Nos anos 80, a Ford tinha uma demanda específica para a linha de montagem da picape Pampa. Alguns trabalhadores precisavam ter no máximo 1,5 metro de estatura e 45 quilos de peso. “Só assim eles conseguiam entrar embaixo do veículo para colocar o parafuso que prendia a pedaleira”, lembra Rafael Marques, funcionário da montadora na época e atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Hoje, segundo ele, há uma máquina para apertar parafusos e “ninguém mais precisa ir para debaixo dos carros”.

continua após a publicidade

Francisco Antonio Mapeli, metalúrgico da Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo há 27 anos, conta que era preciso ter força para realizar diversas tarefas. “Muita coisa era feita no braço”, resume. A ‘apertadora’ usada para colocar uma roda, por exemplo, pesava cerca de 20 quilos. Atualmente, pesa entre sete e oito quilos.

Mapeli entrou na Mercedes aos 32 anos. Antes, trabalhava por conta, em serviços de doceria. Tinha o ginasial incompleto e fez cursos de mecânica na própria empresa. Hoje, aos 60 anos, faz a revisão dos veículos que saem da linha de montagem. Torce para que o filho, Rafael, contratado em 2004, quando tinha 24 anos, também faça carreira na fabricante de caminhões e ônibus.

“As exigências hoje são diferentes, pedem curso de faculdade e outras coisas, mas ele certamente vai ter mais oportunidades”, diz Mapeli.

continua após a publicidade

“Tranquei a faculdade de engenharia, por problemas financeiros, mas pretendo voltar no meio do ano”, conta Rafael, hoje com 32 anos.

A Mercedes foi o primeiro emprego de Rafael com carteira assinada. Antes, trabalhou por quatro anos numa loja e depois numa copiadora. Fez diversos cursos nas áreas de mecânica e elétrica no Senai e diz que, pelas histórias que ouviu do pai, o trabalho é muito melhor agora. “Antes não tinha tantos equipamentos, o serviço era mais braçal. Agora tudo é automatizado”, diz ele, que é montador na área de caminhões.

continua após a publicidade

Na Fiat de Betim (MG), João Paulo de Rezende Trindade também foi contratado em 2004, aos 19 anos, na linha de produção de transmissões. Tinha curso técnico de eletrônica e na sequência entrou para a faculdade de engenharia eletrônica – que trancou após o nascimento do filho, mas tem planos de recomeçar. Hoje na função de instrumentista veicular, quer fazer carreira na companhia como analista na área de engenharia.

O pai, Milton da Trindade, de 59 anos, completa 35 anos de Fiat em julho. Tinha só o primeiro grau quando entrou para a categoria metalúrgica. “Hoje há muito mais segurança no trabalho, maquinários mais modernos, mais recursos, é muito mais fácil executar as tarefas”, afirma ele, que atualmente é verificador de qualidade.

“O emprego numa montadora ainda é bastante cobiçado”, diz o professor José Pastore, da FEA/USP. “É de boa qualidade, tem remuneração alta, benefícios generosos e uma relativa estabilidade, pois normalmente a empresa só dispensa mão de obra qualificada quando há uma crise, já que investe muito na sua formação.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.