A piora das expectativas para o IPCA de 2011 de 4,92% para 4,98%, registrada pela pesquisa Focus divulgada hoje, está relacionada com o ritmo de aquecimento da economia e com a tendência de avanço da inflação para os próximos seis meses, ponderaram economistas entrevistados pela Agência Estado. Segundo a pesquisa divulgada hoje, a variação mensal do IPCA até março de 2011 deve ficar pouco acima de 0,45%, da alta apurada em setembro.
Para os analistas ouvidos, o aquecimento da economia, que deve crescer 7,3% neste ano, segundo estimativa do próprio BC, é forte demais e deve requerer um aperto monetário pelo Comitê de Política Monetária (Copom) no próximo semestre. “O mercado não está aceitando a avaliação do Banco Central, manifestada no relatório de inflação do mês passado, segundo a qual é possível levar o IPCA para o centro da meta em 2011 com a taxa Selic estável em 10,75%”, comentou o economista da Tendências, Bernardo Wjuniski.
O economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, espera crescimento do PIB de 7% para este ano e essa estimativa, de acordo com ele, não está em harmonia com o ritmo ainda mais forte da demanda agregada – o economista projeta expansão entre 8,5% e 9% em 2010. Jankiel destaca que o consumo vigoroso está sendo atendido, em parte, pelas importações.
Segundo os especialistas ouvidos pela AE, o bom momento do mercado de trabalho e avanço dos rendimentos dos assalariados, no entanto, tendem a pressionar a inflação no médio prazo. Tatiana Pinheiro, economista do Santander, estima que a taxa média de desemprego, medida pelo IBGE, deve cair de 8,1% em 2009 para 6,8% neste ano, enquanto a massa real de salários deve subir 5,5% em 2010.
“Essa conjuntura doméstica deve levar o IPCA para uma taxa média de 0,45% até o final do ano, com núcleos ao redor de 0,4%, números que não são baixos”, comentou Jankiel. Em termos anualizados, a inflação cheia apurada no mês passado representa incremento de 5,53%. Os núcleos estão mais baixos, mas apresentam uma marca equivalente a 4,9%, se fosse mantido o atual nível por 12 meses seguidos. “Esta magnitude dos números recentes da inflação ajuda a explicar porquê o mercado mostra ceticismo de que não será preciso elevar os juros em 2011 para levar o IPCA para uma marca próxima da meta de 4,5%”, comentou Jankiel.
Segundo Tatiana, a mediana das expectativas para o IPCA apurada pela Focus para o último trimestre de 2010 aponta uma média mensal de 0,49%, formada pela estimativa de alta de 0,5% em outubro, 0,48% em novembro e 0,5% em dezembro. Para o primeiro trimestre, a pesquisa realizada pelo BC sugere uma média de 0,539%, formada pelas projeções de alta de 0,58% em janeiro, 0,6% em fevereiro e 0,41% em março. “A avaliação de que a inflação não deve perder fôlego nos próximos meses, devido ao forte aquecimento da economia, deve levar a mediana de projeções para o IPCA em 2011 a romper logo a marca de 5%”, ressaltou o economista da Tendências.
Na avaliação da economista do Santander, além do ritmo forte da economia, a avaliação de muitos especialistas de que o juro real de equilíbrio no Brasil está entre 7% e 8% é outro fator que deve estar levando analistas a acreditar que a Selic terá alta em 2011. De acordo com o sócio da Tendências, Juan Jensen, o BC, aparentemente, está confortável com a atual taxa de juro real de 5,77% (critério ex-ante). Segundo ele, isso pode ser aferido pelo último relatório de inflação, segundo a qual, mantida a Selic em 10,75% até o final de 2011, o IPCA fechará 2011 em 4,6% e atingirá 4,4% no terceiro trimestre de 2012 (cenário de referência).
A pesquisa Focus mostra que a mediana da Selic deverá subir em um ponto porcentual no próximo ano, para 11,75%. Os analistas ouvidos pela Agência Estado acreditam em aumentos maiores dos juros no próximo ano. Jankiel estima que a taxa subirá para 12,25%, enquanto Bernardo aposta em 12,75% e Tatiana, em 13% para julho de 2011. Para ela, a alta será necessária para baixar o IPCA de 5,5% em 2010 para 5% no próximo ano. Mesmo com o aumento da Selic em 2,25 pontos porcentuais, a economista do Santander acredita que a inflação fechará o próximo ano 0,5 ponto porcentual acima da meta de 4,5%.