O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que a safra deste ano pode ficar abaixo da previsão de 119 milhões de toneladas. As estimativas iniciais apontavam uma safra de 132 milhões de toneladas neste ano. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), no entanto, já trabalha com o patamar de 119 milhões. Segundo o ministro, o fenômeno da estiagem no Rio Grande do Sul pode levar a safra a ficar abaixo da registrada nos dois últimos anos.
?Há uma possibilidade de que seja menor ainda em razão de que a seca não foi inteiramente resolvida no Sul do país e também em razão de que a safrinha de milho, que é plantada entre março e abril, está muito atrasada por causa da seca?, disse Rodrigues.
De acordo com os cálculos do ministro, a safra pode ficar dois ou três milhões de toneladas abaixo dos 119 milhões previstos. Ele disse que a estiagem é um tipo de ?acidente? típico da agricultura e constitui um risco inerente à atividade. ?A grosso modo, foi a maior seca dos últimos 40 anos e está prejudicando duramente a renda dos produtores rurais do Rio Grande do Sul?, disse.
Apesar dos prejuízos causados pela estiagem, Rodrigues aposta que não haverá uma quebra significativa no volume financeiro de exportações, estimado em US$ 38 bilhões (R$ 104 bilhões).
Segundo Rodrigues, apesar da queda na produção de soja, os preços melhoraram quase 20% no último mês. A previsão para a safra de soja neste ano é de 56 milhões de toneladas, um crescimento em relação a 2004, quando atingiu 53 milhões de toneladas.
A previsão para 2005, no entanto, era de 63 milhões de toneladas. Outro fator a contribuir para o melhor desempenho da agricultura foi o aumento nos preços do café, do açúcar e do suco de laranja. Rodrigues reconhece, porém, que o saldo comercial deve ser menor neste ano em razão das maiores importações no Sul do país.
De acordo com seus cálculos, o saldo deve ficar em US$ 31 bilhões (R$ 84,8 bilhões), contra US$ 34 bilhões (R$ 93 bilhões) em 2004.
BNDES refinancia dívida de agricultores
O ministro Roberto Rodrigues afirmou ontem que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) promoverá o alongamento das dívidas de agricultores prejudicados pela estiagem. O volume total de investimentos que deverão ser repactuados chega a R$ 3,5 bilhões, segundo o ministro.
Desse total, R$ 2 bilhões correspondem a investimentos no Moderfrota (modernização da frota) ou no Moderinfra (destinado à irrigação e armazenagem) e R$ 1,5 bilhão a empréstimos por meio do Finame Especial (máquinas e equipamentos).
Segundo Rodrigues, as parcelas dos empréstimos que deveriam ser pagas neste ano poderão ser quitadas somente depois do vencimento da última parcela no caso de municípios em que foi decretada a calamidade pública.
O segundo ponto destacado pelo ministério é o custeio da safra de verão. O Banco do Brasil está reavaliando os prazos de pagamentos para os municípios em que a produção caiu mais de 50%. Nestes casos, o pagamento deste ano poderá ser de 20% do total dos vencimentos e o restante será negociado nas próximas quatro ou cinco safras.
O governo estuda ainda o envio de cestas básicas e de recursos para a manutenção dos pequenos produtores rurais. A chamada agricultura familiar receberá cerca de R$ 1 bilhão.
Além disso, o Ministério da Agricultura negocia com a Fazenda uma alocação de recursos de R$ 300 milhões para as cooperativas agrícolas que colocaram muitos recursos próprios na compra de insumos, como fertilizantes e sementes.
Na chamada formação de financiamento para contraparte, o cooperado assume uma dívida com a cooperativa, que passa a dever recursos para o BNDES, que atua como o intermediário de recursos do Tesouro e do próprio banco de fomento.
Outra medida em estudo é a alocação de recursos orçamentários que garantam a aquisição de produtos para outras áreas do País. Dessa forma, seria possível levar trigo e arroz do Rio Grande do Sul para o Nordeste e tirar a pressão de vendas de produtos como arroz, milho e feijão do Centro-Oeste.
Rodrigues concedeu entrevista após participar do 5.º Seminário Internacional do Café, no Rio de Janeiro.