Prioridade de Dilma Rousseff desde os tempos em que comandava a secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, a usina termoelétrica de Candiota III acumula erros de projeto e problemas que contribuem para um cenário de perdas até 2024. Falhas na geração de energia, potencializadas pela estiagem que reduziu o volume dos reservatórios das hidrelétricas, podem impor à Eletrobrás prejuízo de R$ 1,7 bilhão nos próximos dez anos.

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A participação da hoje presidente da República no empreendimento teve início em 1998. Depois de 17 anos com o projeto engavetado, a então secretária estadual de Energia transferiu o projeto para a Eletrobrás.

Seis anos depois, quando Dilma ocupava o Ministério de Minas e Energia no governo Lula, ela testemunhou a assinatura de um acordo com a China para construção e financiamento do empreendimento. Dilma e Lula lançaram a pedra fundamental da usina em 2005 e a construção começou em 2006.

Movida a carvão, a usina tem problemas desde o primeiro ano de funcionamento. O prejuízo é fruto de erro no projeto da caldeira, onde o carvão é queimado para produzir energia. Ao elaborar o projeto, a empresa chinesa Citic Construction não levou em conta a abrasividade do carvão brasileiro. As cinzas do mineral nacional produzem sílica e cristais de quartzo, que ao se depositarem nas paredes da caldeira acumulam mais calor e geram rachaduras ou furos.

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Nos últimos anos, apenas essa característica foi responsável pelo surgimento de pelo menos nove furos nas tubulações da caldeira da usina. Toda vez que isso ocorre, é preciso desligar a usina para o conserto, mas o processo de resfriamento da caldeira leva dias. Depois que é soldado, a produção pode ser retomada.

Devido à recorrência do problema, a usina não consegue gerar toda a energia que vendeu no leilão realizado em 2005 – leilão prévio que garante o empreendimento -, ao todo 292 MW médios. Na divulgação do balanço de 2013, o presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho Neto, informou que Candiota não consegue produzir 50 MW médios. A principal razão é a falha no projeto da caldeira, mas esse não é o único problema, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que fiscaliza o empreendimento.

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Candiota III é classificada pelo governo como “estratégica na matriz energética nacional”, de acordo com nota enviada pelo Palácio do Planalto ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. O projeto chinês está sendo alvo de arbitragem internacional aberta pela Eletrobrás.

Limitação

Em 2005, a usina se comprometeu a fornecer os 292 MW médios em um leilão do governo federal. A limitação imposta pela instabilidade operacional da caldeira, somada a outros problemas, vem obrigando a Eletrobrás a adquirir no mercado livre a energia que não consegue produzir. É neste ponto que a estiagem prolongada dos últimos dois anos potencializa as perdas da estatal.

Ao participar do leilão, a Eletrobrás ofereceu o megawatt/hora da energia a R$ 129,50. Mas para adquirir a energia no mercado à vista, a estatal paga hoje R$ 822,83. O prejuízo seria menor se o preço fosse mais baixo no mercado à vista ou se a caldeira estivesse em plena operação.

A Aneel informou que Candiota III passou por várias manutenções nos últimos três anos. Além do furos nas tubulações da caldeira, a Aneel menciona problemas que requerem uma ação mais efetiva da empresa em busca de uma solução definitiva.

“Essas indisponibilidades são causadas por problemas em seus equipamentos, principalmente por furos nas tubulações da caldeira na região dos queimadores, vibrações excessivas verificadas na turbina, avarias frequentes do sistema de extração e transporte de cinzas, e outras.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.