Petrobrás vai absorver aumento do gás

Dois dias após abrir com a Bolívia negociações sobre a crise do gás, concordando com a possibilidade de discutir reajustes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou ontem tranqüilizar os consumidores, afirmando que não haverá repasse de eventuais aumentos.

"Primeiro, quero dizer a vocês: não acontecerá nada com os consumidores brasileiros, porque não tenho dúvida nenhuma de que a Bolívia vai cumprir os contratos com o Brasil. Não tenho dúvida nenhuma de que o gás não vai aumentar. E se aumentar, vai aumentar para a Petrobras, não para o consumidor brasileiro."

Na quarta-feira, com um discurso extremamente duro – bem diferente do adotado por Lula – o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, anunciou a total suspensão de novos investimentos na Bolívia e a decisão da Petrobrás de não aceitar reajuste no preço do gás.

Ontem, durante a inauguração da usina hidrelétrica de Aimorés, uma parceria entre a Vale do Rio Doce e a Cemig, Lula dedicou todo o discurso a esclarecimentos sobre a posição que mantém em relação à Bolívia que, segundo ele não agride os interesses comerciais da Petrobras. E rebateu as críticas de que sua postura com o país vizinho está sendo muito passiva.

"Estou há três anos no governo e não consegui brigar com o (George W.) Bush (presidente dos EUA), que é aquela potência. Por que vou brigar com a Bolívia? Não tem sentido", disse o presidente.

Lula afirmou que é preciso fazer um acordo. "O Brasil precisa do gás deles, eles precisam do Brasil, que é um grande consumidor. Negociando vamos encontrar o equilíbrio. Tem gente que acha que ser duro resolve o problema. Eu, às vezes, acho que ser carinhoso resolve mais do que ser duro."

Depois de qualificar a Bolívia como um "país pobre da América do Sul", o presidente afirmou que o país vizinho "só têm o gás. É justo que queiram tirar do gás uma fonte de enriquecimento para eles. O Brasil, perto da Bolívia, é um país rico. Queremos continuar utilizando o gás da Bolívia. E se amanhã a Bolívia não tiver, vamos procurar outros caminhos".

Lula deu a entender que o governo brasileiro e a Petrobras vão se guiar por propósitos comerciais nas negociações. "Acho que a Bolívia tem o direito de tomar a sua decisão soberana", repetiu, para depois afirmar que "a Petrobras tem o direito de exigir o pagamento pelos investimentos que fez. Como eu acho que a Bolívia tem o direito de exigir um preço justo pelo gás; acho que o Brasil tem que defender os interesses e o preço justo para seus consumidores. Essa é a regra do jogo."

O presidente também procurou pontuar suas declarações sobre a possível continuidade de investimentos da Petrobras na Bolívia. "A Petrobras é uma empresa, e como empresa investirá em qualquer lugar do mundo que lhe permita investir e ter o retorno do capital investido, e mais o lucro."

O presidente destacou, ainda, que parte da indústria brasileira é dependente do combustível boliviano. "Só que algumas pessoas esqueceram que o gás não era nosso", disse ele, lembrando que a crise era previsível: o presidente boliviano Sanchez de Losada caiu por causa uma crise ligada ao gás, lembrou, e um plebiscito em 2004 mostrou que 92 por cento dos bolivianos aprovavam a estatização do setor.

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