O atentado no final de semana na Arábia Saudita, que resultou na morte de 22 pessoas, mostrou, claramente, que os terroristas adotaram a estratégia de atacar companhias petrolíferas. Como resultado, o “ágio do medo” levou as cotações do produto a fecharem ontem em seus maiores valores nominais de todos os tempos. O cru leve para entrega em julho, vendido em Nova York, fechou com alta de US$ 2,45 (+6,1%), em US$ 42,33 o barril.
Anteontem, os mercados ficaram fechados nos EUA devido a um feriado local. Portanto, foi apenas nesta terça-feira que o real impacto do atentado pôde ser sentido. O preço do barril do petróleo nunca esteve tão alto em termos nominais – ou seja, sem considerar os efeitos da inflação – desde que começou a ser negociado em Nova York, há 21 anos.
“Para os otimistas, que argumentam que a alta nos preços do cru é conseqüência natural da forte expansão global, o crescente risco de choques no abastecimento deve ser preocupante”, dizem os estrategistas David Sekiguchi e Marcel Cassard, do Deutsche Bank.
Estratégia
O ataque do final de semana, realizado por supostos integrantes da Al-Qaeda na cidade saudita de Al-Khobar, foi o segundo no mês de maio visando a indústria de petróleo. Com isso, fica evidente a estratégia de tentar atrapalhar a cadeia de distribuição do cru.
Os operadores temem que esse possa ser o começo de uma ofensiva por parte do grupo terrorista, num momento em que os altos preços do óleo já estão pesando sobre os índices de crescimento global.
Medo
Representantes da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) disseram que o “fator medo” já foi responsável por um aumento de US$ 8 no preço do barril.
“O fator medo está ligado a incidentes políticos e geopolíticos no mundo e ao que está acontecendo no Iraque”, disse o ministro do Petróleo do Qatar, Abdullah bin Hamad al-Attiya. Ele reconheceu que a Opep pode aumentar a produção, mas não têm controle sobre os temores do mercado.
Em sua reunião de amanhã, em Beirute, espera-se que o cartel concorde com um aumento de 11% na cota de produção. Isto representaria, por dia, um milhão de barris extras no mercado – vindos principalmente da Arábia Saudita, o maior produtor mundial.
Fatores
Mas os preços do barril também têm sido pressionados por outros motivos. Entre eles, estão o alto consumo nos EUA e na China, restrições na indústria norte-americana de refinaria, ação de especuladores no mercado e a recusa da administração Bush de utilizar a Reserva de Petróleo Estratégica do país.
Dólar fecha o dia em queda
O recorde da balança comercial em maio, divulgado ontem, surpreendeu o mercado e contribuiu para a queda do dólar, deixando em segundo plano a preocupação com a alta do petróleo. A moeda norte-americana fechou em queda de 1,38%, para R$ 3,145. A divisa chegou a cair até 1,66%, na mínima de R$ 3,137. Anteontem, o dólar disparou 3,23%, para R$ 3,19, na maior alta percentual em 12 meses – um movimento que foi considerado exagerado.
A moeda dos EUA completou ontem 25 dias acima de R$ 3,00. Em janeiro, a divisa chegou a custar só R$ 2,79. A máxima do ano está em R$ 3,214, registrado no último dia 20 de maio.
A queda do dólar nesta terça-feira confirmou a avaliação de que as cotações foram pressionadas anteontem mais pelos tradicionais ajustes dos bancos na véspera do vencimento dos contratos futuros na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) do que pelas especulações sobre a reabertura dos negócios nos EUA e Londres.
Bovespa
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou praticamente estável, ontem, em queda de apenas 0,01%. O movimento financeiro superou R$ 1 bilhão, de novo, com 19.546 pontos.