Os produtores rurais do Paraná podem perder R$ 1,6 bilhão na atual safra em virtude dos prêmios negativos no Porto de Paranaguá. Segundo estudo elaborado pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e pela Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), os produtores de soja estão perdendo R$ 8,20 por saca, o que representa R$ 410,00 por hectare. A área plantada de soja no Estado soma 3,9 milhões de hectares.
Por ser uma commoditie, o preço da soja tem como referencial a Bolsa de Chicago. “A esse preço, você soma ou diminui o prêmio e chega ao preço FOB do porto”, explica a economista Gilda Bozza Borges, do Departamento Técnico-Econômico da Faep. O prêmio é o valor negociado entre importadores e exportadores que precifica a situação regional do mercado de soja, levando em conta a qualidade do produto, origem, destino, frete marítimo, demanda e eficiência do porto. “Paranaguá sempre pagou melhores prêmios que os portos de Rio Grande (RS) e de Rosario (Argentina)”, destaca Gilda. Porém neste ano, os três estão apresentado prêmios negativos, sendo a maior queda a verificada em Paranaguá.
No início da safra, historicamente, os prêmios são negativos, em torno de US$ 0,10/bushel abaixo de Chicago. Porém, nesse ano, o prêmio em Paranaguá recuou, no dia 5 de março, para o valor recorde de US$ 1,30/bushel inferior ao da bolsa americana (US$ 47,70/ tonelada) – contra os recuos de US$ 0,90 em Rio Grande e US$ 0,81 em Rosario. A Bolsa de Chicago fechou contratos de soja para março a US$ 9,33/bushel, o que significa R$ 984,03 por tonelada. Descontando o prêmio negativo de R$ 136,80, o preço recebido em Paranaguá caiu para R$ 847,23/tonelada, o que significa 14% menos que na Bolsa de Chicago.
Na avaliação da economista da Faep, o prêmio negativo recorde de Paranaguá foi provocado pela insegurança dos importadores (tradings) quanto ao Porto. Além de questões logísticas, pesou também a polêmica dos transgênicos e a alta do frete marítimo com o aumento da demanda de navios para a China. Porém, como o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, existe demanda nesse momento de entrada da safra, já que a colheita americana só começa em setembro. “As tradings estão ausentes do mercado da América do Sul, mas vão ter que comprar”, avalia Gilda. Na última terça-feira, o prêmio negativo em Paranaguá já diminuiu para US$ 1,10/bushel. Enquanto isso, a cotação de Chicago atingiu US$ 20,58, o maior preço dos últimos quinze anos, 55% acima da média histórica de US$ 13,22. “Pode ser um esquema para forçar preços mais baixos”, comenta a economista.
Infra-estrutura
Estudo realizado por entidades usuárias do Porto de Paranaguá (Faep, Ocepar, Fiep, Fecomércio) calculou em R$ 188 milhões o montante de investimentos federais prioritários no local. “Há 20 anos, Paranaguá exportava 2 milhões de toneladas, ano passado foram 11 milhões de toneladas. O tamanho do Porto é exatamente o mesmo e o governo federal não pôs um tostão de investimento”, afirma o engenheiro agrônomo e economista Nilson Hanke Camargo, do Departamento Técnico-Econômico da Faep.
Entre as obras prioritárias elencadas pelas entidades, estão: aumento do cais, melhora da navegabilidade, ampliação da baía de evolução e melhora dos berços de atracação. “Para os importadores, é um risco grande saber que tem navios que precisam esperar a maré encher para terminar de carregar, por isso o prêmio é negativo”, considera Camargo.
Além da melhoria na infra-estrutura marítima, ele também aponta a necessidade de investimentos na infra-estrutura portuária. “É preciso melhorar a condição de armazenagem, com pelo menos mais um armazém para desafogar as operações. Há muito tempo não se faz investimento nos equipamentos de transporte de grãos para os navios, só manutenção. Além disso, há necessidade de ampliação das correias e melhoria dos motores. As vias de acesso ao porto e ao pátio de triagem dos caminhões são uma vergonha. Tudo isso faz o prestígio portuário de Paranaguá baixar e o prêmio cair”, relata.
Appa atribui situação ao custo de espera e milho
A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) atribui os prêmios negativos recordes do porto paranaense ao custo de espera dos navios (demurrage), que triplicou de US$ 10 mil para US$ 30 mil na virada do ano, aliado à movimentação atípica de milho – cujos embarques somam 1,3 milhão de toneladas em 2004 contra 121,9 mil toneladas no mesmo período de 2003. “Paranaguá é o porto que mais movimenta soja no País, por isso é o lugar onde mais vai se pagar demurrage”, cita o diretor técnico da Appa, Ogarito Linhares, acrescentando que o crescimento expressivo nas exportações de milho aumentou o tempo de espera dos navios de soja. Hoje, o tempo médio para carregar soja é de 24 dias.
Linhares salienta que, no ano passado, os prêmios de todos os portos brasileiros estavam ao redor de zero “porque os fretes marítimos vinham se mantendo constantes durante muitos anos”. Em Paranaguá, o prêmio era positivo em 0,02%. Porém nesse início de ano a alta demanda de navios na China reduziu a oferta de navios no mundo, provocando a elevação da estadia. “É uma forma do comprador se resguardar em relação ao novo custo de espera dos navios”, destaca o diretor técnico da Appa.
Segundo Linhares, a restrição ao embarque de soja transgênica não influenciou no prêmio negativo. “O prêmio negativo subiu mesmo nos portos onde os transgênicos estão liberados. O valor está vinculado estritamente ao aumento do custo da estadia do navio”, pondera. À medida que ocorra o escoamento do milho, reduzindo o tempo de espera para embarque da soja, a tendência é diminuir o prêmio negativo, aponta Linhares. “No pico da safra, a tendência é que os prêmios de todos os portos fiquem próximos”. Neste mês, está previsto o embarque de 485 mil toneladas de milho e 775,9 mil toneladas de soja. Dos 30 navios ao largo, 14 esperam o carregamento de soja.
Em relação à infra-estrutura, Linhares ressalta que há investimentos em andamento. Além dos aportes da iniciativa privada em armazéns, está sendo preparado o edital para licitação da construção do cais oeste, com preço máximo de R$ 148 milhões. Composta por três novos berços de atracação, a obra, em parceria com o governo federal, deve começar ainda este ano. Outro investimento já definido é a pavimentação em concreto dos 25 quilômetros de vias de acesso ao Porto. A obra, que será feita com recursos da Appa, está avaliada em R$ 21 milhões.
