O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ressaltou nesta quarta-feira, 7, que parte do Comitê de Política Monetária (Copom) já viu espaço para corte mais forte do juro na reunião do colegiado realizada na semana passada. Apesar dessa margem para acelerar a redução da taxa Selic, o presidente do BC notou que houve consenso “de aguardar para fazer a intensificação da (flexibilização) política monetária na próxima reunião”.

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“Tivemos debate que levou em consideração a inflação caindo, o cenário externo e a atividade mais fraca. E também a resistência de alguns preços dos núcleos, a questão dos ajustes e as reformas que a gente diz que passos têm sido positivos. Entramos nesse debate e a conclusão é de que havia espaço para continuar flexibilização da política monetária”, disse Ilan, em café da manhã com jornalistas, ao repetir o tom da ata divulgada na terça-feira. “Houve discussão para já intensificar o ritmo na própria reunião de novembro”, completou.

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O presidente do BC notou, porém, que o grupo entendeu ser mais cauteloso aguardar antes de intensificar o processo de corte de juro. O grupo majoritário do Copom, explicou, entendeu que “talvez fosse melhor esperar um pouco mais”. “Já que nós estamos achando que (a inflação) pode ceder, vamos ver nos próximos (números)”, explicou. “No fim, houve consenso de aguardar para fazer a intensificação da política monetária na próxima reunião.”

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Possibilidades

Além de ressaltar que houve discussão sobre eventual intensificação do processo de corte de juros na reunião do Copom da semana passada, Ilan Goldfajn notou que, se o cenário previsto pela casa para o curto prazo for confirmado, provavelmente o corte mais forte do juro pode ser “o primeiro passo no ano que vem”.

“Se o cenário do Copom estiver certo, provavelmente teríamos a intensificação da flexibilização para ser o primeiro passo no ano que vem”, disse. Entre os argumentos pró-corte do juro citados no discurso do presidente do BC, está a inflação em queda, a atividade mais fraca que o esperado, menor resistência de alguns preços – inclusive nos núcleos – e o avanço dos ajustes e das reformas estruturais.

Além do cenário indicar quadro positivo para a inflação, Ilan notou que há ancoragem das expectativas de inflação para 2018 e 2019. “E para 2017 as expectativas estão caindo para valores mais próximos à meta. Essa ancoragem é fundamental para ter esse espaço que temos hoje”, disse.

Credibilidade

Em meio às criticas de aliados políticos do governo Michel Temer de que o Copom está demorando para acelerar a queda dos juros, o presidente do Banco Central avaliou que a instituição tem hoje bastante credibilidade e pode flexibilizar a política monetária. “E estamos fazendo o que temos que fazer”.

Ele fez questão de destacar que o BC na condução da política monetária é sensível à atividade econômica. “Tanto que a ata já identificou uma possibilidade de intensificação do ritmo (de queda)”, disse.

Em reposta aos críticos, Ilan disse que o BC é parte da solução da crise e não o problema. Segundo ele, o BC está ajudando da retomada do crescimento ao garantir queda sustentável da inflação. “Queda sustentável da inflação leva a uma queda sustentável dos juros, o que tem efeito no crescimento”, ponderou.

Ele acrescentou ainda que o BC trabalhando com estabilidade monetária e financeira gera menos incerteza, o que acaba proporcionando uma via de propulsão para a volta do crescimento.

“Para nós desenvolvimento econômico, pleno emprego e justiça social depende de o BC assegurar o poder de compra da moeda e a estabilidade macroeconômica”, argumentou.

Inflação

O presidente do Banco Central reforçou a avaliação de que a inflação tem “surpreendido favoravelmente”. A trajetória de desinflação, explicou em discurso durante o café da manhã com jornalistas, foi vista inicialmente nos alimentos, mas o processo tem se disseminado. Além disso, notou que as resistências existentes nos índices de preço têm mostrado força cada vez menos intensa.

“A inflação tem surpreendido favoravelmente. Primeiro, foi nos alimentos. Depois, foi mais disseminado”, disse. “Ainda vemos a pausa de desinflação de alguns componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico. Está caindo, mas na margem tem alguma resistência”, disse o presidente do BC.

Para Ilan, “pode ser que a resistência de alguns componentes do IPCA comece a diminuir porque a atividade está mais fraca que a gente imaginava”. “É possível que esse cenário de resistência possa começar a ceder nos próximos meses”.

O presidente do BC reconheceu ainda que a inflação pode ter impacto adicional dos preços administrados – cuja estimativa subiu na ata divulgada na terça. Ilan notou que esses preços afetam a dinâmica da inflação. “Não necessariamente com um impacto inicial”, disse, ao comentar que pode haver “impacto de segunda ordem”. Mesmo com esse impacto secundário, Ilan notou que a política monetária consegue ancorar as expectativas.

Compulsório

Ilan Goldfajn descartou a possibilidade de a instituição liberar os depósitos compulsórios para estimular a economia. Ele classificou essa possibilidade de “rumores” que não se colocam.

Ele aproveitou para dar um recado indireto aos que pressionam por esse medida. Temos sempre que pensar se essas as medidas vão ter utilidade”, sugeriu e acrescentou, em seguida, que o sistema financeiro nacional é bem líquido e capaz de suprir qualquer necessidade de recursos para a retomada.

E foi além: “Eu acho que podemos nos concentrar no que a gente está discutindo aqui, a inflação, a queda da inflação, a intensificação da política monetária, da queda dos juros, que nós sinalizamos”, disse. Na avaliação do BC, são nessas questões que é preciso se concentrar.

Ele negou a possibilidade de o BC alterar o cronograma do Copom para tomar uma decisão mais rápida. “Não, aqui tem que ter serenidade, tomando decisão de forma adequada. Não tem que ter nenhuma precipitação”, avaliou. Ele ressaltou que o BC está caminhando bem do ponto de vista de política monetária.