Pecuarista quer exames e dinheiro em juízo

O proprietário da Fazenda Cachoeira, André Carioba Filho, afirmou ontem que só vai liberar o sacrifício das 1.795 cabeças de gado da propriedade – apontada como foco de febre aftosa pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – depois que o órgão divulgar o resultado das 2.205 amostras de sangue colhidas de animais de dez fazendas paranaenses. As amostras foram coletadas há cerca de 60 dias. Carioba disse que aguarda ainda o depósito, em juízo, do valor da indenização que cabe ao Ministério da Agricultura – ou seja, 50% de R$ 1,285 milhão. A outra metade será arcada pelo Fundepec-PR (Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná).

?Se o Ministério da Agricultura não pagou o pessoal do Mato Grosso do Sul, quem garante que ele vai pagar a gente??, questionou Carioba. Para ele, caso o governo federal estivesse de fato disposto a colocar um ponto final no impasse, depositaria o valor que lhe cabe, em juízo. O proprietário tem a seu favor uma liminar da Justiça Federal, que proíbe o sacrifício dos animais.

Carioba admitiu, porém, que mais cedo ou mais tarde terá que aceitar o valor proposto pela Comissão de Avaliação, Taxação e Sacrifício. ?Precisamos desse dinheiro. Eles não irão fazer uma nova avaliação; não concordamos, mas entendemos?, disse. Entre os pontos de discórdia está o valor da arroba: R$ 48,00. Antes do surgimento do foco, ponderou Carioba, o preço da arroba variava entre R$ 53,00 e R$ 55,00. Quanto aos prejuízos acumulados desde que a fazenda foi interditada – entre eles, o gasto com a alimentação do gado -, Carioba disse que vai tentar o ressarcimento no futuro, em outra ação judicial.

O proprietário insistiu que não há aftosa no rebanho da Fazenda Cachoeira, e criticou ainda a postura do Ministério da Agricultura pela demora em divulgar o resultado das 2.205 amostras colhidas em dezembro. ?Não há aftosa e vamos comprovar isso. Mas o fato mais grave é que no dia 29 de novembro o ministério colheu amostras para exames de sorologia e no dia 5 de dezembro decretou o foco na Fazenda Cachoeira. No dia 12 daquele mês, fez exames em 2.200 animais de outras fazendas e até hoje (ontem) não saiu o resultado?, criticou.

De Brasília, a assessoria de imprensa do Mapa informou que encaminhou o resultado dos exames para a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). A secretaria, por sua vez, negou que tenha recebido qualquer documento relativo aos exames de febre aftosa. Ontem, o secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, estava em Brasília para audiência com o ministro Roberto Rodrigues. Segundo a assessoria de imprensa da Seab, a pauta principal do encontro seria o prejuízo causado pela estiagem no Estado, não a questão do foco de aftosa. 

Paraná dá informações sobre o seu rebanho

Brasília (AE) – O secretário da Agricultura do Paraná, Orlando Pessuti, entregou ontem ao Ministério da Agricultura informações sobre a movimentação de animais entre as fazendas do Estado e a evolução de rebanhos nas propriedades onde há suspeitas de focos de febre aftosa. O encontro não estava marcado e, para alguns interlocutores, a visita de técnicos da União Européia (UE) no Brasil, na semana passada, pode ter levado o Paraná a agilizar a entrega desses dados, após a crítica sobre a demora do governo brasileiro em reconhecer o diagnóstico de aftosa no Estado.

Os dados entregues por Pessuti, além do resultado de avaliações feitas em laboratórios, devem permitir ao ministério informar se há ou não outros focos da doença no rebanho do Paraná.

Em dezembro, um caso de aftosa foi confirmado na Fazenda Cachoeira, que fica no município paranaense de São Sebastião da Amoreira. A comprovação do caso exigiu mais de um mês de investigação. O governo do Estado não aceita o diagnóstico e o pecuarista dono da propriedade não concorda com o abate. Há suspeita de focos da doença em fazendas localizadas nos municípios de Maringá, Loanda Amaporã e Grandes Rios.

Pessuti esteve reunido por mais de duas horas com técnicos da Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério. O secretário paranaense estava visivelmente irritado. Do lado de fora da sala, onde os jornalistas esperavam pelo fim do encontro era possível escutar gritos do secretário. Ao deixar a reunião, Pessuti disse que estava no ministério ?para falar sobre a quebra de safra do Paraná por causa da seca e sobre a comercialização de trigo?. Esses assuntos são da competência da Secretaria de Política Agrícola, que fica no prédio principal do ministério. A Secretaria de Defesa Agropecuária ocupa o anexo do prédio.

?Quem tem que falar é o ministério. Eu só falo no Paraná?, limitou-se a dizer Pessuti, depois de muita insistência dos jornalistas. Para técnicos do Departamento de Defesa Animal, o envio dos documentos é um passo importante. ?Estamos mais perto de esclarecer o assunto, mas teremos cautela para não cometer erros?, disse.

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