Inaugurada em 2003, a unidade brasileira da Perkins conta com números de fazer inveja. Ocupando as instalações da antiga Detroit Diesel, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), a fábrica começou com uma produção inicial de 5 mil motores. No ano passado, a produção dobrou, passando para 10 mil unidades. Para este ano, a expectativa é dobrar mais uma vez e chegar a 20 mil unidades produzidas. O quadro de funcionários acompanhou o crescimento: passou de 40 trabalhadores, em 2003, para cerca de cem. Num cenário econômico pouco favorável, com a taxa de juros elevada e o dólar desvalorizado, alcançar tais números é mérito para poucos.
Especializada na produção de motores com potência de 70 hp (52,2 kW) a 182,5 hp (136,1 kW) para equipamentos fora-de-estrada dos segmentos agrícola, industrial e de construção, a Perkins Brasil – a primeira fora da Inglaterra – tem em seu portfólio quatro grandes clientes: a AGCO, cujo produto mais conhecido é a Massey Ferguson; a fabricante de pulverizadores Jacto; a Catterpilar Brasil, que atua na área de construção – as três brasileiras -, além da norte-americana Nacco, que fabrica empilhadeiras.
De acordo com o diretor-geral da fábrica de Curitiba, José Moreira Neto, o quinto cliente (que tem instalações fora do Brasil) já está com contrato fechado, e as exportações devem começar em breve. ?O setor de exportação está bastante forte. A questão cambial é uma preocupação na competitividade das empresas, mas há contratos que precisam ser honrados?, apontou Moreira Neto. ?É um impacto de médio e longo prazo que está sendo sentido.?
Para a Perkins Brasil, a questão cambial é de fato relevante. Segundo Moreira, 50% da produção vai para o mercado externo, outros 20% também vão para fora do País, mas indiretamente – caso de máquinas agrícolas -, restando apenas 30% para o mercado interno.
Sobre a taxa de juros elevada, Moreira afirmou que o impacto maior está na relação com a taxa cambial. ?Há uma pressão sobre custos e impacto nas exportações. Mas temos que ser competitivos por nós mesmos, e é esse o desafio: se preparar para enfrentar essas situações?, apontou. ?São coisas que acontecem, e a gente tem que estar preparado para tudo isso.? Outro ponto negativo que afetou a fábrica é a crise do setor agrícola, tanto pela estiagem que quebrou safras, como pelas commodities agrícolas em baixa, sem contar o dólar desvalorizado. Segundo Moreira, de forma geral houve uma queda de 10% a 15% nas vendas para as fábricas de máquinas agrícolas este ano, na comparação com o ano passado. Por outro lado, o setor de construção – também atendido pela Perkins – tem se mantido estável no Brasil e com crescimento fora do País.
Nacionalização
De acordo com Moreira, um ponto bastante positivo para a fábrica tem sido a nacionalização do componentes. Segundo ele, 45% dos componentes utilizados na produção este ano são nacionais. No ano que vem, a participação deve passar de 60% – acima dos requisitos normais de nacionalização e de mercado.
Para o diretor da fábrica de Curitiba, ter uma base de fornecedores no Brasil é muito positivo. ?Para nós é importantíssimo. Há fornecedores, inclusive, que estão fornecendo não só para nós como para a Inglaterra (sede mundial da Perkins)?, contou, referindo-se à catarinense Tupy, que atua na fundição de cabeçotes de motores. ?A nacionalização é importante do ponto de vista operacional. Fica mais fácil atender as mudanças. Outro aspecto é que nos tornamos mais competitivos lá fora, com motores de custo menor.?
Apesar disso, a Perkins conta com outro desafio: concorrer no País com motores que não contam com o mesmo nível de tecnologia e portanto têm um custo diferenciado. ?Lá fora, exigem tecnologia mais avançada, como controle mais rigoroso de emissão de poluentes e ruído. E para exportar, precisamos fabricar motores assim. Já no Brasil, com as exigências menores, acabamos concorrendo com aquelas que não apresentam os mesmos requisitos e portanto têm um diferencial de custo?, afirmou.
Apesar de tudo isso, a Perkins tem projeções bastante otimistas: quer dobrar mais uma vez a produção no ano que vem e chegar à capacidade máxima de produção – 45 mil a 50 mil motores – entre 2008 e 2010.