Após subtrair 0,9 ponto porcentual do crescimento do produto interno bruto (PIB) em 2013, de 2,3%, o setor externo deve dar uma contribuição positiva para a economia no primeiro trimestre deste ano. Mas as razões para a mudança não devem ser comemoradas, já que não há sinalização de vigor nas exportações. Pelo contrário, por trás disso está o arrefecimento da atividade doméstica e a desaceleração do consumo, que fizeram com que o volume de importações crescesse menos do que o previsto na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.

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Nos cálculos da consultoria Tendências, o PIB deve crescer 1,4% nos três primeiros meses de 2014 em relação a igual período do ano passado.

Dessa taxa, o setor externo deve responder por 0,15 ponto porcentual – resultado de uma alta de 3,2% no volume de exportações e de 1,7% nas importações, já no sistema de contabilização utilizado no PIB. A estimativa leva em conta dados de volume divulgados pela Funcex.

O outro 1,25 ponto porcentual virá da chamada “absorção interna” (que reúne o consumo das famílias, do governo e a formação bruta de capital fixo, a FBCF, conta que mede os investimentos).

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A dinâmica do setor externo revela uma piora na atividade doméstica, principalmente quando analisadas as importações. A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, esperava inicialmente um crescimento de aproximadamente 3% nas compras do exterior. No caso das exportações, o esperado era uma alta na casa de 12%.

“O ajuste se dará não porque as exportações estão bem, mas sim porque as importações estão crescendo menos”, afirma. “Em linhas gerais, quando se olha a importação, o pano de fundo é o cenário com atividade mais fraca e o arrefecimento do consumo.”

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O economista-chefe da INVX Global, Eduardo Velho, atenta para o fato de que não se trata apenas da menor propensão de consumo entre as famílias. “A fonte dessa desaceleração é o arrefecimento interno do consumo e também do investimento”, observa. O economista espera desempenho um pouco melhor da economia, com avanço de 1,7% ante o primeiro trimestre de 2013, também com contribuição positiva do setor externo “por motivos ruins”.

A contabilidade das exportações e importações no PIB é diferente da realizada na balança comercial. No PIB, entram bens e serviços, e as variações porcentuais divulgadas dizem respeito ao volume. Já na balança comercial, entram apenas bens, e o registro é feito em valores, com influência de preços.

Razões. “São razões negativas que fazem (o setor externo) ter esse impacto positivo (no PIB)”, resume o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. “Há inadimplência elevada, geração de emprego menor e inflação mais alta, sem falar no medo do que vem por aí (em relação a preços). As pessoas deixam de consumir.”

Os principais setores atingidos pela redução nas importações são os bens de capital, as matérias-primas e os produtos intermediários para a indústria, além dos combustíveis. Na contramão, a compra de gás natural deve crescer, por conta do uso intenso de usinas termoelétricas para geração de energia.

Além disso, segundo Castro, importações de combustíveis e lubrificantes feitas pela Petrobrás em 2012 foram postergadas e contabilizadas apenas no início de 2013. Isso não ocorreu este ano, o que deve contribuir para redução no ritmo.

Nas exportações, os bens de capital também aparecem em queda, mas o principal peso negativo são os automóveis, muito afetados pela crise na Argentina, o principal mercado dessa indústria. Por outro lado, o crescimento nos embarques tem se sustentado em função do aumento no volume exportado de minério de ferro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.