Rio

– As pequenas empresas La Cuccina, do segmento alimentício de Brasília, e Kolbe, da área de higiene, de Salvador, têm mais em comum do que o fato de terem sido criadas há menos de cinco anos. Ambas são exemplos da capacidade de criação de empregos dos pequenos negócios no País, confirmada em estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As duas começaram a produzir em ambiente doméstico e aumentaram em curto período de tempo o número de funcionários.

O trabalho do BNDES conclui que a alta taxa de mortalidade das empresas de pequeno porte não impede que elas representem um papel cada vez mais relevante na criação de postos de trabalho. Sheila Najberg, uma das responsáveis pelo estudo, ressalta que enquanto as grandes empresas enxugam o quadro de funcionários para ganhar eficiência, as pequenas têm de ampliar o número de empregados para ficarem mais competitivas.

Sheila acompanhou a trajetória de quatro anos de empresas formalmente constituídas em 1996 até o ano 2000. Uma das principais conclusões é que as firmas com menos de quatro funcionários, que apresentaram a maior taxa de mortalidade no período (50% delas fecharam as portas), foram também as únicas que apresentaram um saldo positivo na criação de empregos.

Enquanto as empresas com mais de 500 trabalhadores estudadas no período, incluindo as que fecharam as portas, reduziram de 373 mil para 310 mil o número de empregados, as que somavam até quatro postos de trabalho aumentaram, juntas, de 381 mil para 449 mil os funcionários, mesmo levando-se em conta a mortalidade de parte dos empreendimentos.

O BNDES estudou 335 mil firmas abertas em 1996, sendo que desse total 161.400 fecharam as portas até 2000, sobrevivendo 173.800 firmas, levando-se em conta todos os portes dos negócios.

Apoio

Como ressaltou Sheila, o estudo não põe em dúvida a importância dos grandes negócios para a criação de empregos, mas alerta para o papel cada vez mais crucial dos pequenos empreendimentos para qualquer política pública de redução da taxa de desemprego. “É preciso atrair investimentos de grandes empresas, mas também apoiar as micros e pequenas, para que elas possam apresentar uma taxa de sobrevivência maior e elevar a criação de empregos.”

Segundo ela, caso a taxa de mortalidade das micros de até quatro funcionários não fosse tão alta, pelo menos mais 166 mil empregos teriam sido criados por elas entre 1996 e 2000.

Os sobreviventes ilustram a conclusão do estudo. A La Cuccina, de Brasília, teve início informalmente em 1997, na cozinha da dona de casa Tânia Wanderley Silva, que contava só com a ajuda da empregada doméstica para preparar tomates secos.

O sucesso do produto fez ela e o marido, então funcionário do Banco do Brasil, constituírem formalmente a empresa no ano seguinte. Em 1999 já eram três funcionários e, hoje, são 19 empregados e 10 fogões semi-industriais.

Quando foi criada, a La Cuccina produzia 22 quilos de tomates secos mensalmente. Hoje os produtos foram diversificados e incluem também antepastos como berinjela temperada, pimentão em tiras e pastas diversas. Pedro Teodoro Silva, proprietário da empresa, disse que é difícil manter os empregos por causa dos encargos trabalhistas, que considera elevados, mas não pretende demitir ninguém.

Financiamento

Outra sobrevivente, a dentista baiana Ana Christina Kolbe, da empresa Limpador de Língua Kolbe, inventou o produto de combate ao mau hálito em 1997, só com dois funcionários. Hoje emprega 38 pessoas e espera financiamento do Banco do Nordeste para adquirir sede própria e novos equipamentos.

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