Apesar de admitir que o Brasil possa enfrentar problemas de abastecimento de gás nos próximos dias, em decorrência da crise política na Bolívia, a Petrobras descarta o risco de racionamento. A informação foi dada ontem pelo diretor da área internacional da estatal brasileira, Nestor Cerveró.
Os primeiros sinais de desabastecimento podem ocorrer, segundo ele, entre seis e sete dias, devido à dificuldade no escoamento dos combustíveis líquidos na Bolívia, já que os reservatórios estão perto do limite.
Segundo a secretária de gás e energia do Ministério de Minas e Energia, Maria das Graças Forte, o governo brasileiro ainda não definiu prioridades e estratégias para a redução da demanda de gás.
?Até amanhã (hoje), acho que tudo estará definido?, afirmou. Nenhum dos dois chegou a definir quais tipos de gás – industrial, veicular, doméstico ou de botijão – corre mais risco de faltar.
As declarações foram dadas na cerimônia de inauguração da plataforma P-47, no Rio de Janeiro.
Anteontem, o governo e a Petrobras anunciaram a elaboração de um plano de contingência para evitar que a crise institucional da Bolívia provoque a interrupção do abastecimento de gás natural no Brasil.
A Petrobras importa cerca de 24 milhões de metros cúbicos de gás natural boliviano por mês.
Mercado
O anúncio da possibilidade de desabastecimento já repercutiu no mercado financeiro. A ação preferencial classe ?A? da Comgás chegou a recuar quase 8%, cotada a R$ 213 e liderou o grupo das maiores baixas do Ibovespa – carteira dos papéis mais negociados do pregão. Na semana, a ação da empresa já acumula perdas superiores a 18%.
Atualmente, 40% do gás importado da Bolívia é consumido em São Paulo, sobretudo na região metropolitana da capital paulista. Esse total importado da Bolívia representa 75% do consumo de gás natural no Estado.
Abastecimento é prioritário
Dirigentes de distribuidoras de gás natural – entre eles o presidente da Companhia Paranaense de Gás (Compagas), Rubico Camargo, estiveram ontem na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em reunião com a ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, para definir a participação das empresas no plano de contingência no consumo do gás natural.
O plano será elaborado pela Petrobras e pelo Ministério das Minas e Energia (MME), em conjunto com as distribuidoras, para garantir o abastecimento prioritário de gás natural no país caso a crise política na Bolívia se agrave. ?No Paraná, nossa prioridade é garantir o cumprimento dos contratos com os clientes?, disse Rubico.
O consumo da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, chega a 540 mil m3/dia. Esse volume corresponde a 43% dos cerca de 1,24 milhão de m3/dia de gás natural consumidos no Paraná. A Compagas vende em média 700 mil m3/dia para os clientes dos mercados veicular, comercial, industrial, residencial e de geração de energia. ?Com a redução do consumo da Repar, vamos ter um fôlego para que o consumo dos clientes continue normalizado?, afirmou Rubico Camargo.
Petrobras precisa ?ousar?
Ao fazer um discurso repleto de elogios à Petrobras, durante a cerimônia de entrega da plataforma P-47 à Petrobras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que falta ousadia à estatal.
?Ainda falta ousadia, porque, às vezes, ela (a Petrobras) não tem dimensão de sua grandeza. Tem muito espaço em muito país do mundo para a Petrobras, muito buraco para gente fazer no mar e fora do mar pra retirar petróleo?, disse Lula, lembrando que a Petrobras, assim como a Companhia Vale do Rio Doce, é bem vista em todos os lugares que visita.
?A Petrobras é a mulher com que todo mundo quer casar. A Arábia Saudita quer casar com a Petrobras, mas a Petrobras tem medo porque ela é um pouco maior. O Chávez (presidente da Venezuela, Hugo Chávez) quer que eu e ele sejamos padrinhos de um casamento com a PDVSA?, brincou Lula.
Álcool
O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmou ontem que somente a demanda do Japão por álcool carburante poderá ser equivalente aos 2,5 bilhões de litros exportados pelo Brasil no ano passado. Segundo ele, a Petrobras, a Vale do Rio Doce e a Mitsui estão negociando com o governo do país um plano de detalhamento das exportações, que deverá ficar pronto em 12 meses.