As montadoras brasileiras devem se beneficiar do plano de incentivo ao mercado automotivo lançado na terça-feira pelo governo argentino. A expectativa da indústria local é de que as novas facilidades de crédito resultem na venda de 100 mil a 120 mil automóveis financiados. Como metade dos carros vendidos no mercado argentino é importada do Brasil, as montadoras brasileiras poderão ficar com uma fatia de 50 mil a 60 mil desse volume. No ano passado, foram vendidos 600 mil veículos na Argentina.
“Acredito que a proporção dessas vendas financiadas será de 50% para os modelos fabricados no Brasil e 50% para os produzidos na Argentina”, estimou Fernando Canedo, diretor executivo da Associação de Fabricantes de Veículos Automotores (Adefa). Segundo ele, o plano brasileiro de redução de impostos e demais estímulos também beneficia as montadoras argentinas. “Isso ocorre por causa da complementação entre nossas indústrias”, destacou. “Os carros que o Brasil nos vende são mais baratos, enquanto nós exportamos automóveis mais caros.”
Canedo acredita que o plano lançado pela presidente Cristina Kirchner tem o efeito positivo de provocar uma mudança nas expectativas. Agora, o consumidor argentino poderá comprar qualquer modelo mediante o pagamento à vista de 20% do valor e o financiamento de 80% em 48 meses, com taxa de administração de 8%. As prestações serão ajustadas somente se houver aumento no preço do automóvel, “o que em um mercado recessivo se supõe que não ocorrerá”, afirma Canedo.
As vendas do setor estão praticamente paralisadas desde dezembro, quando o governo anunciou seu primeiro plano, que não conseguiu estimular o consumidor devido a várias restrições, avalia Canedo. Antes, o consumidor só poderia ter acesso ao crédito se não tivesse comprado nenhum automóvel nos últimos sete anos. Além disso, os carros beneficiados pelo crédito eram apenas os populares e médios. O objetivo de Kirchner era oferecer à classe baixa a oportunidade de ter seu primeiro zero quilômetro. Segundo uma fonte, 75% dos automóveis vendidos na Argentina são em dinheiro e apenas 25% dependem de alguma forma de financiamento. Nesta semana, o governo eliminou as antigas restrições, ou seja, mais pessoas terão acesso ao financiamento de qualquer modelo disponível no mercado.
Em 2008, a Argentina teve um déficit na balança comercial de automóveis com o Brasil de US$ 289,3 milhões, cifra que caiu para a metade, comparada com o ano de 2007 (US$ 600 milhões).