Agora é praticamente oficial. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, total de bens e serviços produzidos no País) ficou em apenas 0,19% no ano passado, confirmando as previsões sobre a estagnação da atividade econômica em 2003. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só divulgará as informações consolidadas sobre o comportamento do PIB em 2003 no dia 27, mas esta semana repassou ao Ministério do Planejamento o percentual apurado até o momento, para viabilizar os cálculos sobre gastos obrigatórios para a saúde, incluídos na programação orçamentária de 2004.
Brasília (AG) – O crescimento de 0,19% do PIB é o mais baixo desde o 0,13% verificado em 1998, quando o País enfrentou séria crise financeira e de credibilidade devido a fatores externos, em especial a crise da Rússia. Depois de sucessivos abalos externos e internos, como a desvalorização do real em 1999, a economia conseguiu se recuperar e chegou a crescer 4,3% em 2000.
No ano passado, contaminada pelos efeitos da campanha eleitoral de 2002 e pela desconfiança dos mercados em relação ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a economia voltou a enfrentar turbulência. A inflação ameaçou disparar e o Banco Central (BC) interveio com a elevação drástica das taxas de juros no início do ano. Isso tudo associado às variações do câmbio, que também contribuíram para elevar preços e reduzir a atividade econômica.
A alta de 0,19% do PIB em 2003 está muito próximo da projeção feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgada em dezembro, de 0,2%. Ao longo do ano, o instituto reviu várias vezes para baixo suas previsões para a expansão da economia, baseado no impacto da política monetária restritiva sobre a atividade econômica.
Técnicos do Ipea e outros analistas consideram que o impacto dos juros altos foi maior do que o previsto inicialmente pelo governo. O economista do Ipea Paulo Levy acha que o BC agiu corretamente ao adotar essa política, apesar do efeito recessivo que ela provocaria, pois mesmo com juros mais altos a inflação de 2003 superou a meta fixada de 8,5%, ficando em 9,3%.
No decorrer de 2003, o governo foi forçado a rever várias vezes a estimativa de crescimento da economia brasileira, à medida que obtinha novas informações sobre o desempenho da indústria e outras variáveis da atividade econômica.
No fim de novembro, os ministérios do Planejamento e da Fazenda envolveram-se numa polêmica devido às previsões diferentes sobre o crescimento da economia. O ministro do Planejamento, Guido Mantega, considerou pessimistas as previsões do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, sobre o PIB de 2003.
Enquanto Mantega apostava em 0,8% de crescimento, a Fazenda havia revisto a sua projeção para 0,4%. O tempo está demonstrando que as duas previsões estavam erradas. E a realidade era um pouco pior.