O Paraná está livre, novamente, da febre aftosa, mas com vacinação. O reconhecimento vai ser anunciado hoje, em Paris, durante a 76.ª Sessão Geral Plenária da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que ocorreu durante todo o fim de semana.
A notícia foi repassada no Brasil pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, que também comunicou que outros estados brasileiros foram reconhecidos como livres da doença, o que significa que o embargo dos países europeus à carne brasileira chegou ao fim.
Em Curitiba, o secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Valter Bianchini, disse que com a retomada do status livre de aftosa o Paraná deverá voltar a exportar a quantidade de carne bovina que exportava em 2004, antes do embargo: cerca de 40 mil toneladas por ano.
Bianchini lembrou que o impacto das notícias dos focos de aftosa em 2005 e o conseqüente embargo da União Européia à carne brasileira foram muito negativos para o Paraná. Tanto que as exportações de carne bovina no Estado caíram para menos da metade, sendo que no ano passado não passaram de 11 mil toneladas.
?Foi um aprendizado doído. Agora, com a retomada do reconhecimento, vivemos um momento de ânimo. A retomada do mercado na Rússia também contribui para as perspectivas positivas?, afirmou o secretário. Ele lembrou que a suinocultura também terá um impacto positivo com a decisão da OIE. ?Em 2005, exportávamos 90 mil toneladas de suínos, mas no ano passado este número caiu para 70 mil. Queremos voltar ao patamar de 2005?, disse.
Além do Paraná, os outros estados que foram reconhecidos como livres de febre aftosa com vacinação são Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins, além do Distrito Federal. O Estado do Mato Grosso do Sul, onde foram detectados os primeiros focos da doença em 2005, ainda não foi reconhecido. A decisão sobre este estado deve ser tomada em julho.
Em Curitiba, as entidades ligadas ao setor comemoraram ontem. Porém, não foi possível falar no passo tão importante para o Paraná sem lembrar os maus momentos de 2005. O presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarnes), Péricles Salazar, disse que não vai ser fácil voltar à situação anterior a 2005. ?Nos últimos três anos, nossos contratos foram desfeitos, tivemos muitos problemas. Mas agora é retomar as vendas imediatamente. A indústria está pronta, a cadeia produtiva está pronta. Com o reconhecimento, temos o que faltava para exportar?, disse.
Será preciso recuperar mercado
O Paraná é responsável por 2% de toda a carne exportada pelo Brasil. Vende para a Rússia e a União Européia, além do Egito, que também é outro grande comprador da carne brasileira. O Paraná possui quatro plantas liberadas para exportações para a Rússia.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, porém, evitou falar ontem em ganhos para o País com a retomada das exportações. Segundo ele, o mercado está muito aquecido e há riscos de falta de bois. ?Não tem ganhos financeiros no momento, por uma razão muito simples. A demanda está tão aquecida em nível mundial que, daqui a pouco, não teremos mais boi para exportar. Mas isso nos dá perspectivas a médio e longo prazos, porque a nossa produção de carne está aumentando?, disse. Mesmo com a crise, o Brasil manteve-se na posição de líder mundial em exportações de carne.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarnes), Péricles Salazar, disse que este perigo não ocorre no Paraná. ?Não temos esse problema, produzimos muito e não exportamos nem 15% do que produzimos por ano?, contou. O Paraná está em 7.º lugar no ranking dos estados que mais exportam carne bovina.
Adiamento no abate dos animais prolongou agonia dos criadores
Em 2005, o Paraná começou a viver um pesadelo no setor pecuário. Embora o governo do Estado não tenha admitido os focos e tenha adiado várias vezes o abate dos animais que estariam contaminados, o Ministério da Agricultura confirmava que a doença estava presente no Estado. Um impasse se formou e o resultado foi o embargo à carne de dez estados brasileiros, provocando uma queda nas exportações que chegou a mais de 50% no Paraná.
Para o diretor executivo do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária no Paraná e também representante da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Ronei Volpi, não é possível avaliar sobre quem errou naquela época. ?Houve uma falha coletiva, se afrouxou o combate à aftosa. Mas é preciso salientar que a questão de sanidade animal não é apenas do Estado. Tanto a iniciativa privada como a pública, além dos produtores, devem estar atentos a isso?, comentou. Ele disse que o reconhecimento é muito importante para o Paraná. ?Reconquistar este status é mais difícil do que conseguí-lo pela primeira vez. Então agora vamos conseguir reabrir as portas para o mercado internacional?, afirmou.
O secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Valter Bianchini, disse que agora é hora de intensificar ainda mais o trabalho integrado que vem sendo realizado junto a outros estados, principalmente nas fronteiras, para que o Paraná se mantenha na posição positiva. ?Cooperativas, indústrias, Estado, todos devem trabalhar articulados. É o que estamos fazendo desde 2005, quando contratamos cerca de 150 técnicos e temos um fundo para emergências?, disse.
