Mesmo não concordando com a presença do vírus da febre aftosa no Paraná, os proprietários das fazendas apontadas como focos da doença aceitaram o sacrifício dos animais. A decisão foi tomada na última quarta-feira, durante reunião a portas fechadas no Centro Universitário de Maringá (Cesumar). Foram horas de discussão até se chegar ao consenso de que o sacrifício seria o melhor caminho para ?solucionar todo o impasse técnico?, que já dura mais de quatro meses. A expectativa é que a crise da aftosa no Estado seja definitivamente resolvida.
Os proprietários rurais, porém, condicionaram o sacrifício à realização da necropsia nos animais sorologicamente reagentes. Os materiais coletados serão encaminhados ao Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) para posterior investigação sanitária. O resultado dos exames, caso seja negativo para a doença, poderá servir para uma futura ação judicial contra o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que decretou os focos no Estado.
Na nota divulgada ontem pela Sociedade Rural do Paraná (SRP), os pecuaristas reiteraram, mais uma vez, que não há o vírus em seus rebanhos e que, portanto, não há aftosa no Paraná. Afirmaram, ainda, que a decisão pelo sacrifício foi tomada ?com a finalidade de resgatar a continuidade da atividade do agronegócio, obstruído pela crise instituída com o evento ?febre aftosa no rebanho paranaense? e atender aos protocolos de comércio internacional, firmados pelo governo federal?.
?Esperamos, assim, que estas decisões tenham contribuído de forma clara para demonstrar a necessidade de readequação das normas dos referidos protocolos de comércio à realidade de nosso sistema produtivo (livre de aftosa com vacinação). E efetivamente restabelecer as atividades da produção de pecuária de corte e dos demais setores que igualmente ficaram paralisados em nosso Estado?, diz a nota. ?Dessa forma, desejamos que o Paraná continue a ser respeitado mundialmente como o grande celeiro de alimentos do Brasil.?
Além dos representantes das seis fazendas apontadas como focos da doença – Pedra Preta e Cesumar, em Maringá; Alto Alegre e São Paulo, em Loanda; Santa Izabel, em Grandes Rios, e Flor do Café, em Bela Vista do Paraíso -, participaram da reunião no Cesumar o superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Paraná, Valmir Kowalewski; o diretor-geral da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab), Newton Pohl Ribas; o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Edson Neme Ruiz, e o advogado Ricardo Jorge Rocha Pereira, que representou a Fazenda Cachoeira, também declarada como foco de aftosa.
Ao todo, cerca de 6,3 mil animais deverão ser sacrificados no Paraná. Metade da indenização será bancada pelo Mapa e outra metade pelo Fundo de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Fundepec-PR). Quando o último animal for morto, conta-se o prazo de seis meses para que o Estado recupere o status de área livre de aftosa com vacinação.
Falta boa vontade
O assessor da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep), Carlos Albuquerque, definiu a decisão dos pecuaristas (o sacrifício sanitário) como a mais sensata e aposta que a crise esteja finalmente chegando ao fim. Mas ele não arrisca quanto tempo levará para o Estado recuperar o status de área livre com vacinação. ?Se houvesse boa vontade do governo, em uma semana tudo estaria resolvido e já começaria o contar o tempo?, alfinetou.
Albuquerque criticou o fato de o governo estadual não querer bancar as despesas do sacrifício. ?O governo do Estado nunca quis fazer o sacrifício, a verdade é esta. Só que agora não tem mais jeito, o País inteiro está sendo prejudicado?, afirmou. Albuquerque lembrou que o dinheiro do Fundepec é destinado apenas para indenizar pecuaristas ou atender emergência. ?Esta não é uma emergência. A situação já dura quatro meses?, arrematou.
Ninguém acionará a Justiça e ações serão retiradas
De acordo com o diretor-geral da Seab, Newton Pohl Ribas, com a concordância dos pecuaristas em realizar o sacrifício, a Comissão de Avaliação, Taxação e Sacrifício – cuja composição deve ser publicada hoje, em resolução estadual – irá até as propriedades rurais para fazer a contagem, pesar os animais e, com base no preço de mercado da arroba, definir os valores das indenizações. Nas seis propriedades, há aproximadamente 4,5 mil animais.
Também o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) terá que emitir laudo, autorizando que os animais sejam enterrados nas propriedades. O sacrifício sanitário, de acordo com Ribas, deverá começar pela Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, decretada como foco de aftosa no dia 6 dezembro. A fazenda já teve seu rebanho avaliado e também conta com o laudo ambiental.
Segundo Ribas, o advogado da fazenda, Ricardo Rocha Pereira, concordou em retirar da Justiça a liminar que exigia o depósito prévio da indenização. ?Ficou decidido que nenhum dos proprietários vai entrar com liminar na Justiça para impedir o sacrifício. E quem entrou, deverá retirar a ação?, afirmou. O proprietário da Fazenda Cachoeira, André Carioba, e o advogado Ricardo Pereira, não foram localizados pela reportagem.
Com relação ao outro impasse – as despesas para o sacrifício, como a contratação de máquinas e mão-de-obra para abrir as valas e as anestesias que serão aplicadas nos animais -, Ribas afirmou que o governo estadual ?está trabalhando com prefeituras municipais, sociedades rurais, entidades de classe?, no sentido de iniciar os trabalhos. Segundo o Ministério da Agricultura, o governo estadual é quem deve bancar estes gastos. Só na Fazenda Cachoeira, as despesas são estimadas em R$ 300 mil. Sem esse recurso, o sacrifício não pode começar. (LS)
Brasil suspende importação de frango da Índia e Iraque
São Paulo (AE) – O Brasil suspendeu nesta semana a entrada de carne de frango in natura, aves adultas vivas, penas e outros produtos sem tratamento, como material genético (ovos férteis e pintos de um dia, por exemplo), procedentes da Índia e do Iraque, informou ontem o Departamento de Saúde Animal (DSA), do Ministério da Agricultura. Esses dois países notificaram à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) a ocorrência de casos de gripe aviária.
Sempre que a OIE é comunicada sobre um caso de gripe do frango, o governo brasileiro suspende, logo em seguida, as importações de aves, carne de aves in natura e produtos não submetidos a tratamentos do país onde ocorreu o problema, esclarece o Departamento de Saúde Animal.
Além de comunicar a decisão oficialmente aos governos desses países, por intermédio de suas embaixadas no Brasil e dos seus serviços veterinários oficiais, o ministério envia aviso à Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) e às superintendências federais de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SFAs) nos estados. A Vigiagro e as SFAs são responsáveis pela fiscalização em aeroportos, portos e postos de fronteira.
O governo brasileiro já tomou medida semelhante em relação à África do Sul, Egito, Grécia, Turquia e aos países asiáticos. Há quase quatro meses, o ministério também proibiu a entrada de aves de companhia, como papagaio e caturrita, por exemplo, no Brasil.
Impossível impedir
O ministro da Saúde, José Saraiva Felipe, afirmou ontem ser impossível impedir a chegada do vírus H5N1, da gripe aviária, ao Brasil. Mas, segundo ele, o governo já está tomando medidas preventivas, como o controle das aves migratórias e o estudo para a produção de uma vacina.
?Estamos trabalhando para produzir 20 mil doses (de vacina) contra o vírus influenza, responsável pela gripe das aves. O nosso maior desafio está em acompanhar as mutações que o H5N1 vai sofrendo ao longo do tempo para produzir, com rapidez e eficiência, uma vacina eficaz contra a doença?, disse José Saraiva Felipe.
Segundo o ministro, o risco de o vírus chegar ao País através de aves migratórias existe, mas não é iminente.