O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou nesta sexta-feira (12) que o plano de contingência elaborado pelo governo suportaria um corte no fornecimento de gás natural de até 30 milhões de metros cúbicos por dia. O volume é equivalente a todas as importações feitas pelo País junto à Bolívia. Segundo ele, usinas termelétricas, indústrias e veículos a gás natural veicular (GNV) seriam os afetados pelo racionamento.
O abastecimento de gás natural boliviano foi normalizado ontem à tarde, depois do desligamento de uma válvula do Gasoduto Yacuíba-Rio Grande (Gasyrg), na Bolívia, suspender a operação do duto, que tem capacidade para transportar 17 milhões de metros cúbicos por dia. Especialistas e executivos, porém, acreditam que é grande o risco de novos ataques, uma vez que é difícil garantir a segurança em todos os 430 quilômetros de extensão do duto.
Lobão afirmou admitiu o risco de cortes, mas disse que é problema pontual, reflexo “das questões sociais, políticas e internas daquele país”. “O Brasil não tem queixa da Bolívia, porque o tratado tem sido cumprido. Esta crise é um problema deles, no qual não vamos nos meter”, disse o ministro em entrevista à imprensa após visitar as instalações das usinas nucleares de Angra 1 e 2, no Estado do Rio de Janeiro.
De acordo com o ministro, o plano de contingenciamento brasileiro para o caso de interrupção no fornecimento prevê que “os 30 milhões de metros cúbicos poderiam ser cortados”. “Desligaríamos térmicas, mudaríamos o combustível que abastece as indústrias e os carros poderiam usar gasolina ou álcool. Portanto, se amanhã viesse a acontecer isso, não haveria problema”, disse, minimizando o impacto que estas medidas teriam sobre a indústria, o fornecimento de energia elétrica e também sobre o consumidor final.
Para o consultor Marco Tavares, da GasEnergy, a lógica determina que os cortes atinjam primeiro o consumidor de GNV, mercado de 5 milhões de metros cúbicos por dia, que pode trocar facilmente o combustível por gasolina ou álcool. Ele lembra que na Argentina, em períodos de baixa oferta de gás, o governo garante um incentivo para a substituição de combustíveis, modelo que poderia ser pensado no Brasil, caso a crise boliviana provoque algum corte de prazo mais longo.
Já o mercado térmico (geração de energia elétrica a partir de usinas termelétricas) consome em torno de 15 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Na quarta-feira, duas usinas geraram abaixo do programado por conta de falta de gás: Leonel Brizola, no Rio, que operou com menos da metade de sua capacidade, de 500 megawatts (MW); e Aureliano Chaves, em Minas Gerais, que gerou uma média de 156 MW, contra os 190 MW programados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Gasoduto
Nesta sexta, o diretor de operações da transportadora Transierra, Jorge Boland, que opera o Gasyrg, disse que a companhia pretende restabelecer “em um ou dois dias”, o fluxo total da tubulação, que atualmente vem carregando 14 milhões de metros cúbicos por dia. Os 3 milhões restantes estão suspensos devido a danos provocados por manifestantes em um dos ramais que levam gás dos campos produtores ao duto principal. Boland disse que o assédio de opositores de Morales à tubulação cessou na noite de quinta (11), em virtude da trégua de 72 horas nos conflitos no país vizinho.