São Paulo (AE) – O recuo do preço do barril de petróleo no mercado internacional nos últimos dias é considerado insuficiente por analistas do mercado para que a Petrobras deixe de reajustar o preço dos combustíveis no mercado interno. A questão é que o tão esperado aumento não veio até o dia 15, conforme aguardava a maior parte do mercado, aumentando as chances de contaminação da inflação no próximo ano.
A data tornou-se simbólica por dois motivos. Primeiro porque os dois últimos reajustes promovidos pela empresa entraram em vigor no dia que marca o meio do mês. O segundo é que esta data ajuda a diluição do impacto sobre a inflação em dois meses, já que apenas metade aparece no índice do mês em questão e os demais 50% no seguinte.
Segundo cálculos de Wagner Marchiori, diretor financeiro do BMC, a necessidade de reajuste dos preços dos combustíveis no mercado doméstico ante os externos é de 5% da gasolina na bomba e de 20% no caso do diesel. "O BC já manifestou sua preocupação na última ata", disse. O episódio, na ocasião, causou um mal-estar entre a autoridade monetária e a direção da estatal.
Para a economista Mônica Oliveira, do Banco Brascan, não é totalmente descartável a possibilidade de a Petrobras decidir por até mesmo não reajustar o preço da gasolina, já que nos momentos de maior turbulência no mercado de petróleo a empresa conseguiu absorver os impactos da commodity no mercado doméstico. "Já penalizaram tanto a empresa que agora o ajuste não é descartável, mas o aumento poderá ser pequeno", afirmou a analista do Brascan.
A ligação entre o que a Petrobras fará e a resposta da autoridade monetária é tão forte, na opinião do economista Alexsandro Agostini, da GRC Visão, que ele tem três apostas para o Comitê de Política Monetária (Copom) de dezembro de acordo com a decisão da estatal. Para ele, se os preços forem reajustados modicamente (em até 7% nas refinarias) até o dia da reunião do Copom deste mês, a Selic subirá 0,25 ponto porcentual em dezembro. "Isto significa que um outro reajuste virá e que haverá um novo impacto sobre a política monetária", avaliou.
No caso de o aumento não vir até o início de dezembro, mas ficar acima de 10% quando entrar em vigor, o Copom manterá a taxa de juros até que o comportamento do mercado possa ser avaliado. A terceira hipótese, a de que o reajuste não virá este ano, considera uma elevação da Selic de 0,50 ponto porcentual no último mês do ano. "Neste caso, segundo ele, o BC precisará evitar uma contaminação mais forte. "A questão é que, como a própria ata do Copom de outubro trouxe, o aumento pode ser postergado, mas não adiado", finalizou Agostini.