A previsão é que haja uma redução de 3% na área plantada. continua após a publicidade |
O Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura estima que a soja deverá ocupar uma área de 3,9 milhões de hectares (ha), contra os 4,1 milhões de ha cultivados na safra 04/05. Porém, a produtividade poderá ser maior, atingindo 12,1 milhões de toneladas – uma média de 3 mil quilos/ha. Essa projeção, diz o engenheiro agrônomo do Deral, Otmar Hubner está baseada em uma safra com boas condições climáticas, pois dos 12,4 milhões de toneladas previsto para o ano passado, houve uma perda de 25% devido à longa estiagem. "A previsão é que a seca também ocorra nesse ano. Só esperamos que não seja durante o período da florada – em meados de fevereiro -, pois o prejuízo será maior", ponderou. Uma das vantagens do Paraná, destaca Hubner, é que 90% dos agricultores utilizam o planto direto, o que aumenta a resistência do solo.
Um dos indicativos de que os produtores ainda estão cautelosos quanto ao plantio da soja é a procura por sementes. A Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec) não registrou crescimento na venda de variedades. O supervisor regional de vendas da cooperativa, Marcelo Rodrigues, afirma que muitos produtores estão usando sementes salvas de outras safras, o que vem travando um pouco as comercializações. Já o diretor executivo da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem), Eugênio Bohatch, não soube quantificar o que já foi comercializado, porém garantiu que as vendas estão muito abaixo das 160 mil toneladas de sementes vendidas no mesmo período do ano passado. "Muitos produtores ainda estão esperando o resultado de análise de sementes, e outros estão com dificuldades de empréstimo para custeio", falou.
Políticas de governo
Mas pessimista mesmo com a safra de soja está o setor de máquinas e implementos. O diretor de negócios agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Rubens Dias de Morais diz que quando se fala em redução de área cultivada, isso está intimamente ligado a uma menor tecnologia e conseqüente redução de produtividade. Além de afetar o setor – que estima uma queda de vendas de equipamentos para grãos em 50% -, tem reflexo direto na economia do País. "Hoje nós estamos cedendo mercado para a Argentina, que deverá produzir 83 milhões de toneladas de grãos e abastecer consumidores que o Brasil não vai atender por falta de produtos", avaliou.
Para Morais, um dos grandes culpados desse cenário é o governo federal, que vem praticando uma equivocada política monetária, que busca metas de inflação por meio de altas taxas de juros. O representante da Abimaq diz que uma saída para a crise seria a adoção de compensações tributárias aos exportadores, de forma que possam reequilibrar seus resultados. "Não dá para assistir setores produtivos serem praticamente desmantelados, como está ocorrendo com o segmento de máquinas agrícolas, por conta da insistente desvalorização do dólar, fixada para perseguir metas irreais de inflação", desabafou.
A economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Gilda Bozza, diz que o quadro da soja não é favorável, pois o Paraná, assim como o Brasil, vem de duas safras com quedas, que associado a aumento da oferta mundial e queda do dólar, provocou um achatamento dos produtores. Quem ainda tem soja está segurando o produto na esperança de melhores preços, porém, quem precisar de capital de giro para os negócios vai acabar negociando. "E a decisão de venda é arriscada nesse momento", alertou, acrescentando que essa ameaça no campo afeta todo o agronegócio.
Muitos apostam em transgênicos para reduzir perdas
O agricultor que está iniciando o plantio da safra nesse mês garante que está apostando em um panorama de incertezas. Por isso, muitos produtores estão investindo na soja transgênica como uma alternativa para reduzir e compensar as perdas já contabilizadas.
Ainda não existe um levantamento sobre o volume de material geneticamente modificado que será utilizado nesta safra, mas entre os produtores cogita-se que poderá chegar a 20% da área total com soja no Paraná. Esse número foi contestado pelo engenheiro agrônomo da Divisão de Defesa Sanitária (Defis) da Secretaria de Agricultura do Paraná, Marcelo Silva, que garante que no ano passado menos de 2% da safra estadual era transgênica. Ele atribui uma produtividade inferior – devido a idade das sementes -, e pouca valorização do mercado internacional, fatores que pesarão na decisão do produtor. "O agricultor que tem visão de mercado não fará essa opção", ponderou.
Mas não é o que pensa o diretor presidente da Cooperativa Agroindustrial Coamo, de Campo Mourão, José Aroldo Galassini, que aposta que nos próximos três anos 95% da soja plantada no Brasil será transgênica – a Coamo deve plantar 150 mil hectares com transgênicos. "É uma tendência da engenharia genética, não dá mais para voltar atrás", apostou. Se as previsões de área plantada no Paraná atingirem o patamar de 20%, o diretor executivo da Apasem, Eugênio Bohatch, diz que irá faltar semente certificada no mercado.
O produtor de Maringá Volnei Marcon Souza está apostando tudo na soja transgênica. Ele irá cultivar 140 alqueires com a semente modificada e aposta em uma margem de lucro de 11%. "Esse será o primeiro ano que vou plantar transgênico porque acho que é uma tecnologia promissora. O Brasil não poderia ir na contra-mão do resto do mundo", falou. Souza, que ainda amarga prejuízos da safra passada, principalmente com dívidas de equipamentos, está tentando reduzir custos – só em fertilizantes irá diminuir de 700 quilos para 300 quilos. Ele diz que tem consciência que irá produzir menos, mas com a nova variedade espera ter economia com a aplicação de herbicidas. "E essa diferença vai valer a pena" afirma.
Cautela
Menos otimista está o produtor Valter Afonso da Fonseca, que dos 100 alqueires que irá cultivar em Maringá, apenas 20% será com soja transgênica, porém, em uma área que está bastante infectada com pragas. "Vou fazer uma experiência nessa área, mas confesso que estou com medo da comercialização", falou. Fonseca acredita que poderá ter economia com herbicidas, mas perderá na semente. A mesma experiência ele não fará nos 400 alqueires que irá cultivar em Minas Gerais. "Lá será só convencional", disse, acrescentando que a lavoura mineira foi a que compensou os prejuízos que teve no Paraná com a safra passada – cuja produção comercializou 90%.
Experiência também irá fazer o produtor de Tapira Clemiro Maquiaveli, com o cultivo de 30% de transgênico em uma área total de 150 alqueires. "A soja transgênica pode ser a salvação para quem planta no arenito com relação à infestação de mato. Além de degradadas, as pastagens estavam muito praguejadas. Para controlar as plantas daninhas, ou você usa a tecnologia da soja transgênicas ou faz de duas a três aplicações de herbicidas com a soja convencional, aumentando bastante os custos", falou. Ele só não irá cultivar toda a área porque ainda tem dúvidas em relação à produtividade das variedades. (RO)