Petróleo impõe a BCs dilema entre preços e crescimento

A recente disparada no preço do petróleo deverá aumentar a pressão inflacionária em vários países e forçar os principais bancos centrais a escolher entre combater a inflação, apertando a política monetária, ou estimular uma atividade econômica ainda hesitante por meio de mais afrouxamento monetário.

O barril do petróleo do tipo Brent negociado em Londres chegou a superar US$ 125 na sexta-feira, o maior nível em nove meses. Foi uma reação à tensão política provocada pelo impasse do Ocidente com o programa nuclear do Irã e crises políticas em países árabes como a Síria.

No início da tarde de ontem, o barril do Brent cedeu para pouco mais de US$ 124, ainda acumulando neste ano alta de 16,5%. Já o barril do óleo WTI negociado no mercado futuro de Nova York aproximou-se da marca de US$ 110 na semana passada antes de ceder para US$ 108 ontem.

“Se o preço do petróleo permanecer no nível atual ou subir mais, a ação exigida dos bancos centrais seria a de apertar a política monetária para combater a inflação, forçando os BCs a dar uma pausa no ciclo de corte de juros ou voltar a elevar os juros”, disse à Agência Estado Nick Chamie, estrategista-chefe para mercados emergentes da RBC Capital Markets em Toronto.

Contudo, no caso do Brasil, Chamie não crê que o BC vá interromper o ciclo de afrouxamento monetário, mesmo que a disparada do preço do petróleo venha resultar em pressão inflacionária via reajuste de combustíveis. “O objetivo do Banco Central brasileiro de atingir juros básicos de um dígito levará a novos cortes de juros não importa o que aconteça (com o preço do petróleo)”, disse Chamie.

Ameaça

No caso dos bancos centrais de países desenvolvidos, como o Banco Central Europeu (BCE), a estrategista-chefe de câmbio do banco Scotia Capital, em Toronto (Canadá), Camilla Sutton, acredita que o combate à inflação terá maior peso sobre a política monetária. “A alta no preço do petróleo é uma ameaça inflacionária na zona do euro, o que poderá limitar a ação de políticas do BCE e reduzir as chances de futuras reduções na taxa de juros na Europa.”

Na opinião do economista-chefe internacional do ING em Londres, Rob Carnell, os BCs dos países mais desenvolvidos normalmente não reagem rapidamente à alta do petróleo. “Seria preciso uma alta mais forte para haver resposta dos BCs.”

Nos países emergentes, a resposta das autoridades monetárias dependerá se o país é importador ou exportador. Os estrategistas do banco JPMorgan em Londres ressaltam que a disparada nos preços do petróleo está pegando os BCs de países emergentes num momento diferente. “No ano passado, quando o petróleo subiu, os mercados emergentes estavam num ciclo de aperto monetário, agora estão num ciclo de afrouxamento.”

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