões no primeiro trimestre. Isso quer dizer que essas companhias levaram de volta à sede recursos que estavam em filiais pelo mundo. O fenômeno do fluxo negativo não era visto desde o fim de 2005. O risco, alertam economistas da entidade, é que a reforma tributária resulte em redução estrutural dos investimentos nas filiais das multinacionais dos EUA. (COLABOROU LUCIANA DYNIEWICZ). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.