O plano de concessões no segmento de infraestrutura apresentado nesta semana pelo governo federal é positivo, mas requer medidas contra o risco cambial para garantir a entrada do capital externo a taxas de juros viáveis, de acordo com avaliação de Britaldo Soares, presidente do conselho de administração da AES Brasil, holding controladora das distribuidoras de energia AES Eletropaulo e AES Tietê.
“O risco cambial no Brasil não pode ser negado. Ou ele vai ser refletido de algum modo nos preços regulados, ou vão se criar mecanismos de suavização de eventual volatilidade cambial”, defendeu nesta sexta-feira, 16, em entrevista à imprensa após participar de um seminário sobre produtividade na Câmara Americana de Comércio (Amcham). Na entrevista, ele ressaltou que suas opiniões são pessoais e que não falava em nome da companhia. Neste ano, o grupo passou por uma reorganização e Britaldo Soares deixou a presidência executiva, passando para a presidência do conselho de administração.
O conselheiro observou que há carência de recursos para investimentos no Brasil, além de dificuldade do BNDES para garantir novos recursos com subsídios públicos. Em paralelo, há liquidez no mercado externo, com mercados onde a taxa de juros é baixa e, em alguns casos, até negativa, o que gera interesse de investidores em entrar no mercado brasileiro.
Na sua visão, é preciso que os projetos, especialmente no segmento de energia, considerem o custo da variação cambial para o capital alocado. Esse é um procedimento que já existe em países latino-americanos, como México e Chile, comparou.
“Isso não significa que a tarifa de energia vai ser integralmente dolarizada. Terá que se analisar o quanto dessa questão cambial interfere na tarifa e como se compartilhar esse risco”, explicou. Com o risco suavizado, a tendência será de redução da taxa de retorno estabelecida pelos investidores, acrescentou.
Ele elogiou o esforço do governo federal em buscar alternativas para dar vazão a projetos de privatização, parcerias público privadas e concessões, mas reforçou a necessidade da realização de ajustes. “A primeira questão é a segurança jurídica e regulatória. Se não houver isso, não precisa financiar, porque não haverá interessados”, alertou. “Ao colocar ativos na mesa, com a devida segurança jurídica e regulatória, tem interessados para vir para o País pela perspectiva de crescimento intrínseca”.
Questionado, o conselheiro disse acreditar que há espaço para consolidação no setor de energia e que, de maneira geral, há oportunidades para fusões e aquisições no mercado brasileiro. “Teve crise, com grande impacto nos últimos dois anos e retração de mercado. Isso criou oportunidades para quem está preparado para aproveitá-las.”
Macroeconomia
O cenário macroeconômico brasileiro é marcado, atualmente, por grandes expectativas de recuperação, embora a inflexão ainda não tenha se concretizado, de acordo com avaliação de Soares. “A recuperação, de fato, dependerá da seriedade, do comprometimento e do foco do governo em fazer o que precisa ser feito”, afirmou, citando a necessidade de reformas nos âmbitos fiscal, previdenciário, tributário, trabalhista e político. “Em termos de confiança, isso já está colocado. Mas é preciso esperar para saber como será feito”, completou.
No setor específico de energia, Britaldo Soares comentou que a demanda tem oscilado devido a efeitos climáticos e sazonais, sem sinais concretos que a demanda voltou a crescer de maneira consistente. “Ainda não vemos uma trajetória firme para a demanda”, disse.