Enquanto a concessão de crédito segue em expansão, a taxa de inadimplência mostra uma tendência de suave queda. A explicação para o fato do nível de endividamento não acompanhar a mesma tendência da expansão do crédito é a qualidade do perfil do tomador.
Segundo dados do Banco Central, o estoque de crédito no Brasil atingiu R$ 908 bilhões em novembro de 2007. A estimativa para 2008, segundo o analista da Tendências Consultoria, Denis Blum, é de uma expansão de 18,4% no crédito líquido, em termos reais. Enquanto isso, a taxa de inadimplência de pessoa física para prazo superior a 90 dias, que apresentava estabilidade desde agosto, ficou em 7% em outubro, a menor apurada no ano de 2007. Em novembro, a taxa teve leve alta, para 7,1% e a estimativa de Blum é que o índice encerre 2007 entre 7% e 7,2%. Em novembro de 2006, a inadimplência era de 7,7%.
A projeção otimista em relação à taxa está ligada ao contexto em que o Brasil se encontra, com PIB em ascensão, inflação baixa, desemprego decrescente e uma leve elevação da renda familiar. Nesse cenário, o crescimento da massa salarial e o aumento de consumidores com vínculo formal de trabalho têm facilitado a comprovação de renda, assim como a concessão de crédito. "Isso possibilita a entrada de bons tomadores no mercado de crédito, o que tende a reduzir os níveis de inadimplência", analisa Blum. A opção por crédito consignado também contribui para um compromisso maior com a quitação dos débitos, tanto nos casos de desconto direto em folha de pagamento, como nos de financiamento de automóveis.
Quitar dívidas
Mas o brasileiro também tem mostrado preocupação em quitar suas dívidas, o que se comprova pelo grande número de credores utilizando o 13º salário para regularizar suas pendências financeiras. Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), pelo quarto ano consecutivo, o número de carnês em atraso em dezembro que foram pagos ou renegociados superou o número de carnês atrasados no mês. No caso de dezembro de 2007 foram 418.021 cancelamentos contra 385.602 registrados.
"Isso revela um consumidor bastante comprometido em recuperar seu nome", analisa o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri. No entanto, ele pondera que as vendas no final do ano foram muito boas, e podem influenciar num leve aumento da inadimplência que começa a aparecer nos meses de março, abril e maio. "Teremos uma tendência de ligeira alta. Significa que devemos ficar em estado de alerta, mas é só um sinal amarelo, pois o patamar ainda é baixo", alerta.
Para Alfieri, o Brasil hoje está mais maduro em relação aos níveis de endividamento. "Nós já tivemos várias crises. Desde a implantação do Plano Real, há uma cautela tanto por parte dos consumidores quanto dos comerciantes", analisa. Ele considera que o consumidor tem sido prudente, que os bancos têm mais estrutura para lidar com a situação de inadimplência e que houve muito aprendizado com lições do passado.