Em períodos de crise financeira, sempre são muitas as dúvidas a respeito do seu alcance: o cidadão comum nem sempre percebe quando a instabilidade nas bolsas de valores começa a afetar o seu próprio bolso.
Mas O Estado conversou com alguns economistas, que mostraram que a crise já está – e vai continuar – afetando a economia brasileira em geral, e a paranaense, em especial. E pediu dicas de como se comportar nesse momento.
O professor Robson Gonçalves, da Isae/FGV, acredita que o Paraná, por seu perfil econômico, tende a sentir mais as crises do que outros estados. “A indústria paranaense é muito baseada em máquinas agrícolas, caminhões e automóveis.
Na crise, as pessoas podem adiar a compra desses produtos, seja por problemas de crédito, ou por conta do emprego”, diz, lembrando que, em compensação, quando a economia está bem, o Estado “arranca” acima da média nacional.
Para o professor Gilmar Lourenço, coordenador do curso de Economia da FAE Business School, o Brasil já está pagando o preço da crise, com uma desaceleração na economia.
“Os juros médios para compras a prazo já estão subindo, e o número de prestações, reduzindo”, afirma. Segundo ele, desde o boom de 2005 para cá, o crédito ficou mais caro e escasso, gerando uma redução no nível de consumo. “Com isso, a geração de empregos também vai cair”, diz.
Já o consultor Reinaldo Domingos, autor do livro Terapia Financeira, aponta o comércio como um dos grandes prejudicados. “Muitas lojas já estão com as vendas abaixo da crítica. Principalmente as que atendem às classes A e B, que têm dinheiro aplicado na bolsa. Elas acabam tomando decisões de retração, resolvem esperar o que vai acontecer”, explica.
Conselhos
Os conselhos dos economistas a quem tem investimentos em ações são bem parecidos: o principal é esperar. Lourenço afirma que retirar agora o dinheiro investido na bolsa é o equivalente a “assinar um atestado de prejuízo eterno”. Ele recomenda um exercício de “amnésia financeira” durante a crise atual: “E deixar para fazer as contas para daqui a 2 anos”, diz.
Segundo ele, as melhores opções para investimento agora são a velha caderneta de poupança, os títulos públicos – que têm remuneração próxima à Selic – e, por fim, os imóveis.
“Mesmo com a provável desaceleração. O Brasil tem um déficit de 7 milhões de unidades habitacionais”, explica. Mesmo assim, ele não recomenda que as pessoas se afastem das bolsas. “No longo prazo, não existe aplicação com rentabilidade maior”, aponta.
Para Domingos, muitas pessoas que acabaram entrando no mercado de ações não estão acostumadas a correr risco, e tendem a se desesperar. Mas o momento atual, segundo ele, exige tranqüilidade e paciência. “Bolsa é isso. Tem que aprender a respeitar o tempo. Quem tomar decisões agora, vai ter prejuízo”, diz.
Ele também lembra que os investidores têm que atentar para a responsabilidade social: “As companhias dependem do dinheiro desse investidor para continuar desenvolvendo. Se ele parar de investir, a empresa entra em parafuso, e pode gerar desemprego ou até quebrar”.