Deve sair hoje o resultado do exame que irá confirmar a existência ou não da febre aftosa no Paraná. O material colhido dos 19 animais sob suspeita foi enviado para o Laboratório Nacional do Ministério da Agricultura (Lanagro), em Belém do Pará, no último dia 20. Porém, como o material não foi suficiente para o resultado conclusivo, novas amostras voltaram a ser colhidas e reenviadas para Belém, onde chegaram na segunda-feira à noite.
?Acredito que deve sair alguma coisa até amanhã (hoje)?, afirmou ontem o coordenador do Lanagro, Francisco Airton Nogueira. Ele não soube informar se foram enviados outros materiais, além daqueles dos 19 animais sob suspeita. ?Tudo o que chegou mandei direto para o setor de virologia?, disse.
No Paraná, o governo informou ontem que intensificou a fiscalização em todas as 30 barreiras sanitárias nas divisas entre o Paraná e estados vizinhos para conter a febre aftosa. A Secretaria da Agricultura aumentou o número de fiscais e a vigilância nas 16 barreiras entre o Paraná e Mato Grosso do Sul e nas quatro na divisa com São Paulo.
Além disso, desde o dia 9, barreiras sanitárias estão instaladas em Maringá, Loanda, Amaporã e Entre Rios, municípios onde há suspeita de gado contaminado. Nas fazendas que adquiriram os animais do Mato Grosso do Sul na feira Eurozebu de Londrina também houve um aumento de fiscalização e animais estão confinados até que saia o resultado do exame de aftosa.
O chefe de fiscalização da Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura, Alvares Cherubin, explicou que fiscais de várias regiões do Estado foram remanejados para intensificar a fiscalização nas divisas com o Mato Grosso do Sul e São Paulo. Nestes locais, equipes de seis fiscais da Defesa Sanitária Animal e da Empresa Paranaense de Fiscalização (Claspar) estão de plantão 24 horas.
?O aperto na fiscalização está ocorrendo desde o último dia 9, quando detectamos os sintomas em animais comprados na feira de Londrina. A partir daí, por determinação do secretário Orlando Pessuti, aumentamos o número de fiscais nas barreiras, criamos outras nas cidades onde estão esses animais e também passamos a monitorar todas as propriedades 24 horas?, afirmou Cherubin.
Ele explicou que todas as cargas oriundas de São Paulo e de Mato Grosso do Sul estão sendo monitoradas e que todos os veículos que passam pelas barreiras estão sendo borrifados com uma mistura de ácido cítrico com iodo, que impede que o vírus responsável pela transmissão da aftosa se prolifere. ?Na divisa com o Mato Grosso do Sul, a fiscalização foi intensificada nas barreiras de Guaíra, Porto Camargo, Porto São José, Diamante do Norte. Já na divisa com São Paulo, estamos aumentando o trabalho em Jacarezinho, Cornélio Procópio, Londrina e Maringá?, explicou.
Pedido
As onze entidades que fazem parte do Fundepec-PR (Fundo de Desenvolvimento na Agropecuária do Paraná) enviaram ontem ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, uma carta na qual solicitam ?intervenção rigorosa? do governo federal no caso de restrições feitas por alguns estados aos produtos de origem animal e vegetal do Paraná. ?(São) medidas exacerbadas que contrariam as normas legais nacionais e internacionais e que se mostram inócuas do ponto de vista sanitário, mas trazem prejuízos e intranqüilidade aos produtores rurais?, diz a carta.
As entidades solicitam ainda que governo federal negocie com os países limítrofes medidas de sanidade animal, ?principalmente com aqueles cujas fronteiras secas são uma porta de entrada fácil para doenças que podem criar embaraços ao nosso comércio?.
MP espera resultado do exame no PR
A medida provisória que prevê recursos para indenizar os pecuaristas do Mato Grosso do Sul prejudicados pela febre aftosa será editada após a divulgação do resultado dos exames no gado do Paraná, informa o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Segundo ele, a medida provisória já estava pronta e seria assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira (21), quando surgiu a suspeita da doença no Paraná. ?Decidimos esperar o resultado dos exames para depois fazer uma única medida provisória?, explicou o ministro. Na medida provisória estavam previstos cerca de R$ 16 milhões para indenização dos produtores do Mato Grosso do Sul. ?Não há mais riscos em relação à proliferação de focos de aftosa em função da feira no Paraná?, assegurou.
O ministro disse que ainda negocia com a área econômica do governo a liberação dos R$ 78 milhões do orçamento original para defesa sanitária, então contingenciados. Rodrigues ressaltou que o surgimento da doença não foi provocado apenas por uma questão de falta de recurso. ?Como o gado foi vacinado, como todas as ações foram tomadas, talvez se nós tivéssemos dez vezes mais recursos a aftosa teria aparecido do mesmo jeito.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, negou que tenham faltado recursos para evitar a crise da febre aftosa. Segundo ele, foram gastos apenas R$ 50 milhões dos R$ 90 milhões liberados este ano para ?defesa animal e vegetal?, basicamente em medicamentos e vacinação. Ele disse que o Ministério da Fazenda não teria problemas em reconhecer eventuais falhas e admitiu que muitas vezes sua pasta realmente retém recursos, mas reforçou que a verba utilizada foi menor do que a disponível.
Prioridade máxima
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem que ?a questão da sanidade virou prioridade máxima no governo? e ?é de se esperar que medidas mais consistentes devam ser tomadas para preservar os empregos na cadeia produtiva? do setor agropecuário.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou, por meio do Decreto n.º 24, publicado ontem no Diário Oficial da União, o Grupo de Trabalho Interministerial que irá coordenar e articular as ações do governo federal a serem adotadas para conter a expansão de focos de febre aftosa no País. O grupo de trabalho também terá como meta negociar a derrubada de restrições impostas pelos mercados importadores e assistir, em caráter emergencial, a população prejudicada pelos efeitos socioeconômicos decorrentes dos focos. O prazo de conclusão dos trabalhos é de 60 dias, prorrogável por igual período, mediante justificativa do Ministério da Agricultura.
Santa Catarina libera trânsito de 18 itens do Paraná
Depois de São Paulo, o estado de Santa Catarina também decidiu flexibilizar e permitir a entrada de alguns produtos de origem animal do Paraná. A proibição estava em vigor desde a última sexta-feira, quando o governo do Paraná anunciou a suspeita de quatro focos de aftosa no Estado. Com a decisão, a proibição fica restrita apenas aos municípios de Maringá, Loanda, Amaporã e Grandes Rios, no Paraná; Eldorado, Itaquirai, Iguatemi, Japorã e Mundo Novo situados no Mato Grosso do Sul e Restinga, Itapetininga e São Carlos, no estado de São Paulo, onde, segundo o governo catarinense, também há suspeita de focos da doença.
A resolução n.º 7, em vigor desde ontem, autoriza a entrada de carne e miúdos de aves in natura, além de carne suína in natura desossada e miúdos comestíveis, obtidas em estabelecimento com SIF destinadas diretamente a estabelecimento com SIF. Também autoriza a entrada de produtos e subprodutos cárneos industrializados, de aves e suínos, que tenham sido submetidos a tratamentos físicos ou químicos capazes de inativar o vírus da febre aftosa; leite pasteurizado ou UHT e produtos lácteos obtidos a partir de leite pasteurizado ou UHT; pintos de um dia originários de estabelecimentos devidamente registrados no Ministério da Agricultura.
Também está autorizada a entrada de ovos férteis destinados à incubação e ovos comerciais para consumo originários de estabelecimentos devidamente registrados no Ministério da Agricultura; reprodutores suínos originários de Granjas de Reprodutores Suínos Certificadas (GRSC); equídeos; couros em bruto, salgados com sal marinhos acrescido de carbonato de sódio a 2%, por no mínimo 28 dias; ração animal e ingredientes para ração industrializados de estabelecimentos devidamente registrados no ministério da Agricultura; sebo e sêmen e embriões obtidos em centrais de coleta devidamente registradas no Ministério da Agricultura.
A resolução permite ainda o trânsito de couros e peles wet blue ou curtidos, produtos e subprodutos de origem animal destinados exclusivamente à exportação, desde que não sejam originários e procedentes dos municípios citados acima; peixes e alevinos; animais de companhia, em especial cães, gatos, aves canoras ou ornamentais; animais de experimentação, procedentes de biotérios (camundongos, hamsters, cobaios, coelhos etc…) com destino a entidades de pesquisa. O governo permitiu ainda o ingresso e a passagem em Santa Catarina de animais, materiais de multiplicação animal, produtos e subprodutos de origem animal importados sob autorização prévia conjunta dos Serviços de Sanidade Agropecuária, Serviço de Inspeção Agropecuária ou Serviço de Fiscalização Agropecuária, da Superintendência Federal do Mapa em Santa Catarina.
Restrição
Até ontem, antes ainda da nova resolução ter entrado em vigor, era grande o número de veículos que passavam por Garuva com produtos de origem animal, como embutidos e lácteos. ?As pessoas que descem para a praia por Garuva e trazem estes produtos (ovos, leite, iogurte, embutidos) têm três opções: consumir na hora, voltar ou deixar estes produtos nas barreiras?, afirmou o gerente regional da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina – empresa que presta serviço de Defesa Sanitária naquele estado -, Fernando Rothbarth, quando a proibição integral ainda estava em vigor. Segundo ele, de cada dez veículos que passavam pelo local, nove levavam na bagagem algum desses produtos. (Lyrian Saiki)
31 fazendas interditadas em São Paulo
Fiscais da Defesa Agropecuária de São Paulo começaram ontem a interditar 31 propriedades rurais em 24 municípios do Estado que receberam 1.660 animais provenientes do Paraná. São 808 bovinos, 793 suínos, 39 ovinos e 20 caprinos que entraram em São Paulo desde o dia 1.º de outubro e são considerados suspeitos de terem se contaminado com o vírus da febre aftosa. A medida, chamada de ?interdição de movimento?, visa a isolar os animais em quarentena: eles não podem ser retirados das propriedades, que também ficam proibidas de receber novos animais. De acordo com assessoria da Secretaria da Agricultura, os técnicos não haviam encontrado, até o final da tarde, nenhum animal com os sintomas da febre aftosa. Mesmo assim, todos os bovinos monitorados estão sendo vacinados contra a doença.
Proibição
O governo paulista anunciou que está proibida, a partir de hoje e por tempo indeterminado, a participação e a concentração de animais suscetíveis à febre aftosa em feiras, leilões e rodeios no estado. Os eventos que estão em vigor serão monitorados até o final pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) da Secretaria de Agricultura. O governo paulista autorizou ainda a antecipação para amanhã do começo da segunda etapa de vacinação contra febre aftosa no estado, que deveria começar apenas em 1.º de novembro. O final da campanha será no dia 30 do próximo mês, como previsto.
O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura, publicou uma nova portaria proibindo a realização de eventos pecuários (feiras, leilões e exposições) no período compreendido entre os dias 30 de outubro e 20 de novembro. Com a medida, 500 remates deixarão de ser realizados. ?Queremos evitar aglomeração de animais e o risco de contágio, a exemplo do que aconteceu no Paraná?, explicou o diretor-geral do Instituto, Altino Rodrigues Neto.
Liminar impede abate de animais da ExpoToledo
O juiz de direito da 1.ª Vara Cível da Comarca de Toledo (PR), Eugênio Giongo, concedeu ontem liminar impedindo o abate de animais da empresa agropecuária Quilombo Empreendimentos e Participações Ltda que participaram da ExpoToledo. A feira foi encerrada no dia 10 de outubro no estado do Paraná, onde existe suspeita de foco de febre aftosa. De acordo com a decisão da Justiça, o abate só poderá ser feito caso seja confirmado por exame laboratoriais. A empresa levou para a exposição 28 fêmeas da raça nelore, que estavam na propriedade em São Paulo. As matrizes ficaram retidas no parque de exposições depois do término do evento por determinação da Secretaria do Estado da Agricultura e Abastecimento. Segundo a Quilombo, os animais da fazenda são vacinados quatro vezes ao ano. A medida foi tomada para evitar que bovinos sejam abatidos sem necessidade, já que os exemplares que participam de exposições têm alto valor genético e econômico.