O caixa do governo federal conta atualmente com R$ 521 bilhões, informa o subsecretário de dívida pública do Tesouro Nacional, Paulo Valle. Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, ele negou que o Tesouro esteja enfrentando problemas de rolagem da dívida pública ou que esteja adotando uma estratégia para aumentar o seu caixa com o temor de haja pressões maiores no mercado financeiro no início de 2015.

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“Com um caixa com mais de R$ 500 bilhões, que paga mais de um ano de vencimentos da dívida, não faz sentido ficar preocupado com esse assunto. Não há problemas de caixa”, afirmou Valle.

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Desde 1997, depois da crise da Ásia, o Tesouro Nacional adotou a estratégia de separar uma parte do caixa para fazer um “colchão de liquidez”, com recursos que só podem ser exclusivamente utilizados para o pagamento da dívida pública. Esse colchão tem em média recursos suficientes para honrar os vencimentos de três a seis meses da dívida pública, dependendo da sazonalidade da gestão dos pagamentos.

Hoje, sustenta o subsecretário, o colchão está mais próximo de três meses porque para janeiro está previsto o maior vencimento de títulos em 2015. Mesmo assim, é superior aos vencimentos dos próximos três meses, que somam R$ 119,8 bilhões (R$ 6,8 bilhões em novembro; R$ 211 milhões em dezembro e R$ 112,8 bilhões em janeiro). Em fevereiro, vencem mais 13,4 bilhões e, em março, R$ 70 bilhões. Os dólares para o pagamento dos compromissos da dívida externa também já estão comprados.

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“Como janeiro é um mês de alta concentração de vencimentos e está dentro dos próximos três meses, o colchão está mais para três meses”, afirmou o subsecretário. Segundo ele, o colchão é uma medida conservadora para sinalizar tranquilidade do financiamento da dívida. “Não tem nenhum movimento para aumentar o caixa”, disse.

Ele ponderou que tradicionalmente sempre em momentos de aumento de taxa Selic, quando o mercado de juros está mais pressionado, o Tesouro tende a emitir menos títulos com prazos de vencimento mais longos e passa a vender mais papéis curtos. “Para não travar uma taxa mais alta por 10 anos, por exemplo, reduzimos os papéis mais longos. Mas sempre olhando os indicadores do PAF”, afirmou.

Pré-seco

Segundo ele, em meses de baixo vencimento, o Tesouro faz emissão líquida de papéis. Ou seja, vende mais títulos do que o volume de vencimentos. O resgate líquido de papéis está em linha com o que vem ocorrendo nos últimos anos. O subsecretário destacou que é um erro a avaliação de que o Tesouro esteja pressionando o mercado por ter ofertado um volume maior de prefixados (o dobro do giro do mercado de DI furo).

“Temos demanda dos investidores e nem toda ela é para casar com o secundário”, disse.

Ele explicou que Tesouro atende a demanda, principalmente dos bancos, para carregar os papéis no balanço, o que é comum no fim do ano, “Chamamos de pré-seco, quando o investidor compra e corre o risco, sem travar no mercado futuro. Os bancos, por exemplo, preferem ficar mais com títulos em carteira do que operações compromissadas e outros ativos”, disse ele, destacando que tem investidor que quer comprar o pré-seco e está confortável com a taxa de 24 meses.

PAF

Faltando menos de dois meses para o fim do ano, Paulo Valle antecipou que o Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2014, que contém as diretrizes e metas de gestão da dívida pública, está mostrando uma “pequena” evolução em relação a 2013 e afirma que todas as metas do plano serão cumpridas.

“O PAF não mostra nenhuma deterioração da dívida pública, Pelo contrário, tivemos avanços”, disse. Segundo ele, a parcela atrelada à taxa Selic vai terminar abaixo de 19%, por volta de 18,9% do total da dívida. A prazo médio da dívida deve subir de 4,2 anos para cerca de 4,4 anos, podendo chegar a 4,5 anos.

Haverá um aumento da composição de papéis prefixados e atrelados ao IPCA (NTN-B). O somatório desses papeis fechará 2014 num patamar mais elevado do que no ano passado.

“Em 2014, todos os indicadores da dívida pública estão melhorando marginalmente. Alongamos a dívida e melhoramos marginalmente a composição”, afirmou.

Apesar desse melhora, houve um aumento de custo por conta do ciclo de alta da taxa de juros. “O Tesouro é tomador de preços. O BC iniciou um ciclo de política monetária e isso certamente afeta o custo da dívida publica, mas está dentro do previsto do PAF. Não cabe falar em risco de financiamento. Estamos falando de custo”, ponderou.

A estratégia para 2015 é de continuidade dessa política, “O que estamos fazendo nos últimos anos é aproveitar quando o mercado é mais positivo para sermos mais rápidos na direção da composição ótima da dívida”, disse.

O subsecretário destacou que em 2014 há menos incertezas do que no final do ano passado. “Em 2013, estávamos com uma incerteza absurda da política monetária norte-americana. Ainda tem, mas há um consenso de que será gradual.

Tinha a eleição (no Brasil) e dúvida até em torno da Copa do Mundo. Vínhamos de um ano de manifestações (populares) que gerou muita incerteza. Havia mais dúvidas no inicio desse ano do que para o início de 2015″, afirmou Valle que disse não acreditar no risco de perda de grau de investimento do Brasil.