PIB cresce 0,3% no primeiro trimestre

A economia brasileira teve um crescimento de 0,3% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses do ano passado, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se do menor crescimento desde o segundo trimestre de 2003, quando houve expansão de 0,1%. O IBGE também divulgou que, em relação ao primeiro trimestre do ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 2,9%.

Os investimentos representaram de forma acentuada a desaceleração da economia. Em 2004, a receita do crescimento foi baseada em exportações, investimentos, indústria e consumo das famílias. No primeiro trimestre de 2005, o único segmento a manter desempenho positivo foi o exportador. Entre as atividades, a agropecuária foi a única com desempenho positivo no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2004. A alta foi de 2,6%. A indústria teve queda de 1% e os serviços, baixa de 0,2%.

Depois de registrar em 2004 uma expansão revisada de 4,9%, o cenário que se delineia para a economia brasileira em 2005 é bem mais modesto.

Segundo o último Relatório de Mercado organizado pelo Banco Central, analistas estimam que o PIB deve crescer 3,5% neste ano. Economistas afirmam, no entanto, que o desempenho positivo necessário para atingir essa taxa só poderá ser alcançado no segundo semestre.

A despeito da apreciação do real no período, o setor externo foi o principal responsável pelo desempenho do PIB. A indústria e o consumo das famílias, que ajudaram no resultado do ano passado, registraram queda neste começo de ano influenciados principalmente pela alta dos juros – o Banco Central elevou a taxa básica da economia brasileira nos últimos nove meses.

?É difícil repetir o desempenho de 2004, o setor externo deve causar algum impacto positivo na produção industrial e com isso a indústria deve encerrar o ano com expansão de 4,5% a 5%?, afirma a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi. Em 2004, a indústria cresceu 8,3%, o melhor resultado em 18 anos.

Risco de retração

?Os dados relativos ao PIB, divulgados ontem pelo IBGE, referendam o alerta que a Fiesp já vinha fazendo há tempos: a insistência na política de juros altos e câmbio irreal já se reflete na performance da economia, com crescimento pífio, de 0,3%, no primeiro trimestre. Este é o pior resultado dos últimos sete trimestres, projetando expansão anual de apenas 1,21%.?

A observação é do empresário Paulo Skaf, presidente da Fiesp, que acrescenta: ?Este péssimo desempenho deve-se às altas taxa de juros, que fizeram os investimentos expandirem-se apenas 2,3%, na comparação com igual trimestre do ano anterior?.

O crescimento das exportações ainda contribuiu positivamente para o crescimento do PIB, variações positivas de 13,6% no atual trimestre e de 16,2% no anterior. ?Mas, a valorização do câmbio aprofundada neste segundo trimestre certamente afetará a contribuição das vendas externas ao crescimento da economia?, frisou o presidente da Fiesp, acentuando: ?O vigor do crescimento econômico do mundo e a expansão desenfreada do crédito não estão sendo suficientes para contrabalançar os efeitos das altas taxas de juros. Os dados mostram que a economia não tem mais força. Em breve, teremos variação negativa do crescimento: estamos jogando fora uma ótima oportunidade de prosperidade?.

Consumo

Um dos fatores mais festejados no crescimento econômico de 2004, o consumo das famílias, já começa a dar sinais de arrefecimento. Mesmo com a expansão do crédito e o desempenho do mercado de trabalho, houve queda de 0,6% no consumo das famílias no primeiro trimestre. No último trimestre do ano passado, houve alta de 0,8%.

Agropecuária foi único setor que cresceu no trimestre

Apesar dos problemas climáticos enfrentados no início deste ano, a agropecuária foi o único setor, sob a ótica da produção, a sustentar o crescimento da economia no primeiro trimestre. O PIB (Produto Interno Bruto) registrou expansão de 0,3% na comparação com o quarto trimestre de 2004. A agropecuária cresceu 2,6% na mesma base de comparação.

Segundo a gerente de Contas Nacionais Trimestrais, Rebeca Palis, embora a agricultura tenha sofrido com a quebra de safra, o efeito é maior sobre as projeções do que sobre o crescimento efetivo do ano passado. ?A quebra de safra ocorreu em relação ao que foi projetado e não em relação ao ano anterior?, disse.

O IBGE utiliza o LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola) de março. Segundo o instituto, os principais desempenhos positivos foram verificados na produção de soja e arroz em casca. Palis destaca também que a pecuária apresentou comportamento positivo no início deste ano.

Segundo a técnica do IBGE, o setor mais afetado pela desaceleração da economia foi a indústria, mais suscetível a mudanças na política econômica.

A perspectiva para a agropecuária nos próximos meses, no entanto, ainda é incerta na avaliação de Alex Agostini, economista da GRC Visão.

Segundo Agostini, os efeitos da estiagem no Rio Grande do Sul, o aumento de custos e a queda na rentabilidade com a apreciação do real ainda não foram captados no PIB do primeiro trimestre. ?Nos próximos trimestres este número deve mostrar desaceleração?, afirmou.

Instituto revisa expansão de 2004 para 4,9%

A economia brasileira cresceu menos em 2004 do que havia sido divulgado no início deste ano. Segundo dados revisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto) do País cresceu 4,9% no ano passado e não 5,2%.

Segundo o instituto, a mudança é conseqüência da revisão realizada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) na série de receita operacional líquida da telefonia móvel enviada ao IBGE. Normalmente, o IBGE revisa apenas o dado do trimestre anterior, mas com a diferença expressiva apresentada nos números da Anatel, o instituto foi obrigado a revisar os dados do ano.

Essa mudança afetou o desempenho do setor de serviços, em especial o de comunicações, com reflexo em outros setores de atividades e no resultado do PIB. O setor de serviços é o de maior participação no PIB, de cerca de 60%. Com a revisão de dados, o setor teve seu crescimento revisto de 3,7% para 3,3%.

O peso de comunicações no setor de serviços é de 5,5%. O crescimento deste item passou de 2% para queda de 1,4% em 2004 com os novos números da Anatel. A diferença entre os números foi expressiva: a telefonia móvel, que sofreu alteração, representa apenas 35% da telefonia no Brasil.

Segundo a gerente de Contas Nacionais Trimestrais, Rebeca Palis, a mudança não altera o patamar de crescimento do ano passado de forma significativa.

Governo preocupado com queda no consumo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mais preocupado com a queda no consumo das famílias do que com o baixo crescimento da economia brasileira. A afirmação é do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que esteve reunido na manhã de ontem com o presidente Lula e com os ministros Antônio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil).

A economia brasileira teve um crescimento de 0,3% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses do ano passado, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. É o pior desempenho desde o segundo trimestre de 2003, quando houve expansão de 0,1%. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 2,9%.

?Nós não devemos ficar excessivamente preocupados?, disse o ministro. Segundo ele, o presidente ficou preocupado com a queda no consumo das famílias e cobrou explicações sobre isso.

A expansão do crédito e o melhor desempenho do mercado de trabalho não foram suficientes para evitar que o consumo das famílias tivesse uma queda de 0,6% no primeiro trimestre, ante uma alta de 0,8% no trimestre anterior.

?A impressão que nós tivemos é que há uma acomodação do crescimento?, disse Bernardo. Ele destacou, entretanto, o crescimento na agropecuária (+2,6%) e lembrou que apesar do arrefecimento, o PIB apresenta um desempenho positivo por oito trimestres consecutivos. ?Não é um quadro de todo ruim.?

Para o ministro, o desempenho no segundo semestre costuma ser melhor e, por isso, o governo mantém a expectativa de que a economia irá crescer 4% neste ano – acima da expectativa de mercado, que é 3,5%. No ano passado, o PIB brasileiro cresceu 4,9%.

Sobre o aumento da taxa de juros, que inibe o investimento e o consumo, o ministro lembrou que isso afeta as contas do País. ?Os juros altos pressionam as nossas contas. Todos sabem?, disse.

A taxa básica de juros da economia, a Selic, sofreu nove aumentos consecutivos desde setembro do ano passado e está em 19,75% ao ano. É essa taxa que remunera mais da metade da dívida pública brasileira. ?Eu não sei se o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) vai entender isso – o desempenho do PIB – como um alerta?, concluiu o ministro.

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