Elas somam cerca de 4 mil empresas no Paraná – aproximadamente 70% delas de micro e pequeno porte, com até 20 funcionários – empregam 75 mil pessoas, produzem cerca de 358 milhões de peças por ano e venderam, em 2006, US$ 902 milhões.
Estamos falando da indústria têxtil e do vestuário do Paraná, que está tentando deixar para trás a imagem de produtor em massa para conquistar um novo status: o de centro de referência em moda, como é hoje São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
?O objetivo é caracterizar o Paraná como produtor de moda, que desenvolve coleções, explora tendências?, apontou o consultor do Sebrae-PR (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná), Edvaldo Pires Correia.
Em linhas gerais, a idéia é que a Moda Paraná se torne referência no resto do País. ?Os produtos do Paraná são reconhecidos pela excelente qualidade. O problema é que existem muitas empresas que apenas fornecem para grifes de outros estados, não criam nada. Estamos trabalhando para mudar esta imagem de Estado fabril, que produz em massa?, explicou Correia.
?Antes, a gente trabalhava a competitividade, a produção da empresa, mas há cerca de dois anos percebemos que só isso não era suficiente. O setor tinha que se adequar para sobreviver.?
Correia lembrou que muitas empresas de confecções fecharam as portas na década de 90, quando houve a abertura comercial no governo Collor. ?Muitas não estavam preparadas. Quando houve a abertura, o impacto foi grande.? Nos últimos anos, porém, o número de indústrias de confecções no Paraná tem se mantido.
?Há muita procura, mas a barreira de entrada é a carga tributária?, apontou, acrescentando que a carga tributária do setor é de 38%, mas chega a 72% se somados os encargos sociais.
Outro desafio é a forte concorrência de países como a China, Índia, Paquistão. ?A China, por exemplo, entrou com tudo, melhorou a qualidade de seus produtos e está com preço bem abaixo do nosso. A gente vendia para a Argentina, mas a China abocanhou o mercado?, comentou.
Mão-de-obra
A falta de mão-de-obra qualificada é outro problema que afeta o setor do vestuário. ?Não há mão-de-obra suficiente. Faltam cursos, qualificação e as indústrias têm que buscar em outras regiões?, apontou o consultor do Sebrae-PR.
A reclamação é pertinente. Para a empresária Vera Regina Scheffer Zammar, dona da Schöffel?s, de Ponta Grossa, que atua na linha de moda feminina, o maior problema hoje é a falta de mão-de-obra especializada. ?Não há modelistas nem estilistas na cidade.
Também faltam costureiras, retistas, cortadeiras?, reclamou Vera, que além de administrar a pequena empresa de seis funcionários, ainda divide a função de estilista e modelista com a filha. No mercado de confecções há 20 anos, empresária diz que o setor passa por uma boa fase.
?Não vendemos tanto como na época da inflação, quando o giro era maior. Mas produzimos entre 800 e 1000 peças por mês e vendemos para quase todo o País?, comentou.
Para Sarita Geovanini Calado, gerente de atacado da Lucca -empresa de Londrina que também atua na moda feminina -, para driblar a concorrência é preciso muito mais do que oferecer qualidade. É necessário se diferenciar.
?Tem que personalizar o produto, agregar valor, acrescentar algum trabalho artesanal, enfim, fazer o que a China e a Coréia, por exemplo, não fazem.? Empregando 30 pessoas e produzindo cerca de 3 mil peças por mês, a Lucca está no mercado há 12 anos. ?Por enquanto, não pensamos em exportar. Não temos estrutura para isso. Nosso foco é ir para outras regiões no Brasil mesmo.?As duas empresas – Schöffel?s e Lucca – estarão participando do 35ºEncontro da Moda Feminina, em São Paulo, entre os dias 1º e 4 de julho. O evento deve reunir cerca de 120 expositores – sete deles do Paraná -, 10 mil lojistas e gerar aproximadamente R$ 15 milhões em negócios.
Política de desenvolvimento cria expectativas entre empresários
O lançamento da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), feito em maio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criou boas expectativas entre o empresariado do setor têxtil.
A esperança é que a política industrial específica, com foco nas particularidades dessa indústria, gere condições de atrair investimentos, fortalecer as confecções, aumentar a produção geral e inverter a balança comercial que está em déficit desde novembro de 2006.
?O setor têxtil e de confecção brasileiro é o sexto maior do mundo, responde por 30 mil empresas, emprega mais de 1,6 milhão de pessoas e registra faturamento de R$ 34 bilhões/ano. É uma indústria, no entanto, que tem enfrentado grandes desafios, como câmbio, carga tributária e concorrência asiática.
Temos esperança que este Plano que a ABDI e o MDIC estão construindo, com cronograma de implantação já neste ano, possa nos dar condições mais isonômicas de competitividade?, ressaltou Aguinaldo Diniz, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).