A economia brasileira teve retração de 1,2% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados ontem, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se da maior queda em dois anos e meio – no primeiro trimestre de 2003, caiu 1,3%. O comportamento da economia ficou bem abaixo das expectativas dos analistas, que previam cenários de uma leve alta de 0,1% até uma queda de 0,5%.

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Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, houve expansão de 1% no PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no País). No acumulado dos nove primeiros meses de 2005, a alta é de 2,6%.

O resultado mais fraco do ano já era previsto desde o primeiro semestre. Juros em alta, taxa de câmbio desfavorável aos exportadores e concentração dos efeitos da crise política do governo Lula foram alguns dos fatores citados por economistas para justificar a expectativa por um resultado inferior ao dos demais trimestres do ano. Sob a ótica da produção, o fraco desempenho do PIB foi motivado pelo comportamento da indústria e da agropecuária. Sob a ótica da demanda, os investimentos contribuíram para a taxa negativa.

A expectativa por um desempenho mais fraco ganhou fôlego após a divulgação dos resultados da indústria, que foi o motor do crescimento da economia no segundo trimestre, quando houve expansão do PIB de 1,1%.

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A produção industrial apresentou o pior desempenho do ano no terceiro trimestre. Segundo dados do IBGE, houve queda de 2,1% em julho, alta de 0,9% em agosto e queda de 2% em setembro. Embora existam diferenças entre a medição do comportamento da indústria na produção industrial e no PIB, os resultados já indicavam que a expansão do segundo trimestre não se repetiria.

A percepção de que a economia não deverá atingir o patamar de crescimento de 3,4% no ano – essa é a previsão do Banco Central – levou analistas a revisarem para baixo suas projeções. Segundo o boletim Focus, organizado pelo Banco Central, a previsão média de crescimento de mais de cem instituições financeiras alcança 3%.

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Segundo cálculos do IBGE, para alcançar um patamar de crescimento de 3% no ano, a economia brasileira precisa crescer 4,3% no último trimestre na comparação com igual período do ano passado. Um crescimento mais modesto, da ordem de 2,8% no ano, seria atingido com uma expansão do PIB no quarto trimestre de 3,5% em relação a igual período de 2004.

De acordo com os dados do PIB, a indústria brasileira teve queda de 1,2% no terceiro trimestre, após registrar expansão de 1,4% no segundo trimestre. A análise sob a ótica da produção mostra ainda que a agropecuária registrou queda de 3,4% e os serviços tiveram resultado estável.

A agropecuária foi afetada pela queda de 2,6% na safra de laranja, pelo recuo de 11% na safra de trigo e de 11,8% na safra de café. Segundo a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o único produto que tem safra no terceiro trimestre com desempenho positivo foi a cana-de-açúcar. Além disso, a pecuária apresentou desempenho favorável e ainda não foi afetada nas contas nacionais pelo problema da aftosa.

Quarto trimestre

Apesar do cenário desfavorável para a economia brasileira no terceiro trimestre, há uma expectativa generalizada de recuperação da economia no quarto trimestre. Esse movimento, no entanto, deve ficar restrito aos meses de novembro e dezembro. Dados antecedentes da indústria em outubro, como a produção de automóveis, o consumo de energia, entre outros indicadores, já sinalizam um resultado fraco.

Retração pode proporcionar juro menor

A retração da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano elevou as apostas de um corte mais agressivo nos juros básicos na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. A taxa básica (Selic) vem recuando desde setembro deste ano, após nove meses de alta e três de manutenção. Atualmente, está em 18,5% ao ano, depois de uma redução de 0,25 ponto percentual e duas de 0,5 ponto.

Com a retração de 1,2% no PIB (Produto Interno Bruto) de julho a setembro em relação ao trimestre anterior, parte do mercado começa a cogitar a possibilidade de o Copom fazer um corte de, pelo menos, 0,75 ponto percentual na Selic em dezembro.

O resultado mais fraco na economia já era previsto desde o primeiro semestre, por conta dos juros altos, do dólar desfavorável aos exportadores e da concentração dos efeitos da crise política do governo Lula. Entretanto, o resultado foi pior do que o esperado.

Diante do desempenho negativo da economia, Marcelo Ribeiro, da corretora Concórdia, avalia que o Copom deve reduzir a Selic, em pelo menos, 0,75 ponto percentual na reunião do próximo mês.

?O Banco Central demorou para iniciar o ciclo de queda dos juros, o que realmente refletiu no resultado do PIB?, afirmou.

André Kitahara, do RaboBank, também aposta em uma redução de 0,75 ponto percentual no juro básico em dezembro.

?O resultado do PIB surpreendeu negativamente. O BC errou na dose e agora tem que correr atrás?, disse.

Para Gustavo Alcântara, da Mercatto Gestões, ainda não há um consenso no mercado de corte superior a 0,5 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Copom. Entretanto, com a queda do PIB no último trimestre, ele avalia que há espaço para uma redução maior. ?Esse consenso, porém, só vai se formar após o resultado do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE) de novembro?, afirmou.

Em outubro, o índice, que serve de referência para as metas de inflação do governo, subiu para 0,75%, contra 0,35% em setembro. Foi a maior taxa em seis meses.

Palocci diz que número já era esperado

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, afirmou ontem, em Foz do Iguaçu, que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre já era esperada, embora tenha sido pior que as previsões. Questionado se o Brasil irá crescer menos de 3 por cento neste ano, o ministrou disse apenas que ?vamos refazer as contas, logo esses números vão ser avaliados e divulgados?.

Palocci citou que indicadores antecedentes já mostravam queda no terceiro trimestre, mas ponderou que é preciso analisar com cautela o dado.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, disse que o resultado negativo do PIB é uma conseqüência da política econômica que fez ?um aperto financeiro da taxa de juros e contenção de investimentos?.

Segundo ele, a política econômica produziu efeitos positivos, como a queda da inflação e ?a contenção de todos os pontos que estavam na meta macroeconômica?. Porém, agora ?é importante que haja uma retomada do crescimento?.

Renda e crédito sustentam consumo

O consumo das famílias cresceu 0,8% no terceiro trimestre, segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE. Dois fatores justificam a manutenção de um desempenho favorável: a recuperação da massa salarial e a expansão do crédito.

Diante da queda generalizada de desempenho entre os componentes do PIB na comparação com o trimestre anterior, que atingiu agropecuária, indústria e investimentos, o consumo das famílias foi avaliado por analistas como o principal aspecto positivo do resultado. ?É claro que os juros afetam o desempenho da economia como um todo, mas o crédito ajudou a elevar o consumo das famílias?, afirmou a gerente de Contas Nacionais, Rebeca Palis.

Segundo o IBGE, houve aumento de 4,7% na massa salarial em relação ao terceiro trimestre do ano passado. Neste período, houve aumento de 2,3% do pessoal ocupado e de 2,3% no rendimento. A expansão da massa salarial foi superior à do segundo trimestre, quando foi registrado aumento de 3,6% em relação a igual período do ano passado.

O crédito continuou em alta com um crescimento de 39,1% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para pessoas físicas.

O consumo das famílias cresceu 2,8% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado.

Oposição acha que PIB seria ainda pior sem Palocci

A retração de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre deste ano mostra que a política econômica tem feito o País perder oportunidades. Essa é a avaliação de senadores da oposição sobre o desempenho da economia brasileira, que, no entanto, acham que a situação poderia ser ainda pior se Antônio Palocci não fosse o ministro da Fazenda.

?A culpa é do governo, não é do ministro Palocci. Pobre do Palocci que tem que ser mais ortodoxo que os mais ortodoxos. O governo não tem mais jeito. O único jeito era o resultado da economia, mas esse já não existe mais?, disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

A mesma opinião tem o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). ?O problema do ministro Palocci é um problema do governo e não nosso. Acho que seria pior sem ele.?

Já o senador Edson Lobão (PFL-MA) é outro que acredita que o resultado poderia ser bem pior sem Palocci e que ele não pode ser culpado pela taxa de juros elevada. ?O ministro Palocci é um bom ministro. O Banco Central tem autonomia. não devemos cobrar dele. O resultado não é bom, mas poderia ser trágico se não fosse a competência do ministro Palocci?, defende.

?É preciso consultar o presidente Lula para saber se o ministro Palocci é mesmo imprescindível. Afinal, se há um ministro que pode ser avaliado mês a mês é o ministro da Fazenda. Se a economia vai bem, ele vai bem; se ela vai mal, ele vai pior ainda?, afirmou o líder do PFL, José Agripino (PFL-RN).

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o Brasil tem tido um crescimento muito abaixo dos seus vizinhos da América do Sul e tem perdido oportunidades por não conseguir atrair investimentos, conseqüência das elevadas taxas de juros, da carga tributária e da falta de investimentos do setor público em infra-estrutura.