Depois de perder, anteontem, o controle das operadoras de telefone que administrava através do Opportunity, o empresário Daniel Dantas teve, ontem, outra derrota. Depois de duas horas e meia de depoimento, a Polícia Federal no Rio de Janeiro decidiu indiciar o banqueiro por formação de quadrilha, corrupção ativa e divulgação de segredo. Na última segunda-feira, a presidente da Brasil Telecom (uma das empresas que até anteontem era controlada pelo Opportunity e opera telefonia fixa nos estados do centro-sul), Carla Cicco, havia sido indiciada pelos mesmos crimes.
Cicco e Dantas são suspeitos pela contratação dos serviços da Kroll Associates para investigar a Telecom Italia, empresa que disputa com o Opportunity o controle da Brasil Telecom. Devido às denúncias de espionagem, a PF começou a investigar a responsabilidade da Kroll e dos executivos da Brasil Telecom em possíveis ações ilegais.
A investigação da Kroll teria atingido funcionários do primeiro escalão do governo, como o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb. A Kroll teve acesso a e-mails do ministro antes de ele assumir a pasta. Já Casseb foi monitorado antes e depois de assumir o cargo.
Depoimento
Dantas prestou depoimento ontem na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele chegou pela manhã na PF, entrou pela entrada dos fundos e saiu sem falar com os jornalistas. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal, Dantas negou todas as acusações. A PF, no entanto, informou que 20 pessoas já foram indiciadas no ?caso Kroll?. Além de Dantas e Cicco, 18 funcionários ou pessoas ligadas à Kroll estão sob suspeita.
A assessoria também informou que as investigações do caso continuam e que o inquérito será entregue ao Ministério Público até o final da próxima semana.
A Brasil Telecom foi criada em 1998, quando o governo FHC fatiou a Telebrás e vendeu a estatal para grupos privados por meio de leilões.
Outro lado
Nélio Machado, um dos advogados de defesa de Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity, acredita que a Justiça não levará adiante o inquérito da Polícia Federal sobre o envolvimento de seu cliente com o caso Kroll. Segundo Machado, as investigações não têm fundamento e são inconsistentes.
?O indiciamento é algo que não nos impressiona, nem de longe, porque acredito que uma base fluida e sem consistência não consegue edificar uma hipótese acusatória. Essa acusação acabará sendo reduzida a sua própria insignificância jurídica?, disse Machado.