Rio (AE) – A Petrobras admitiu ontem, pela primeira vez, que terá de rever sua meta de consumo de gás natural no País nos próximos anos por conta de um crescimento na demanda maior do que o esperado. Em debate hoje sobre o setor de gás natural promovido pela Associação Comercial do Rio de Janeiro, a gerente geral de Desenvolvimento de Mercado da estatal, Luciana Rachid, foi categórica ao dizer que o consumo deste combustível ?está crescendo mais do que a Petrobras havia previsto e isso necessitará de ajustes?.
A executiva, entretanto, deixou o local sem dar entrevistas para esclarecer qual seria o volume excedente entre o que se esperava e o que vem sendo consumido de fato. Até então, todos os executivos da empresa sempre negaram que as metas estivessem defasadas. Segundo o planejamento estratégico da Petrobras para o período até 2010, a previsão é de que o consumo cresça em média 10% ao ano, ante uma média de 20% em anos anteriores, incluindo 2005.
Na semana passada, a diretoria da estatal esteve reunida em local isolado em Petrópolis, na serra fluminense, para discutir a revisão de seu planejamento estratégico e, segundo fontes, o setor de gás seria um dos destaques destas alterações.
A meta de consumo de gás natural no País na casa dos 10% ao ano é o principal argumento da empresa para rebater previsões de especialistas que apontam falta do combustível já para 2008. A estatal vem sustentando a tese de que a entrada em produção do campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, em 2008, afastaria este risco. Mexilhão tem capacidade de produzir cerca de 12 milhões de metros cúbicos por dia. O detalhe que contradiz o argumento é o prazo de 45 meses estabelecido em edital para a construção da plataforma fixa que será instalada no campo. A plataforma ainda está sendo licitada e só deve ter seu contrato assinado no segundo semestre.
Outra falha no cronograma da Petrobras em relação ao atendimento à demanda nacional é o Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene), previsto para entrar em operação em 2008 para transportar o gás de Mexilhão para o Nordeste, o que atenderia às térmicas naquela região. O maior trecho do Gasene, de 900 quilômetros, num total de 1.400, ainda não tem licença ambiental e sequer teve seu processo licitatório concluído.
No debate de ontem, Luciana chegou a avaliar que a aceleração nas vendas de gás pode ser pontual, especialmente no que se refere ao gás natural veicular (GNV). Ela argumentou que a entressafra da cana-de-açúcar dá maior competitividade ao gás frente os demais combustíveis, ao passo que pressiona o preço do álcool para cima.
Outro ponto considerado crítico por analistas de mercado na pressão de demanda é a construção de novas usinas termelétricas, que usam o gás como combustível. O leilão de energia elétrica preparado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que acontece em maio deverá priorizar as usinas térmicas para atender a demanda prevista pelas distribuidoras para 2009. A necessidade de se fazer o lastro físico para estas usinas, na opinião do presidente do grupo British Gas, Luiz Carlos Costamilan, poderia ser feita com a construção de plantas de liquefação de gás para produção de GNL e também a de regaseificação (que transformam o GNL em gás novamente).
A medida, segundo ele, seria ideal para ser adotada principalmente no Nordeste, onde há maior volatilidade no despacho das térmicas. Além disso, lembra, não existe oferta que atenda a toda demanda naquela região. Segundo Costamilan, a BG tem todo interesse em participar em investimentos nestas unidades.
