Rio – Nos próximos meses, a diretoria da Petrobras fará uma série de reuniões para definir seu planejamento estratégico para 2004/10. No meio das discussões está uma proposta que promete ser das mais polêmicas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A estatal quer voltar a ter uma atuação forte no setor petroquímico brasileiro (fabricante de resinas e outros derivados que servem de matéria-prima para a indústria de plásticos) para fortalecer o segmento e aumentar as vendas desses produtos no exterior.
Forçada a vender suas participações na petroquímica em fins dos anos 90, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (hoje a estatal tem participações de no máximo 15% nas centrais fornecedoras de matéria-prima através da Petroquisa), agora a empresa ensaia um retorno.
Segundo fontes ligadas ao processo, isso poderá custar um investimento inicial da ordem de R$ 1 bilhão. Muita gente vem encarando isso como uma reestatização do setor, mas o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, tem dito que a empresa quer voltar a participar da gestão das empresas, sem que isto signifique reestatização. Como será exatamente a volta da Petrobras à petroquímica ainda não está decidido.
– Queremos voltar a ter participação na gestão, mas nada está certo – afirmou um alto dirigente da estatal.
De fato. Mas uma olhada no estudo “A internacionalização de empresas no capitalismo contemporâneo: breves notas sobre a inserção competitiva da indústria petroquímica brasileira”, de autoria dos professores de economia nas Faculdades de Campinas (Facamp) João Manuel Cardoso de Mello, Luiz Gonzaga Belluzo, Célio Hiratuka e Rodrigo Sabattini, dá boas pistas sobre as propostas que estão na mesa.
Afinal, o estudo está nas mãos dos executivos da Petrobras que decidem o futuro da estatal no setor. E muitos executivos do setor já foram sondados pela própria estatal. O que ouviram, contam eles, bate com algumas sugestões da Facamp. A principal delas é que a Petrobras seja sócia de empresas de primeira (as centrais de matéria-prima) e segunda gerações (as resinas termoplásticas) do setor nos três pólos do País: o de Camaçari, no Nordeste, o de Triunfo, no Sul, e a PQU, em São Paulo.
A idéia, diz um executivo, é que a empresa se torne sócia da maior empresa petroquímica do País, a Braskem, que fatura anualmente cerca de R$ 10 bilhões e é hoje controlada pelos grupos Odebrecht-Mariani, que detêm 58% da empresa. A Petrobras já tem 11,1% da companhia e essa participação seria ampliada para 33%. Odebrecht e Mariani ficariam com outros 33%. O restante continuaria nas mãos de fundos de pensão e pulverizado no mercado. A Braskem é a maior empresa de Camaçari e dona de parte da Copesul.
Paralelamente, a estatal compraria o braço petroquímico do grupo Ipiranga, outro sócio da Copesul. A última etapa seria a compra de uma participação maior na central PQU, no Sudeste.
Setor petroquímico precisa de recursos
Pelo estudo feito pelos professores da Facamp, se a Petrobras não entrar no setor “serão remotas as chances da indústria petroquímica brasileira se tornar competitiva internacionalmente ou ser capaz até de sobreviver em bases patrimoniais nacionais”.
A idéia é que a estatal entre no setor para consolidá-lo com políticas abrangentes (desenvolvimento de pesquisa, investimento em infra-estrutura, ampliação de ações nas bolsas, desoneração tributária, entre outras medidas) e políticas setoriais (incentivo à fusões e aquisições, reestruturações financeiras, coordenando a política comercial, especialmente de exportações).
Segundo o estudo, o conjunto de cadeias produtivas petroquímicas de países em desenvolvimento possui grande presença estatal (bem como alguns países industrializados). Os professores citam China, Coréia do Sul, Irã, Malásia e Taiwan como exemplos.
Para a Petrobras, segundo uma fonte da empresa, vale agregar valor aos seus produtos. Hoje, ela fornece apenas a nafta, matéria-prima, para a indústria.
Há quem ache a idéia absurda. Um empresário do setor que prefere não se identificar condena a volta da Petrobras à petroquímica. Segundo o executivo, seja comprando uma empresa como a Ipiranga (que representaria um investimento da ordem de R$ 600 milhões), seja se associando a um outro grupo, significará uma concorrência desleal com os demais grupos petroquímicos que atuam no País, por ser a fornecedora majoritária da matéria-prima.
O que quer que se fale sobre as intenções da empresa, ela segue com seu projeto. A Petrobras já teria, inclusive, contratado o Banco Itaú para realizar as sondagens dos possíveis negócios.
As oportunidades são boas neste momento. O grupo Ipiranga pôs seus ativos à venda com seus sócios querendo se afastar do setor. A Braskem amarga um endividamento gigante de R$ 5,5 bilhões e um aporte de novo sócio daria alívio a este endividamento. A PQU, central do pólo mais antigo do País, aceitaria de bom grado um novo sócio para modernizar suas instalações. Este pólo, inclusive, segundo fonte do setor, seria fundido ao nascente Rio Polímeros, pólo gás-químico do Rio do qual a Petrobras já participa, fortalecendo o setor no Sudeste.