A falta de chuvas que vem assolando o Estado desde a segunda quinzena de fevereiro está tirando o sono de produtores rurais e do governo. O Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria de Agricultura e do Abastecimento (Seab), admite que já há perdas consideráveis, na casa das 600 mil toneladas, principalmente nas lavouras de milho e feijão da segunda safra.

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Sem enxergar perspectivas de melhoras, o vice-presidente e diretor de políticas agrícolas da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep), Mario Plefk, teme que se algo não for feito agora, o produtor rural pode ficar em maus lençóis. “Estamos chegando em um ponto que estamos tendo que pagar para trabalhar. As perdas têm sido consideravelmente altas”, desabafa o dirigente sindical.

De acordo com Plefk, a questão dos financiamentos estaria comprometida para o agricultor. “Os empréstimos preveem que se der três estiagens na mesma cultura, o bloqueio de empréstimo é automático. No caso do milho, desde o ano passado estamos com problemas em decorrência das condições meteorológicas. Se algo não for feito em nosso benefício, temo que haja aquele velho problema de êxodo rural, que foi comum nas décadas de 70 e 80”, afirma.

Além dos produtores de milho, feijão e soja, Plefk alerta que a produção do leite no Estado pode ser atingida com a estiagem. “Geralmente no verão chove bastante e isso garante uma boa pastagem para o gado. Entretanto, esse ano foi diferente e o produtor corre o risco de chegar no inverno sem pasto. Se isso ocorrer, fatalmente a produção leiteira sofrerá com esse problema”, alerta.

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Para o dirigente sindical, o ideal seria que o governo federal fizesse um estudo de zoneamento agrícola para determinar quais lavouras se adaptariam melhor em um período do ano. “Isso faria com que a gente soubesse qual a melhor cultura para se apostar e possivelmente diminuiria o prejuízo sensivelmente”, garante. Ele também espera um amparo maior do governo federal para o pagamento das dívidas dos agricultores. “Isso faria com que o agricultor tivesse mais tempo para capitalizar e pagar suas dívidas”, encerra.

Números

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O secretário de agricultura, Valter Bianchini, alerta que o milho e o feijão safrinha devem apresentar perdas de, no mínimo, 10%. “Nós tivemos perdas significativas com a safra de verão e agora estamos sofrendo os efeitos com a safrinha. Esperamos que as chuvas retornem logo, desde que venham de forma ordenada e regular, pois do contrário, o prejuízo poderá crescer ainda mais”, avalia o secretário.

Ele revela que a produção total de grãos no Estado, da safra 2008/2009 (verão e inverno) deve apresentar uma quebra de 19%. “No ano passado, atingimos a marca de 32,21 milhões de toneladas, que foi um recorde. Esse ano, a marca deve se reduzir para 26,21 milhões toneladas. Isso representa seis milhões a menos e deve gerar impactos na economia do Estado”, explica.

Empréstimos

Para evitar que o agricultor sofra muito com o prejuízo, o secretário Valter Bianchini, informa que o Estado está trabalhando junto aos produtores rurais e com as cooperativas para ampliar o prazo do pagamento dos empréstimos. “Quem planta somente grãos, como milho e soja, está sentindo mais os efeitos da estiagem de quem trabalha com fruticultura e pecuária, por exemplo. Esperamos que os empréstimos feitos até o momento possam ser prorrogados”, diz.

Bianchini comenta que uma saída para o agricultor não sofrer tanto com a estiagem está na diversificação das atividades e na proteção do meio ambiente. Para o secretário, o fato de ampliar as lavouras faz com que o produtor rural não fique refém de apenas uma atividade agrícola e proteger matas ciliares, nascentes, fazer o bom uso do solo, entre outros, também amenizam os danos causados pela estiagem.

O secretário comenta que, por enquanto, as regiões que estão em situação mais preocupante são o sudoeste, o oeste e o noroeste do Paraná. Nesses locais, os efeitos da estiagem estão sendo mais nocivos. “Os agricultores no centro-sul do Estado estão sofrendo menos com a seca, pois a&,iacute; houve mais chuvas que nas outras regiões”, conta.

Apesar da crise gerada pela seca, o secretário afirma que a avaliação de perdas para a segunda fase de grãos está sendo menor do que o esperado. Mesmo com a quebra de 10% do milho safrinha, diz, o resultado dessa cultura será melhor do que a do ano passado. A estimativa para a lavoura do trigo continua otimista e ela pode ser a salvação do estado para recuperar a produção de grãos, posto em que o Paraná lidera no Brasil. Segundo o secretário, houve uma expansão na área plantada e a produção gira em torno de 2,94 milhões a 3,25 milhões de toneladas, se equiparando ao ano anterior, que atingiu 3,21 milhões de toneladas.