A Brasil Foods (BRF), novo nome oficial da Perdigão, anunciou ontem que espera captar R$ 4,48 bilhões com uma emissão de ações – contando-se o lote suplementar, esse valor deve superar os R$ 5 bilhões. Cerca de 80% desses recursos serão destinados à liquidação de dívidas da Sadia, que está sendo incorporada à companhia. A BRF fará uma oferta de 115 milhões de novas ações, com possibilidade de mais 17,25 milhões de ações em um lote suplementar, e tomou por base em seus cálculos um preço de R$ 40. O preço final da oferta, no entanto, só será anunciado no próximo dia 21, após o encerramento do período de reserva de ações.
Do total previsto de R$ 4,48 bilhões a ser captado, R$ 3,52 bilhões devem ser destinados ao pagamento de dívidas da Sadia. O restante deve ficar em caixa, “visando equilíbrio de nossa estrutura de capital consolidada”, diz o prospecto da oferta publicado no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No prospecto, a BRF demonstra todos os pagamentos que devem ser honrados em 2009 e 2010 utilizando os recursos captados na oferta. Somente para pagamento de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), por exemplo, serão utilizados R$ 1 bilhão este ano e R$ 640 milhões em 2010.
Ao final de março, as dívidas da Sadia com instituições financeiras somavam R$ 8 bilhões. Os pagamentos têm vencimentos que variam de um a 132 meses e as taxas de juros vão de 5% a 12,5% ao ano. A empresa viu o seu endividamento crescer após o episódio com derivativos tóxicos, que resultou em perdas de R$ 2,6 bilhões para a empresa no ano passado e foi fator decisivo para o avanço nas negociações para uma associação com a Perdigão.
Esta semana, as duas empresas assinaram com o Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) acordo para que a união entre elas, no âmbito administrativo e comercial, fique suspensa até o julgamento final da fusão pelo órgão antitruste. Ao mesmo tempo, no entanto, o Acordo de Preservação da Reversibilidade da Operação (Apro) permite à Perdigão fazer a reestruturação financeira da Sadia. E o prospecto divulgado ontem confirma a intenção da companhia de sanar os problemas financeiros da Sadia antes de aprovada a fusão. Os atuais acionistas de Sadia e Perdigão terão prioridade na distribuição. Do total das ações ordinárias ofertadas, 10% serão destinadas ao varejo.