O que acontecerá na Grécia na segunda-feira é tão imprevisível quanto o resultado do plebiscito deste domingo, de acordo com especialistas ouvidos pelo Wall Street Journal. Desde que assumiu o cargo em janeiro, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, tem tomado decisões surpreendentes para grande parte das pessoas.
Entre as medidas, a realização de um plebiscito sobre as demandas dos credores, quando um acordo finalmente parecia próximo, tomou muitos dirigentes europeus de surpresa. Agora, a maneira como o premiê e seu partido de esquerda Syriza reagirão aos resultados, sejam eles quais forem, poderia determinar se a Grécia sairá da zona do euro. Os sinais de Tsipras têm sido considerados enigmáticos.
O dirigente grego fez campanha pelo “não” às condições de resgate dos credores, insistindo que isso daria ao país uma posição de barganha melhor. No entanto, tal voto tornaria mais difícil atender os pedidos da Alemanha e outros credores para reformas econômicas no país. Tsipras teria de mostrar um tato diplomático até agora inexistente.
E um voto “sim” poderia dificultar a continuidade de Tsipras no cargo. Mas isso não significa que ele deixaria de tentar se manter no poder.
“A pior coisa é que a sociedade grega, as famílias gregas, as empresas gregas não podem fazer quaisquer previsões”, disse Theodore Couloumbis, professor emérito de política na Universidade de Atenas.
Tsipras disse na semana passada que ele não é um primeiro-ministro feito para todos os tipos de condições, insinuando que renunciaria caso o voto “sim” vença. Com isso, ele também abriu a possibilidade da chegada de um novo governo tecnocrata mais atraente aos credores. Mas, tendo em vista que os gregos sofreram com uma semana de fechamento de bancos e limitações para saques em caixas eletrônicos, pesquisas de opinião mostraram que a votação foi ficando mais apertado, o que poderia levar a uma mudança no tom do premiê.
A vitória apertada do “sim” poderia dar a Tsipras a chance de alegar que o resultado ainda é uma vitória para o governo grego, dada a forma como os gregos se assustaram em face dos controles de capitais.
Já uma vitória do “não” deve reforçar a posição dominante de Tsipras na Grécia, mas essa popularidade pode ter curta duração, se a decisão colocar a Grécia no caminho da falência. Esse é um risco considerável, dada a relutância da Europa para financiar um país que rejeita sua austeridade e revisa o diagnóstico. A maioria dos gregos quer se manter o euro.
“Se eu estivesse na posição de Tsipras, eu desejaria a vitória do ‘sim’, mas com uma diferença marginal do ‘não'”, disse John Loulis, um analista político baseado em Atenas na consultoria de comunicação STR. “A única coisa que poderia forçá-lo a deixar o cargo será um forte resultado do ‘sim'”.
Muitos dirigentes internacionais têm perspectivas claras de que prefeririam outro interlocutor a partir de segunda-feira. Dirigentes de Berlim dizem que não podem confiar em Tsipras para implementar um novo programa de resgate, mesmo se assinar um pacto nesse sentido.
Os credores estariam mais confortáveis com o apoio de uma coalizão multipartidária a um governo interino, liderado por um primeiro-ministro tecnocrata. O ex-banqueiro central Lucas Papademos liderou um governo parecido no final de 2011 e início de 2012, quando concluiu o segundo programa de resgate da Grécia.
O possível alento para Tsipras é que renunciar permitiria se afastar até que reformas dolorosas fossem implementadas. Em seguida, ele poderia voltar ao poder através de eleições com popularidade reforçada.
Se gregos votarem “não” e a Europa não oferecer à Grécia um acordo de resgate brando, o que é o cenário mais provável, muitos analistas e dirigentes dizem que Tsipras poderia enfrentar uma verdadeira ira do público, pela primeira vez.
O premiê insistiu que um “não” levaria a um acordo de resgate menos oneroso dentro de dois dias. Alguns analistas dizem que a reação poderia vir rapidamente, se for verificado que Tsipras pode não entregar a promessa.
“A queda de legitimidade de Tsipras será rápida. Ele terá de renunciar dentro das primeiras semanas”, disse Dimitris Keridis, um professor associado de política internacional na Universidade Panteion, em Atenas. Fonte: Dow Jones Newswires.