“Um mercado de qualidade, mas extremamente heterogêneo.” Essa foi uma das principais conclusões do consultor francês Jean Ives Rozé, convidado a conhecer a cadeia produtiva de carne bovina no Paraná. Durante 15 dias, Rozé visitou criadores, propriedades agrícolas, transportes, frigoríficos, supermercados e açougues do Estado. O objetivo era fazer uma espécie de raio-x da cadeia produtiva de carne no Estado. As considerações feitas pelo consultor deverão servir de baliza para melhorar a qualidade da carne bovina do Paraná.
“O que chamou a atenção foi a heterogeneidade geral dos locais visitados, da criação ao abate”, comentou Rozé, acrescentando que a diversidade não é vista com bons olhos. “Tem que se puxar pela qualidade geral, o que já existe de melhor”, afirmou. A qualidade da carne bovina é definida pela cor – vermelho vivo, corte limpo -, odor/sabor, maciez, teor de gordura e constância desses itens.
Rozé chamou a atenção ainda para questões relacionadas à sanidade, segurança e tributação. Segundo ele, em um supermercado de Curitiba foi constatado que, devido à cobrança de ICMS, era mais vantajoso comprar carnes em outros estados. “Não estou aqui para julgar, mas observei que há disparidade de taxas e impostos de um estado para outro.”
Para o consultor francês, é preciso ainda haver maior integração entre produtores e abatedores (frigoríficos). “Há um mercado concorrente entre indústria e produtores. Os produtores consideram que não vendem por um preço bom, enquanto os abatedores dizem que pagam caro”, afirmou. Segundo ele, o ideal é que se faça um levantamento de custos da produção à industrialização para que os lucros também sejam divididos.
Trabalho político
Para o técnico Rubens Niederheitmann, que está frente ao Grupo Qualidade da Carne – composto por várias entidades, entre elas a Faep – a integração entre criadores e abatedores é um trabalho político não-partidário. “O criador diz que não vai melhorar a qualidade da carne porque não vai ganhar mais por isso, já que existe uma tabela de preços. O abatedor também não se prontifica a pagar mais”, apontou. Para ele, a iniciativa em produzir carne de melhor qualidade – incluindo a seleção genética, alimentação – deve partir dos criadores. “Quando houver produtos de qualidade, poderá haver pressão para que se pague mais”, afirmou.
O rebanho bovino do Paraná conta atualmente com cerca de 10 milhões de cabeças, sendo 80% gado de corte -o oitavo maior rebanho brasileiro. A produção é de quase 500 mil toneladas por ano, sendo que menos de 10% é destinado à exportação. No primeiro semestre deste ano, o Estado exportou cerca de 18 mil toneladas de carne bovina, o que representou apenas 3,9% da exportação brasileira.