Uma atividade agrícola que vem se destacando no Paraná é a vitivinicultura. Embora não seja o líder de produção nacional, o Estado ocupa a quarta colocação na produção de uvas, atrás apenas do Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco.
No Paraná, são produzidas, principalmente, duas variedades da fruta: a uva fina de mesa, cujas características são a delicadeza, a exigência e a necessidade de se utilizar técnicas mais apuradas, e a uva rústica de mesa, que se adapta melhor frente às adversidades, mas que também precisa de certos cuidados na hora de produzir.
Há ainda, em menor escala, a produção de uvas rústicas voltadas para a agroindústria, utilizadas para a fabricação de vinhos, sucos e geleias. A produtividade média do Paraná é de 17,5 toneladas de uva por hectare, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 5,9 mil hectares, colhe-se 100 mil toneladas por ano.
De acordo com o agrônomo e responsável pelo setor de fruticultura do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria da Agricultura e de Abastecimento do Paraná (Seab), Paulo Fernando de Souza Andrade, são quase seis mil hectares de parreiras em todo o Paraná.
“A produção de uvas de mesa ocupa a maior parte dos 5,9 mil hectares, com uma área equivalente a 3,8 mil hectares. A área utilizada para a agroindústria é de 2,1 mil hectares”, informa.
Presente em quase todo o Estado, as regiões que mais se destacam na produção de uvas são o noroeste e norte, principalmente o município de Marialva, distante 18 quilômetros de Maringá, responsável por pouco mais de 50% da produção estadual.
O oeste e sudoeste têm grande importância, porém, em uma atividade voltada mais para a produção de vinhos. A Região Metropolitana de Curitiba (RMC) também conta com uma boa produção, principalmente Colombo, Campo Largo e São José dos Pinhais.
“Exceto pelo nosso litoral, em todas as outras regiões há presença da vitivinicultura. As uvas com maior presença no Estado de uvas finas de mesa são as variedades Itália, Rubi, Benitaka e Brasil. Entre as uvas rústicas, as mais produzidas são a Niágara rosada e branca e Bordeaux (terci)”, informa.
Trabalho artesanal é compensador
Strapasson: atividade herdada do avô é mais do que uma simples fonte de renda. |
Desgastante, mas recompensador. Assim define o vitivinicultor Valdemar Strapasson, que possui uma propriedade em Colombo, Região Metropolitana de Curitiba (RMC), define o trabalho com esta cultura.
Apesar de diversificar a atividade econômica de 1,2 hectares, é a uva e seus derivados (vinho, suco e geleia) que provêm a principal fonte de renda do produtor.
Trabalhando há mais de 50 anos com a uva, Strapasson explica os motivos que fazem da vitivinicultura ser um trabalho árduo. “Não basta apenas plantar e esperar que as parreiras deem o fruto. É preciso estar sempre atento com o parreiral, fazer podas, tomar cuidado com a pérola da terra (doença que ataca as parreiras e que no passado dizimou diversas propriedades no Paraná), estar preparado com despesas e, além disso, ter muita paciência, pois somente após cinco anos é que a parreira começa a produzir”, informa.
Por outro lado, o produtor garante que a vitivinicultura vale a pena. “Poder colher a uva e fazer produtos dela é uma sensação da qual apenas quem trabalha nessa área conhece. O trabalho artesanal que realizo eu aprendi com meu pai, que aprendeu com o pai dele. Isso é algo maravilhoso”, avalia.
A maior parte produção de Strapasson e de outros vitivinicultores d,e Colombo é vendida em festivais locais, como a Festa da Uva. Outra parte, eles vendem em suas residências. “O bom da uva é que aproveito toda a produção. O que não vendo em forma da fruta, faço vinho, suco e geleia”, comenta.
O secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Colombo, Pedro Ademir Cavalli, explica que em Colombo existem 100 famílias que trabalham com a uva, resultando, em média, uma produção de 100 toneladas por ano. Boa parte da produção, segundo Cavalli, é utilizada para a agroindústria.
Porém, por serem produtos artesanais, não podem ser vendidos em redes de supermercado. Para reverter essa situação, o secretário explica que foi criada, recentemente, uma cooperativa.
“A cooperativa vem para resolver um problema para elas. Para seguir todas as recomendações, por lei, para se colocar um produto no comércio, haveria um gasto muito alto. Por meio da cooperativa, facilita o processo, pois um mesmo químico, enólogo, entre outros profissionais, prestariam serviço para todos os associados. Já contamos com 21 produtores”, encerra.
Marialva é referência nacional pela qualidade da uva
Principal produtora de uva fina de mesa do Paraná, a vitivinicultura de Marialva, noroeste do Estado, tem como característica o fato de que a produção está concentrada em pequenas propriedades, com áreas inferiores a um hectare.
Segundo o secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município, Valdinei Cazelato, a atividade é importante para a cidade por movimentar o comércio local.
“Por se tratar de uma atividade familiar, tudo o que os produtores ganham acaba sendo gasto por aqui. Além disso, a produção de uva gera muitos empregos para Marialva. Nossa população hoje é estimada em 32 mil habitantes, dos quais sete mil trabalham direta ou indiretamente com a fruta, ou seja, mais de 20% da população depende da uva”, avalia.
Para Cazelato, há uma série de fatores que fizeram de Marialva um expoente na vitivinicultura. “A uva chegou com imigrantes japoneses, conhecidos por sua dedicação e trabalho, que vieram se estabelecer por aqui. Foi feita também uma reforma agrária natural, sem a intervenção de autoridades, que resultou em propriedades pequenas, em que era necessário plantar algo de acordo com seu tamanho. Temos ainda duas safras por ano, de novembro a janeiro, e uma safrinha de março a junho, garantindo sete meses de produção”, explica.
Outra preocupação citada pelo secretário é a qualidade da uva marialvense. Segundo ele, se alguém tenta colher o fruto com teor abaixo de 13 graus brix (escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis em uma solução de sacarose), a uva é apreendida e destruída.
“Essa atitude vem dando resultado. Antigamente, o pessoal colhia antes do tempo para tentar pegar um preço melhor. Contudo, a uva não estava no seu ponto certo e o resultado era que Marialva ficava tachada de ter uma uva de pouca qualidade. Felizmente, isso foi revertido e hoje somos referência nacional na qualidade da uva”, conta.