Paraná oficialmente livre da febre aftosa

Assunto encerrado. É assim que o Ministério da Agricultura e a Secretaria de Agricultura do Paraná preferem tratar a polêmica da febre aftosa no Estado. Ontem, o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, veio a Curitiba para divulgar que foram suspensas todas as restrições sanitárias feitas ao Paraná e que agora o trabalho será para tentar recuperar a credibilidade do Estado junto à Organização Internacional de Epizotias (OIE). 

Tanto o ministro como o secretário da Agricultura, Newton Pohl Ribas, quiseram insistentemente abafar o assunto, e se negaram a confirmar se o Paraná teve ou não casos de febre aftosa – mesmo as mais de 11 mil amostras de exames feitas no rebanho suspeito tendo apresentado resultado negativo. ?Temos que esquecer o passado e focar o futuro?, disse Ribas, sendo aplaudido por funcionários da secretaria que presenciaram o anúncio. A posição do secretário foi acompanhada por representantes de entidades que estavam com o ministro, como o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Alexandre Lopes Kireeff; o secretário de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Valter Bianchini; o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarnes-PR), Péricles Salazar; o delegado do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kovaleski; e o pecuarista André Carioba, dono da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, no norte do Estado, onde foram sacrificados 1.810 animais.

Através de um ?pacto de cavalheiros?, eles não queriam constranger o ministro, que veio, por coincidência, doze dias antes das eleições fazer o anúncio que o Paraná está livre da febre aftosa. ?Fizemos um trabalho profissional e pretendemos agora liberar o Paraná para retornar ao mundo das carnes?, disse o secretário antes de sair bruscamente de uma entrevista coletiva com a imprensa. Segundo Ribas, a secretaria apresentou ao ministério, no início deste mês, o relatório final das técnicas de saneamento, bem como as medidas de emergências sanitárias adotadas até hoje, e que garantiram ao Paraná a suspensão das restrições. O ministro teria se comprometido a vir ao Estado fazer o anúncio.

Sem aftosa

Em um breve relato feito pelo secretário, ele confirmou que no dia 21 de outubro do ano passado a secretaria notificou o Ministério da Agricultura sobre a suspeita de animais que estiveram em contato com um rebanho vindo de regiões onde existiam focos da doença no Mato Grosso do Sul. Isso teria acontecido durante a realização de uma feira agropecuária. A notificação foi uma decisão tomada em conjunto com o Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa), disse Ribas, acrescentando que também foram comunicados os estados vizinhos sobre essa suspeita. ?Como técnicos que somos, fizemos o que diz o regulamento do IOE e do Plano Nacional de Defesa e Combate de Febre Aftosa?, comentou.

Embora o secretário tenha feito questão de abafar o assunto, desde esse anúncio se estabeleceu uma batalha entre o ministério e a secretaria, já que nunca foi confirmado nenhum caso da doença no Paraná. Passados cerca de um ano do imbróglio, Ribas confirmou que foram sacrificados 6.781 animais, e coletadas 11.935 amostras para exames laboratoriais, tanto em propriedades suspeitas como em outras distantes num raio de 10 quilômetros. Todos deram negativos.

Indústria perdeu R$ 600 milhões

A indústria paranaense de carnes perdeu mais de R$ 600 milhões só em exportações. Esse prejuízo, disse o presidente do Sindicarnes, Péricles Salazar, não tem como ser recuperado. Ele se esquivou em confirmar se as indústrias pretendem cobrar isso na Justiça. Já o pecuarista André Carioba confirmou que segue com uma ação na Justiça pedindo indenizações. Segundo ele, os valores pagos pelo ministério referentes ao abate dos 1810 animais da sua propriedade ficaram muito abaixo do preço real. ?Na época a arroba do boi estava cotada em R$ 60, mas com o anúncio da aftosa, isso caiu para R$ 45?, disse. Segundo ele, apesar das atividades terem sido retomadas, não acredita que a curto prazo poderá recuperar o plantel abatido.

Ministro levará documentos à OIE

O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, se comprometeu a levar à OIE, daqui a duas semanas, a documentação em que as autoridades brasileiras reconhecem o Paraná como área livre de aftosa. Segundo ele, os membros da entidade internacional se reúnem em dezembro e março, e caso o assunto não seja tratado ainda este ano, pretendem solicitar uma reunião extraordinária. No entanto, Guedes disse que a retomada das exportações da carne vai depender de decisão dos países importadores. As negociações só devem voltar a ocorrer a partir de março.

?Nós tivemos dúvidas sobre o foco no Paraná e não poderíamos ficar com a suspeita?, disse o ministro. ?Nosso objetivo era declarar com segurança que o Estado estava livre da aftosa?. Ele disse que o ministério gastou R$ 4,7 milhões só com as indenizações no Paraná. Guedes confirmou que existe uma missão do ministério no Japão, que deve tratar também da reabertura do mercado de carnes para esse país.

Apesar da liberação do Paraná, o ministro garantiu que o mesmo tratamento não está sendo dado ao Mato Grosso do Sul, onde continuam as restrições sanitárias.

Segundo ele, a sanidade precisa ser tratada de forma continental, pois o Brasil possui 13 mil quilômetros de fronteira com outros países. Foi por isso que o ministério defendeu que a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), para a América Latina, e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) implementem ações sanitárias para o controle de pragas e doenças nas fronteiras. Como tarefa de casa, o ministro anunciou a ampliação de R$ 160 milhões para R$ 195 milhões dos recursos para a defesa sanitária, além da abertura para concurso de 390 fiscais agropecuários.

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