Depois de dois anos de resultados recordes, o Paraná vai colher uma safra menor em 2004 por causa da estiagem, principalmente na região Oeste. A colheita de grãos da safra 2003/2004, inicialmente estimada em 29,56 milhões de toneladas, foi reavaliada para 28,5 milhões de toneladas, conforme o relatório de acompanhamento de safra de fevereiro divulgado pelo Departamento de Economia Rural (Deral). Isso significa uma redução de 6% em relação ao total colhido no ano passado, de 30,34 milhões de toneladas. A falta de chuvas reduziu em mais de um milhão de toneladas a produção de soja e em 350 mil toneladas a de milho safrinha.
Com as cotações em alta no mercado internacional, a expectativa era colher nova safra recorde de soja, de 11,89 milhões de toneladas – 8,6% superior à do ano passado, que totalizou 10,94 milhões de toneladas. A área plantada teve aumento de 8,1%, passando a 3,913 milhões de hectares. Porém, a seca provocou quebra de 8,8% na projeção inicial, estimada agora em 10,85 milhões de toneladas, informa o economista Norberto Ortigara, chefe do setor de previsão de safra do Deral. “A perda ocorreu principalmente nas regiões de Toledo, Campo Mourão, Cascavel e Umuarama, além de casos localizados nas regiões de Francisco Beltrão e Londrina.”
Só em Toledo, a perda foi de 352 mil toneladas de soja. Em Cascavel, mais 210 mil toneladas. “Muitos agricultores do Oeste não conseguem colher para pagar o custo. Estão colhendo 40 a 60 sacas por alqueire, quando esperavam 140 a 150”, relata Ortigara. A expectativa inicial era que a soja alcançasse uma produtividade média de 3.040 quilos por hectare (kg/ha) – contra 3.025 kg/ha na safra passada. Mas com a falta de chuvas, o rendimento médio dos 4,5% de soja já colhida está em 2.731 kg/ha.
15,5% da safra de soja já foi comercializada. “O ritmo de comercialização está um pouco mais lento, à espera de preços melhores”, comenta o economista do Deral. Os produtores estão recebendo média de R$ 44,40, contra R$ 41,00 em fevereiro do ano passado. “Isso representa quase R$ 20,00 de lucro puro, mas já se fala em US$ 20,00 na Bolsa de Chicago, podendo chegar a R$ 52,00 aos produtores”, aponta Ortigara.
Na hipótese mais otimista – e remota – a produção estadual de soja pode atingir 11,29 milhões de toneladas. “Existe muita lavoura mais nova que pode dar alta produtividade e compensar parte do prejuízo, mas o clima continua ruim porque existem bolsões de seca acompanhados de forte calor”, cita Ortigara. Um fenômeno novo que está acontecendo é o crescimento da safrinha de soja, 85% plantada. A área aumentou de 30 mil para 62,4 mil hectares, com perspectiva de produzir 133 mil toneladas. “Por causa do bom preço lá fora, a safrinha surgiu como oportunidade para quem não quis plantar milho safrinha ou trigo.”
Milho
Além dos prejuízos com a soja, o outro aspecto negativo apontado pelo relatório do Deral é o retardamento do plantio do milho safrinha, que representa 43% da produção nacional. A estimativa inicial de colher 5,7 milhões de toneladas em 1,455 milhões de hectares foi reduzida para 5,35 milhões de toneladas (-12%) em 1,3 milhão de hectares. Isso significa uma retração de 17,7% sobre o total colhido em 2003 (6,046 milhões de toneladas). “A época recomendada de menor risco para plantio já se esgotou e poderá reverter em ganho para trigo a partir do final de março”, ressalta Ortigara.
Até o momento, 22% da área de milho safrinha foi plantada. “Não trabalhamos com catástrofe no milho safrinha, mas a situação é preocupante porque há maior chance de as lavouras pegarem geada precoce, seca ou veranico em abril.” Depois de atingir produtividade recorde de 4.439 kg/ha no ano passado, o Deral estima 3,9 mil kg/há de rendimento médio para o milho safrinha.
Já a safra normal de milho (20% colhida e 4% vendida) não foi afetada pelos problemas climáticos. Mas em virtude da preferência dos produtores pela soja, devido à melhor remuneração, a área plantada caiu 8,5% em relação ao ano passado, somando 1,350 milhão de hectares. A produção está estimada em 7,6 milhões de toneladas, uma queda de 9% comparada à safra anterior. A produtividade média do milho normal está alta nesse início de colheita -6,8 mil kg/ha contra 5.660 kg/ha na safra passada. A expectativa do Deral é fechar a safra com rendimento médio de 5.630 kg/ha.
Produtores receberão o mesmo
A projeção inicial do Deral era que a safra de grãos 2003/2004 colocasse R$ 15 milhões nos bolsos dos produtores. “Essa tendência já foi frustrada por causada das perdas na soja e no milho safrinha”, assinala o economista Norberto Ortigara, do Deral, salientando que o montante recebido pelos agricultores vai depender muito dos preços internacionais e do desempenho das lavouras. Ele estima que a produção de grãos gere R$ 13 milhões aos produtores, mesmo valor nominal recebido no ano passado. Em 2002, a safra injetou R$ 8,4 bilhões na economia estadual.
Mesmo com os problemas climáticos, Ortigara destaca que está é uma “safra grande, que contribuirá com muita riqueza para o Paraná.” Porém ele opina que a redução da safra diminuirá o ritmo de capitalização, investimento em infra-estrutura e máquinas agrícolas e na poupança dos produtores. De 91 a 99, a safra paranaense registrou expansão na produção. Em 2000, por causa das geadas, fechou em 16,41 milhões de toneladas. Voltou a crescer em 2001, com 23,89 milhões de toneladas, e teve ligeiro recuo em 2002, totalizando 22,42 milhões de toneladas. No ano passado, fechou em 30,34 milhões de toneladas. (OP)