PIB cresce 9 vezes mais que a renda

Rio – O Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) cresceu 110 vezes em valor no século 20 (1901 a 2000), enquanto a renda per capita aumentou quase 12 vezes. Estes e outros dados fazem parte da publicação Estatísticas do Século 20, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem. Ao longo do século 20, a taxa média de inflação anual passou de 6% nos anos de 1930 para 764% entre 1990 e 1995, caindo para 8,6% ao ano de 1995 a 2000.

Entre outras informações, revela que a população brasileira saltou de 17,4 milhões para 169,6 milhões de pessoas nesse período, e que 10% desse crescimento deve-se aos imigrantes. Já a expectativa de vida do homem brasileiro subiu de 33,4 anos em 1910 para 64,8 anos em 2000.

O principal desafio, diz o presidente do instituto, Eduardo Nunes, “é como trabalhar a riqueza criada ao longo do século passado para que a população possa usufruir do crescimento e do desenvolvimento do País, que esperamos que ocorra no novo século.” Como exemplo, Nunes destacou o aumento da concentração de renda no País. Em 1960, a renda total dos 10% mais ricos era 34 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Trinta anos depois, a diferença havia saltado para 60 vezes. No mesmo período, o índice de Gini, que mede a desigualdade, piorou. Passou de 0,50 para 0,63, quanto mais perto de 1, maior é a distância entre ricos e pobres.

Nesses cem anos o País passou de rural a urbano, decisivo para a sua transformação econômica, social e cultural. Em 1940, 69% da população brasileira estava no campo. Em 2000, a taxa era de apenas 19%. Esse movimento acompanhou a mudança na estrutura econômica do País: a participação da agropecuária no PIB caiu de 45% em 1900 para 11% em 2000.

A urbanização não diminuiu a desigualdade, mas trouxe melhorias na qualidade de vida do brasileiro. O acesso à saúde mais que dobrou a expectativa de vida: de 33,6 anos em 1900 para 68,6 anos em 2000. A mortalidade infantil caiu de 162,4 óbitos por mil crianças nascidas vivas para 29,6/1000.

A chegada de moradores nas cidades fez crescer o número de escolas, levando o analfabetismo a cair cinco vezes em oitenta anos. Em 1920, 65% da população de 15 anos ou mais não sabia ler e escrever. Em 2000, são 13%. As taxas de analfabetismo e a mortalidade infantil, porém, ainda deixam o Brasil muito distante dos países desenvolvidos e em desvantagem até diante de países da América Latina.

Ainda na comparação com o cenário mundial, o Brasil pulou de oitavo para quinto país mais populoso nos últimos 50 anos. Ultrapassou o Japão, a Alemanha e a Rússia.

Inflação de 1 quintilhão por cento

Rio

– As oscilações de preços marcaram o cotidiano dos brasileiros ao longo do século 20. Segundo o IBGE, a inflação acumulada em cem anos foi de 1.113.694.017.907.650.000% (mais de 1 quintilhão). A taxa oficial de inflação, que não ultrapassou 12% ao ano nas primeiras três décadas do século, chegou a 1.000% nos anos 80, forçando a população a contas diárias. Apesar das altas taxas registradas ao longo do século, a inflação esteve controlada tanto no início quanto no final do período. Em 1902, atingiu 6%, após deflação de 17,8% em 1901. Em 2000, foi de 8,6%.

A taxa média anual de inflação nos cem anos foi de 45 2%. Nos últimos 20 anos, até o mês passado, a taxa acumulada foi de 2,08 trilhões por cento. No período acumulado a partir de julho de 1994, quando teve início o Plano Real, até agosto deste ano, somou variação bem inferior, de 155,10%.

Brasil atravessou o século 20 da mesma maneira como entrou no 21: como devedor do mundo. A dívida externa brasileira era de US$ 291,6 milhões em 1901 e ao final do século, atingia US$ 236 bilhões, crescimento de 810 vezes no período. “A chamada vulnerabilidade externa do Brasil não é privilégio do período recente, mas um traço que acompanha nosso desenvolvimento desde o seu começo”, disse o responsável pela análise do setor externo na publicação do IBGE, economista Jorge Chami.

Ele ressaltou que, no início do século passado, o total da dívida externa equivalia a uma vez e meia o valor das exportações e, ao final do século, era equivalente a mais de quatro vezes o valor das vendas externas totais do Brasil.

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